terça-feira, 28 de julho de 2015

Viagem a Marrocos - dias 6 e 7

(onde descobrimos uma cidade labiríntica)

 
 
Depois da experiência com a camioneta, decidimos mudar de transporte público, na esperança de que as seis horas de viagem entre El Jadida e Fez fossem mais agradáveis. Rapidamente percebemos que andar de comboio em Marrocos também é toda uma aventura. Éramos oito num compartimento minúsculo, sem ar condicionado. Mais uma bebé. O problema é que as nossas companheiras de viagem eram todas muito avantajadas e sentavam-se... como dizer? Vá... sentavam-se muito à-vontade nos bancos estreitos. O Diogo e eu, como íamos do lado da janela, ainda nos safámos. Bom, o Diogo não se safou lá muito bem. Parece que os únicos três dentes amarelos da senhora muito vetusta o impressionaram bastante. O meu amor e o Vasco foram uns corajosos. Nunca os ouvi reclamar, embora o meu amor quase levasse a velhota desdentada ao colo e o Vasco estivesse sempre a cair do banco abaixo, empurrado pelas largas ancas da mãe da bebé. Já agora é de referir que esta criatura simpatiquíssima correu os colos todos do compartimento apinhado e acabou por seguir viagem repimpada na mesinha que estava colada à janela. O único problema é que a bebé não devia ter mais de sete meses e, de vez em quando, lá se deixava cair para trás. Era isso e os solavancos frequentes do comboio, que provocavam gritos aflitos no mulherio que corria a deitar a mão à criatura. Acho que não houve ninguém ali dentro que não tenha apanhado a miúda em queda-livre umas cinco vezes. Foi completamente impossível dormir, porque estávamos sempre a ser acordados por esta gritaria. E pela conversa bem-disposta das quatro senhoras que, embora tivessem acabado de se conhecer, falaram durante seis horas sem parar como se fossem velhas amigas.
 
Chegámos a Fez no final do dia exaustos. O calor era sufocante. Tinham estado 46 graus e o chão ainda parecia arder debaixo dos nossos pés. Apanhámos um táxi para a parte velha da cidade, que nos deixou numa das treze portas. A cidadela é tão labiríntica, com ruelas tão estreitinhas e escuras, que é impossível entrarem lá carros. Tivemos de pagar a um rapaz para nos mostrar o caminho até ao hotel. Para nos mostrar o caminho, é como quem diz... fomos totalmente incapazes de o reproduzir depois, quando nos decidimos aventurar sozinhos ao cair da noite, para desmoer o jantar copioso. Subimos, descemos. Virámos à direita e à esquerda. E à direita outra vez. Percorremos ruelas que nos pareciam todas iguais. Um verdadeiro labirinto que, confesso, me assustou um bocadinho. Talvez o facto de estarem constantemente a aparecer indivíduos de aspecto duvidoso não tenha ajudado. Ofereceram droga ao meu amor um cento de vezes, apesar de ele levar a nossa coisa pequena firmemente pela mão.
 
Na manhã seguinte, decidimos não arriscar. Pela primeira vez, contratámos um guia oficial para nos mostrar a parte antiga de Fez. Valeu cada dihram que lhe pagámos. O homem destilava história. Em três horas, vimos museus e souks e mesquitas e madrasas (acho que é assim que se chamam em português as antigas escolas para aprender o Corão). Uma arquitectura lindíssima. Bebemos litros de água, como sempre. Mas devemos ter transpirado o dobro, não sei como. Voltámos para o hotel à tarde como se tivéssemos apanhado uma sova, estafados. E de lá já não saímos até ao dia seguinte. Valeu-nos a simpatia dos empregados, o jantar delicioso que nos prepararam, o terraço com uma vista de tirar o fôlego sobre Fez. Os miúdos deitaram-se cedo. Nós acabámos a noite a namorar naquele terraço, a ver estrelas cadentes. Foi um momento mágico.

3 comentários:

  1. Bolas, aventura não tem mesmo faltado nessa viagem!

    Por isso, será um acontecimento memorável na tua vida, dos teus filhos e do teu amor!

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  2. E as escolas onde ensinam o Corão em português são madrasas ;)

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  3. A ideia inicial era mesmo partirmos... "à aventura"! ;)

    Obrigada, pela correcção, Naná!

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