terça-feira, 10 de dezembro de 2013

As prendas que eu lhes dou

(e as que nunca lhes darei)


Só dou prendas aos miúdos no Natal e nos aniversários, mais umas prendinhas na Páscoa e no Dia da Criança. E um ou outro brinquedo em segunda mão, se descobrirmos algum a bom preço numa venda de garagem. Se há coisa que nunca me aconteceu na vida foi entrar num hipermercado para comprar leite e sair de lá com um brinquedo ou um jogo. E como isto nunca aconteceu, os meus filhos sabem que não vale a pena pedincharem quando vamos às compras.

Os adultos queixam-se que as crianças já não dão valor a nada, que não sabem esperar por um brinquedo, que não têm noção nenhuma de quanto custa a vida… Mas, depois, enchem os filhos de prendas todos os meses: brinquedos, jogos, consolas. Eu não percebo. Juro que não percebo. Nem sequer é o preço que está aqui em causa. É o princípio. Como é que uma criança pode dar valor a algo que não desejou, que não namorou, que não esperou para ter? Como é que uma criança pode dar valor a uma coisa que recebeu mal pediu? E quem diz criança, diz adolescente. Nós entramos muitas vezes nas lojas de brinquedos só para ver… com os olhos e com as mãos, claro. É assim uma espécie de sonhar acordado, que faz bem à alma.

Os meus filhos sabem perfeitamente que tipo de prenda me podem pedir. Sabem que não sou mãe para dar 75 euros por um jogo que acabou de sair para a Wii. Mas sou mãe para palmilhar lojas e sites em segunda mão para tentar encontrar a penúltima versão. Não sou mãe para dar 149 euros por uns Legos do Star Wars. Mas sou mãe para correr tudo à procura da versão Star Wars do jogo de sociedade “Risco”. Os meus filhos sabem que escusam de pedir coisas da moda, coisas que acabaram de sair, coisas caríssimas, coisas que aparecem inflaccionadas nos catálogos de Natal, porque eu não entro nesse tipo de consumismo. Recuso-me a comprar coisas que, uma semana depois, estão esquecidas a um canto porque passaram de moda.

Eu gosto de lhes dar prendas que tenham a ver com eles, que os surpreendam. Muitas prendas. Normalmente, são coisas que nem sequer se lembraram de pedir, mas que eu sei que vão gostar. Também aproveito para lhes comprar coisas que estejam a precisar. Não têm de ser necessariamente novas, desde que sejam novas para eles. Compro sempre muitos livros em segunda mão. E Cd’s. Uma touca para a natação. Jogos. Uma máquina para fazer gauffres. Um estojo novo. Uma bomba para encher os pneus da bicicleta. Doces. Um quebra-cabeças. Plasticinas, pinturas, barro. Uma caneta de tinta permanente. Um brinquedo fora do vulgar. Uma máquina para fazer algodão-doce. As primeiras três temporadas do “Criminal Minds”. Uns ténis com luzes.

O Diogo já está habituado à catapulta de prendas disparatadas e farta-se de rir. Aliás, quando lhe perguntei o que queria para o Natal, respondeu logo: “Uma das tuas ideias”. Malucas, subentenda-se. À família, vai pedir dinheiro para comprar uma Playstation 3. Em segunda mão, obviamente, que ele é filho de sua mãe. O Vasco tem gostos mais sofisticados e pediu um violino que custa perto de mil euros. É um sonhador, está visto. Mas eu não desisto, isto com o tempo vai lá…

Eis uma das prendas que recebeu nos anos: aulas de esgrima. As lutas com sabres de luz vão começar a ter outro estilo!
 
 

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