sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Um pé e depois o outro

(quando a sincronia da vida entra em acção

para nos mostrar o que é verdadeiramente importante)


 

Esqueci-me que a data limite para entregar o meu artigo para o número de Dezembro da revista terminava esta semana. E tinham acabado de me pedir para traduzir um texto em chinês (não é, mas é como se fosse) sobre uma nova experiência com ratos trissómicos em Espanha.

Ouço vozes animadas no corredor. Gritos. Palmas. Muitos risos. E uma bola a bater na porta do meu escritório. Uma vez. Outra vez. E mais outra.

Sinto crescer em mim uma raiva surda. Aumentei o volume da música. “As ideias estão no chão/Você tropeça e acha a solução”, cantavam os Titãs. Não… nem por isso.

De repente, batem à porta. “Rita, anda cá ver isto!”. Nem tive tempo de me levantar, a porta escancara-se. Vejo um menino com um sorriso enorme estampado na cara. Devia ter uns três anos. Olha para mim e diz: “Un piedpuis, l’autre pied! Un piedpuis, l’autre pied!”. E avança, meio titubeante, ao som desta ladainha. Vê-se que é uma atitude consciente, que exige um esforço concertado entre a cabeça, o tronco e os membros. Atrás dele, a mãe ria. As técnicas riam. “O Nathan aprendeu a andar!”, anunciam-me.

Ri-me. Afinal, os Titãs tinham razão.

2 comentários:

  1. Olá! É só para saber como estão as coisas por aí? Espero que esteja tudo bem e que o meu postal para o Vasco já tenha chegado. Beijinhos, Célia (Castelo Branco)

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    1. Já chegou o seu postal, sim, senhora! Muito obrigada, Célia! Amanhã é o grande dia da "abertura dos postais"... ;)

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