segunda-feira, 7 de abril de 2014

Coração pequenino

(porque é melhor não subestimar os medos de uma mãe)


Nas férias escolares, os meus filhos apanham o avião para irem ter com o pai a Portugal. E eu despeço-me sempre deles com o coração apertado. Pequenino. Por mais que o tempo passe, não me consigo habituar.

Sinto um nó na garganta quando os vejo partir, assim, sozinhos. Mala numa mão e cartão de embarque na outra, como gente grande. O Vasco vai sempre acompanhado por uma hospedeira de bordo, mas não é por isso que fico mais descansada. Principalmente desde que o mandaram ir sozinho à casa de banho, no caótico aeroporto de Madrid, quando ele tinha apenas 5 anos. Não esquecer que a coisa pequena é um artista da fuga. Um segundo de distracção e ele desaparece como que por magia. Tenho medo que um dia me liguem a dizer que foi parar a Timbuktu por engano.

Em relação ao Diogo as coisas também não são simples. Se dependesse de mim, ele ainda viajava acompanhado. Sem dúvida que é um miúdo desenrascado, maduro para a idade. Mas eu bem vi o olhar de medo no último voo para Lisboa, quando uma tempestade se abateu sobre nós durante quase duas horas e o avião falhou a aterragem. É precisamente nesses momentos que os 12 anos reais vêm ao de cima. Já para não falar do facto de depender sempre da boa vontade da tripulação para o levarem a reboque do irmão. Quando voltaram das últimas férias grandes, o funcionário do aeroporto de Bruxelas que os foi buscar ao avião recusou-se a assumir a responsabilidade de transportar no autocarro um miúdo que não estava incluído no grupo. Todos os outros passageiros já tinham partido e os miúdos acompanhados continuavam sem poder sair, enquanto a tripulação da Ibéria discutia com o belga cioso das suas responsabilidades. Achei que ia assistir a um motim de pais à medida que o tempo passava e os miúdos não apareciam. Claro que, quando finalmente apareceu, o dito funcionário se apressou a explicar-lhes que eu era a culpada do atraso. E da fome no terceiro mundo. Da destruição da camada de ozono. Da crise económica mundial.
 
Apesar de tudo, despeço-me deles com um falso sorriso de orelha a orelha. E um descontraído: “Se se lembrarem, liguem à mãe quando chegarem”. Fico a vê-los desaparecer no corredor acenando alegremente. E, depois, fixo o olhar no avião até o perder na imensidão do céu. A sensação de mal-estar aumenta. Saio sempre do aeroporto com o coração pequenino. Custa-me vir embora sozinha. Parece que me falta algo. O problema é que esse algo que me falta está entregue nas mãos estranhos.

3 comentários:

  1. Deve custar umas coisas valentes, sim senhora. Coração de mãe nunca pode estar de folga, que coisa :)

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  2. O mais triste é que quando a mãe está de folga, o coração trabalha ainda mais...

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  3. juro que não sei se seria capaz de aguentar tal provação...

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