quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Ganhar o dia

(porque do turbilhão adolescente, às vezes, emerge um ser adulto)


Estava a regar as plantas, quando o Diogo reparou num vaso novo e me perguntou de onde é que aquilo tinha vindo. Expliquei que tinha trazido do trabalho. Que estavam a renovar os gabinetes e que iam deitar a planta fora. E que tive pena, porque até era bem bonita. Riu-se e comentou que eu aproveitava tudo. Mas é que era mesmo tudo. Divertido, pôs-se a enumerar as coisas todas que eu já trouxe do meu trabalho… Um dos móveis recuperados da sala. As nossas fichas triplas. O candeeiro da secretária do Vasco. Uma cadeira antiga. Concordei. Nem sequer perdi tempo com grandes teorias sobre a arte do relooking ou do DIY, que fazem com que o reaproveitamento pareça uma cena em voga cheia de estilo. Lembrei-o de que, quando aqui chegámos, não tínhamos nada. Nada de nada. Em dois anos e meio, temos uma casa de quatro andares mobilada. Ele continuava a rir. “Mobilada com coisas apanhadas no lixo.” Certo… mas um lixo internacional, caraças. Desencantámos móveis na Bélgica, na Alemanha e na Holanda. Fora tudo aquilo que nos foi generosamente oferecido pela família, amigos, vizinhos e até gente estranha. Os móveis que descobrimos em feiras, ferros-velhos e vendas de garagem. Um bric-à-brac a quem oferecemos uma vida nova. Uma segunda oportunidade. Tal como nós, acrescentei. Nós também estamos a viver uma segunda vida, que construímos do zero. Esta casa foi feita aos poucos, à nossa imagem.

De repente, o Diogo largou novamente a rir. Eu continuava absorta nas minhas lembranças e não percebi. Ele apontou para a botija de água quente do Vasco com que eu estava a regar as plantas. “Até a água fria da botija aproveitas, mãe!” Sorri. E disse-lhe que achava que o mundo seria um lugar muito melhor se as pessoas tentassem aproveitar o que as outras já não querem. A quantidade de lixo que se evitava… Ele aproximou-se, desengonçado, e abraçou-me. Disse-me que o mundo seria um lugar muito melhor se houvesse mais pessoas como eu. Fiquei de coração cheio.

4 comentários:

  1. E ele tem toda a razão!

    Aliás, seria um desperdício de água... que é um bem extremamente essencial!

    Tomara mesmo que muitos fossem como tu.

    Os meus pais faziam isso, e na altura eu não achava graça nenhuma. Hoje em dia, vejo que eles é que estavam certíssimos!

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  2. :) sem mais comentários
    Aproveito para vos desejar um Feliz Natal e que o ano de 2015 seja repelto de Saúde, Paz e muitos momentos felizes.

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  3. Obrigada, Isabel. Boas festas!!! Tudo de bom para 2015!!! Beijinhos.

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