sexta-feira, 3 de julho de 2015

Construir novas memórias

(porque afinal as férias também servem para isto)


 

Hoje, com um sorriso perverso, o filho grande recordou-me que a última vez que tínhamos estado na praia eu ainda lhe conseguia fazer amonas. Agora, era capaz de ser um bocadinho mais complicado…

E, de repente, a realidade apanhou-me. Ali, no meio do lago. Voltou a apanhar-me. Às vezes, ainda me acontece isto. Ficar momentaneamente parada no limbo da memória. Ter a percepção exacta do tempo que passa. Construir esta nova vida tem exigido tanto de mim que nem sempre consigo traduzir as nossas vivências em semanas, meses, anos. O Diogo já tem mais 20 cm do que eu. E faz questão de os mostrar. Aquele filho que os meus olhos passaram o dia à procura no areal já tem tamanho de homem. Há três anos que não íamos à praia juntos, no Verão. Estávamos a precisar de actualizar as nossas memórias à imagem do nosso tamanho real.

No outro dia, passou-se o mesmo no meio do trânsito. Estávamos parados num sinal e o Vasco começou a fazer-me perguntas sobre os nossos primeiros tempos aqui, na Bélgica. Já não se lembrava de tanta coisa! E novamente aquele choque de confronto com a realidade. Quando deixámos Portugal, o meu filho pequeno tinha apenas cinco anos. Era um bebé grande. Agora, vai para o quarto ano. É um rapazinho crescido. Tem oito anos de memórias maioritariamente construídas neste país, nesta nossa nova vida… cujos primórdios sente necessidade de recordar.

As férias também servem para isto. Para recordar o passado e cristalizá-lo numa determinada fase da nossa história de vida. Para dar sentido e arquivar recordações. Para encerrar capítulos e começar novas histórias. Para construir novas memórias. Para nos forjarmos enquanto família. A mãe e os seus filhos. Uma mãe que amadureceu, dois filhos que cresceram imenso. Todos nós precisávamos de novas memórias, novas fotografias para ilustrar a nossa vida presentemente.
 
 




 

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