quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Dia mãe-filho

(porque ontem descemos à cidade a dois)



O Diogo e eu sempre tivemos um “dia mãe-filho”. Não me lembro bem como é que este dia surgiu, mas sei que foi muito antes do nascimento do Vasco. São momentos privilegiados a dois. Não é preciso fazermos nada de especial, basta estarmos juntos. Longe da rotina habitual. Sem horários, nem obrigações. É um tempo para falarmos de coisas sérias e de coisa nenhuma. Para rirmos. Para nos mimarmos. Para cuidarmos desta nossa relação mãe-filho, que vai crescendo com o Diogo. Uma relação que amadureceu muito com a entrada do filho crescido na adolescência. Às vezes, sinto necessidade de fazer uma espécie de ponto de situação. Nem sempre os ouvidos que o ouvem lhe conseguem prestar a atenção merecida… no meio dos trabalhos que acumulo, da traquinice do irmão, das horas de estudo, das idas e vindas das actividades e do jantar que está ao lume. Por isso, é bom parar para o ouvir com ouvidos de gente. Para olhar para ele com olhos de ver. Há quem faça risquinhos na parede para assinalar o crescimento das crianças, eu faço regularmente o “dia mãe-filho”. A única diferença é que o encosto a mim e faço um risquinho no coração.

Entretanto, apareceu a coisa pequena. O conceito alargou-se. Passámos a ter o “dia mãe-filho grande” e o “dia mãe-filho pequeno”. Depois, apareceu o meu amor, que também exigiu ter momentos exclusivos. O Diogo chamou-lhe “le jour beau-père-beau-fils” e assim ficou, apesar de normalmente não durar um dia inteiro como os nossos. O meu amor não tem a minha paciência para andar a ver as lojas que mais lhes agradam, nem a coragem de almoçar num fast-food. Quase sempre, o dia dele é composto por passeios, experiências ou maluquices envoltas nalgum secretismo que me ultrapassa.

Ontem foi “dia mãe-filho grande”. Aproveitámos o Vasco ainda estar em aulas e o Diogo já ter acabado a sessão de exames, para passarmos algum tempo juntos. Fomos até Liège para ele fazer as compras de Natal. Gosto de aproveitar a viagem de carro para conversar. Fica a dica, porque nem sempre é fácil falar com um adolescente: dentro de um carro não dá para fugir ou arranjar pretextos para desviar a conversa. Desta vez, não foi preciso. Esteve duas horas a falar sem parar, enquanto ouvíamos Vivaldi. À ida, falou das aulas de órgão, a sua nova paixão; à vinda, da programação 2016 da Opéra Royal de Wallonie. Em Liège, passámos a tarde a ver lojas e demos uma voltinha pelo mercado de Natal. Todos os sítios eram motivo para tagarelar: os jogos que gosta, os livros que anda a ler, as séries preferidas, o estilo de roupa que agora lhe agrada. Os planos para o futuro. Só não comprou mais prendas para o Vasco, porque eu não deixei. É tão bom assistir ao crescimento desta relação de irmãos! De vez em quando, agarrava-se a mim a dizer o quanto me adora. A agradecer-me pelo dia, que estava a ser fantástico. E a lembrar-me que, no dia seguinte, tínhamos a antestreia do novo filme do Star Wars. E eu ria, feita parva. Porque gosto mesmo destes momentos a dois. Gosto de redescobrir este filho mutante. Porque tenho noção de que estas declarações de amor têm os dias contados. E tenciono aproveitá-las ao máximo.

6 comentários:

  1. Gostava de fazer o mesmo mas o máximo que consigo é, de vez em quando, ir levar só um deles à escola. Quando o fazemos, sabe-nos muito bem mesmo. O problema é que os dois padecem de mãezite extrema e nenhum está disposto a dispensar-me, só me deixam fugir para correr na floresta :)

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    1. É mais fácil quando eles já são crescidos e as actividades começam a ser diferentes. Mas olha que, por estranho de possa parecer, os ciúmes entre eles e a luta pelo território materno começaram há pouco tempo...

      PS: Se eu lhes dissesse que ia correr para a floresta, mandavam-me internar de certezinha! ;)

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  2. Eu comecei a fazer isso depois do filho pequeno aparecer, porque sei o quanto é importante para ele, mas principalmente para mim. Infelizmente gostava de ter mais oportunidades de o fazer...

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    1. Exacto, Naná... a questão é mesmo que isto também é importante para nós!

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  3. Tu és uma mãe fantástica e estás a educar dois homens bons!
    Mesmo que a adolescência os apanhe em toda a sua esplendorosa parvoíce, as bases estão lá e o hábito do mimo, do amor, também!
    God job, Ritinha, god job!
    ❤️

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