sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Um homem

(onde se percebe a importância das denominações)


 

Os bilhetes para a estreia do Star Wars, na quarta-feira passada, ficaram um bocadinho mais caros do que o esperado. Porque as criaturas estavam com fome antes do filme, durante o filme e depois do filme. Porque era preciso comprar um “pack Star Wars” pipocas e bebida para ter direito ao cartaz oficial. Porque o Chewbacca de peluche era mesmo amoroso. Porque fomos tirar uma fotografia no photomaton para marcar o dia pelo qual as criaturas esperaram tantoooos anos e o meu iPhone desapareceu para parte incerta, no meio disto tudo. Saiu barata a festa, portanto.

Ontem saí atrasada do trabalho. Chovia. Apanhei trânsito. A entrada da autoestrada estava cortada. E eu sem telemóvel para avisar alguém em casa. Cheguei à escola do Vasco já depois das 17h, pela primeira vez. Numa pilha de nervos, porque dali a pouco tinha de ir dar aula de Espanhol (é mais uma farra, mas pronto). Já estava escuro e não vi o Vasco. Uns miúdos começaram à procura dele. Que ainda há pouco ali estava. Que tinham estado a jogar à bola. Que parecia impossível ter desaparecido assim. Até que apareceu a educadora ao longe, que andava a apagar as luzes. Quando me viu feita barata tonta no recreio, gritou-me que o Vasco já se tinha ido embora. Senti-me desfalecer. Perguntei com quem. Só ouvi um qualquer-coisa-papa. Senti-me tonta. E fiquei ali especada, sem me conseguir mexer.

A educadora entretanto aproximou-se de mim. Pôs-me uma mão no ombro e repetiu meigamente “Il est parti avec son beau-papa”. Perguntei-lhe se tinha mesmo a certeza, ele não me tinha avisado que ia buscá-lo. Pois claro que não, eu não tinha telemóvel, lembrou-me ela. Aquilo é que era um homem! Que às 17h quando não me viu em casa percebeu que tinha havido um contratempo e foi a correr buscar o menino. Que homem! Recomecei a respirar normalmente. Disse-lhe que em nossa casa não usamos esse termo… beau-père. Ela riu-se. Que já tinha percebido. Que o Vasco lhe chama “mon Pascal”. Que é exactamente a mesma coisa. Que posso chamar-lhe o que quiser, mas é isso que ele é. Que homem!

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