domingo, 12 de fevereiro de 2017

A pessoa certa no momento certo

(porque há ocasiões em que é bom ter um pateta alegre por perto)



Na 6ª feira, o Vasco não teve escola. Eu tinha de trabalhar e o meu amor tinha aulas na faculdade. Embora, na Bélgica, ninguém leve os filhos para o trabalho, já estava a preparar-me para levar a coisa pequena comigo. Não seria a primeira vez. A sessão de exames em Saint-Joseph começa na próxima semana, pelo que ele poderia perfeitamente ficar sentado numa mesa a estudar. Com um bocadinho de sorte, seria um dia calmo na biblioteca. Mas, entretanto, o meu amor disse que os pais se tinham oferecido para ficar com o Vasco. Parece que a criatura se porta excepcionalmente bem quando lá está… apesar de eu ficar sempre cheia de medo que ele parta uma das muitas antiguidades expostas pela casa.

Tinha acabado de chegar ao trabalho, quando o meu amor liga a dizer que o tio tinha morrido subitamente. Ofereci-me de imediato para ir buscar o Vasco. A última coisa que alguém quer, numa situação dessas, é ter de tomar conta de uma criança. “Uma criança como o Vasco…”, frisei. Mas o Belga tinha outra opinião. Que não, que estava enganada. Que o Vasco era exactamente a pessoa certa, no momento certo. Que não podia imaginar melhor maneira de aligeirar o ambiente. De alegrar as pessoas que o rodeavam.

O dia em casa dos meus sogros foi pesado. Havia um corpo para reconhecer. Disposições que tinham impreterivelmente de ser tomadas. Familiares que deviam ser notificados. Mas houve tempo para estudar. E fazer crepes. E ver filmes. E brincar. E ler velhas BD. O meu amor diz que foi um dia alegre, apesar dos pesares. Acabaram por lá ficar a dormir. De manhã, o meu amor acordou com as gargalhadas que vinham da cozinha. Quando desceu, deparou-se com um espectáculo inédito. Filho pequeno, com um daqueles seus pijamas-babygrow vestido, animava as hostes. Numa casa onde as crianças nunca foram autorizadas a ir para a mesa naqueles preparos.

Coisa pequena voltou toda animada. Acho que nem se deu bem conta da tristeza que o rodeou. Trazia bolachas e chocolates, como sempre. Trazia um punhal antigo, vindo sabe-se lá de onde. Da última vez, tinha sido um pequeno sarcófago da Índia. Parece que, desta vez, conseguiu não fazer estragos. Os meus sogros agradeceram muito a presença “reconfortante”. O meu amor também. E uma pessoa fica a pensar que aquilo que torna o Vasco único (não no bom sentido, como diria o Diogo), pode fazer milagres num contexto totalmente diferente.



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