sexta-feira, 28 de abril de 2017

Da seitas

(onde o pensamento nos foge de imediato para os nossos)



Sabem aquela história dos pais que não vacinam os filhos? Uma pessoa pensa sempre que são os “outros”, gente algo estranha que certamente não faz parte do nosso círculo de amigos. É um daqueles problemas algo abstractos, que discutimos sempre no plano teórico. E, depois, recebemos um SMS aflito do nosso filho. Hoje há “visite médicale” lá na escola. E ele acabou de descobrir que a namorada não é vacinada. Que não toma medicamentos e só segue medicinas alternativas, já nós sabíamos. Do alto dos seus 15 anos, não sabe explicar porquê. São coisas de família. Não se questiona. E o melhor é nem sequer ouvir argumentos contrários. Filho grande está desde as 8h30 da manhã a mandar-me SMS. Alterna entre zangado, incrédulo, furioso, desamparado, consternado, preocupado. Não consegue aceitar, nem perceber. E eu não sei que lhe diga… Só penso naquela miúda de 17 anos que morreu há pouco tempo em Portugal. Gosto muito da Marie. Mas, depois, penso no meu. É automático.

O Diogo tinha um grave problema de imunidade, quando era criança. Passou a infância toda a repetir as chamadas doenças infantis que só se apanham uma vez. Lembro-me bem da varicela. Foram cinco vezes. E da escarlatina. Foram quatro. Mais o exantema súbito. A quinta doença… Perdi-lhes a conta. Foram tantas e tantas vezes nas urgências de um hospital a discutir com os médicos. Já conhecia de cor a sintomatologia, o diagnóstico e o tratamento. Sim, já tinha tido aquilo antes. Sim, era vacinado. Não, não era impossível. Pois claro que podia dar o número da pediatra, ligue lá para confirmar… No final da infância passou, parecia milagre. E eu fiquei sempre chateada com o facto de, no meio de tanta doença diferente repetida, o miúdo nunca ter apanhado papeira. Porque já se sabe que é extremamente perigoso um adolescente apanhar papeira. Mas, pronto, nesta idade o risco é bastante menor. Já todos receberam vacinas e reforços, certo? Excepto a Marie. Que até tem uma irmã mais nova na Primária e está mais exposta às doenças infantis, visto que os recreios das crianças dos 2 anos aos 12 são partilhados. Só tenho vontade de bater naqueles pais, a sério. Ainda bem que fui beber um café com eles há pouco tempo, agora duvido que me voltem a apanhar. Gente inconsciente, pá!

2 comentários:

  1. Aqui onde eu vivo há muitas famílias que não vacinam os filhos. Gente com quem me dou todos os dias e com quem os meus filhos brincam e estudam todos os dias. O mais novo teve tosse convulsa (praticamente não demos por nada, a não ser que a tosse era mais persistente mas ele sempre foi dado a tosses até lhe terem tirado os adenoides) há dois anos depois de uma colega não vacinada ter tido (e ter passado bastante pior do que o meu filho). E uma amiga chegada, não só não vacina as filhas, como não lhes dá antibiótico. Passaram recentemente por uma amigdalite bacteriana que decidiram não tratar com antibióticos. Esta semana esteve um dos meus filhos com amigdalite. Segundo descobri graças às muitas amigdalites bacterianas na infância da minha filha mais velha, há médicos que defendem que nos casos em que o doente não está especialmente mal, se pode esperar a que o corpo elimine a bactéria mas a não ser que o doente evite o contacto com o mundo, há sempre o inconveniente de contagiar quem está por perto. A minha filha passou por muitas amigdalites sem dor e praticamente sem febre mas mais de uma vez contagiou os irmãos ou os pais e nós sim, ficamos de rastos.
    Enfim, isto tudo para dizer que este tema da não vacinação dá-me muito que pensar. Eu até posso entender que haja gente que não se fia da industria farmacêutica, e nalguns componentes das vacinas etc e tal. E é verdade que está miúda da turma do meu filho teve já um pouco de tudo o que se tem na infância (a semana passada esteve precisamente com papeira) e a coisa tem sempre corrido bem mas a mim dá-me sempre que pensar...

    E a casa dos insectos parece-me sim senhora uma obra de arte.

    Helena

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    1. Acho que os pais só se dão ao luxo de não vacinar os filhos porque confiam totalmente no efeito de grupo, dado que 95% das outras crianças estão vacinadas. Se toda a gente deixasse de vacinar os filhos e as crianças começassem novamente a morrer com doenças infantis queria ver se não iam a correr vaciná-los. É uma atitude perfeitamente parasitária e egocêntrica.

      Outra situação completamente diferente é a administração de medicamentos, nomeadamente antibióticos. Na Bélgica, usam-se muito as medicinas alternativas e a verdade é que resulta. A medicina convencional é usada em último caso. Mas a Mutuelle disponibiliza um serviço gratuito de babysitting especializado para tomar conta de crianças doentes, caso os pais tenham de trabalhar. Ou seja, o Estado dá condições para que as crianças possam ficar resguardadas, enquanto o sistema imunitário age sozinho.

      Não sei se teria a paciência da Helena para me entrarem crianças não vacinadas doentes pela casa, quando os meus filhos eram pequenos...

      Um beijinho.

      PS: Obrigada pelo elogio, mas ainda me falta construir o "Grande Hotel"! :)

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