quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Extensão materna

(onde percebemos que somos literalmente unos com a força filhos)


Ontem foi a estreia do novo filme do Star Wars. Para não variar, em plena época de exames do Diogo. Depois de um dia gelado, em que a neve não deu tréguas. À tardinha, os miúdos estudavam. Eu estava enredada numa tradução (e numa mantinha). Confesso que fiquei feliz da vida quando, já mesmo em cima da hora, percebemos que os bilhetes de cinema tinha desaparecido para parte incerta. Foi a prenda de anos que o Diogo ofereceu ao irmão. Comprou-os há muitos meses atrás e foram connosco para Dublim, juntamente com as outras prendas todas. E cheira-me que devem ter ficado por lá, perdidos no meio dos papéis de embrulho que equilibrei com mestria no diminuto cesto do lixo do quarto de hotel. Infelizmente, filho crescido lembrou-se a tempo que podíamos mostrar os bilhetes digitais no iCoiso. E lá fomos nós para Liège. Eles numa excitação parva. E eu com espírito de sacrifício monumental.

Assim que se sentou na sala de cinema lotada, coisa pequena pôs os óculos 3D, atascou-se ao saco gigante de pipocas, chegou-se bem à frente e nunca mais ninguém a ouviu. Quer dizer, eu ouvi-o chorar imensas vezes ao longo daquelas longaaas horas. Filho crescido estava demasiado nervoso para comer e só conseguiu sorver litros de Coca-Cola que sabe estar proibido de beber. Mas, desta vez, não me pediu autorização, nem dinheiro. Atascou-se a mim, com agradecimentos melosos e uma cumplicidade emocionada que eu mostrei claramente que estava longe de sentir. Nada o demoveu. Nem mesmo o facto de lhe ter suplicado que se afastasse, porque o cheiro das hormonas adolescentes nervosas começou a dar-me cabo do sistema olfativo. O Diogo estava num daqueles seus momentos de mãezice aguda, misturados com uma alegria parva.

Quando os anúncios começaram, com dois ursos pardos muito apaixonados a velejar rumo ao infinito para vender não sei que produto, comentou logo que eram tal e qual o meu amor e eu. E repetiu pela enésima vez que eramos tãooo felizes. Grunhi que não. Que falasse por ele. Filho grande, imbuído da certeza do amor materno a toda a prova, respondeu-me a rir que sabia perfeitamente que eu estava a dizer aquilo “só para o estilo”, para me fazer de difícil. Insisti que não. Ele abraçou-me e suspirou: “Ó mãe, sei perfeitamente que estás feliz por estar aqui comigo a viver ISTO.” Pronto, tive de desistir. Percebi que o Diogo estava mesmo convencido que a emoção era partilhada. Aos 11 anos, é impossível pensar que a mãe pode não gostar de Star Wars. Aos 16, é impossível pensar que a mãe pode não ficar feliz por partilhar a felicidade filial em relação ao Star Wars. É evidente que a pedagogia infantil reviu a coisa em baixa. Não são só os bebés que pensam que são uma extensão da mãe. Segundo consta, os adolescentes também pensam que eles e a mãe são um ser uno, no que à felicidade diz respeito.

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