sexta-feira, 15 de novembro de 2013

E a coisa pequena, perguntam vocês?

(mãe e professores à beira de um ataque de nervos)

 
Acusação:

·         O Vasco não consegue estar quieto um minuto. Não tem bichos-carpinteiros… todo ele é um bicho-carpinteiro. Mesmo engessado até ao joelho continua a correr, a saltar, a jogar à bola.
 
·         Está constantemente a falar. Quer a professora e os colegas estejam a ouvir ou não. Quando isolado de todos, num canto, o Vasco continua a falar consigo próprio. Em voz alta. Diz que às vezes também canta.
 
·         Está sempre a cair (da cama, do sofá, da cadeira da escola, etc.).
 
·         As coisas que o Vasco tem na mão estão sempre a cair (os lápis, as canetas, os cadernos, etc.). Também pode acontecer saltarem-lhe das mãos, normalmente para cima de algum desgraçado.
 
·         Não tem qualquer destreza manual. Quando pega na tesoura, todos se afastam. Gasta um tubo de cola inteiro para colar um simples recorte. Quando começa a pintar, não pára nas linhas e continua pela secretária a fora, mãos, folha do colega do lado…
 
·         É desleixado e badalhoco. Não lhe faz confusão nenhuma entregar um trabalho de casa amachucado, pisado, rasgado, escrito-apagado-reescrito-apagado-re-reescrito. O conteúdo é mais importante que a forma.
 
·         É preguiçoso. Demora tanto tempo a escrever um A maiúsculo como uma criança chinesa a escrever 25 caracteres.
 
·         Não tem qualquer noção do tempo, do stress, da pressa.
 
·         Por sistema, é contra a lei, a ordem, as obrigações, as regras.
 
·         É completamente imune a ralhetes, ameaças e castigos. O medo é coisa que não lhe assiste.
 

Contraditório:

·         O Vasco tem 6 anos, é o menino mais novo no 2º ano. E na aula de solfejo. E na aula de violino.
 
·         É muito bom aluno. Detesta ter más notas. Um 6/10 é coisa para o deixar a chorar uma tarde inteira.
 
·         Tem uma memória de elefante. E uma esperteza de rato.
 
·         Salta do português para o francês e vice-versa a uma velocidade estonteante. E fala igualmente bem as duas línguas. Tem um excelente ouvido e já diz alguma frases em inglês, muito úteis: "May the force be with you", "You shall not pass!"... 
 
·         É uma criança naturalmente feliz, de riso fácil.
 
·         É muito meiguinho.
 
·         Tem sempre uma última palavra a dizer, uma resposta pronta, uma tirada que não lembra ao diabo. Consegue arrancar gargalhadas a um mimo. E, para mal dos nossos pecados, este último ponto tem o poder de anular todos os outros.
 


 
 
[Quando cheguei da reunião na escola, perguntou se podia comer um doce. O irmão respondeu por mim: "Achas que é a melhor altura para pedires doces?! A mãe acabou de falar com a tua professora, Vasco...". Virou-se para mim todo dengoso, abraçou-me e pôs-me as mãos na testa: "Estás tão quentinha, mãe! Acho que tens febre. Coitadinha!" Hum, hum... obviamente, o problema é meu, não dele.]


2 comentários:

  1. É tão giro ter filhos completamente diferentes, que nos baralham o jogo :)

    ResponderEliminar
  2. Às vezes sinto que não tenho dois filhos, sou é duas vezes mãe. É baralhar e voltar a dar... ;)

    ResponderEliminar