sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Alguém pare o carrossel que eu quero descer!

(porque esta porcaria vai demasiado depressa para o meu gosto)


 
Estava esta alma em pleno trabalho de parto, naquela altura em que passamos algures para o outro lado, quando decidi que afinal não queria ter um filho. E gritei em alto e bom som que me queria ir embora, que não estava preparada para ser mãe e que, portanto, o melhor mesmo era não ter bebé nenhum. Ninguém me prestou atenção, claro… mas apressaram-se a dar-me a epidural. Menos mal.

Horas mais tarde, quando me trouxeram o Diogo a meio da noite e o puseram no meu colo, tive um ataque de pânico. Sim, senti um amor imenso. Um amor maior. Mas também senti que me tinham roubado o coração para todo o sempre. Percebi que, a partir daquele momento, eu era responsável por outra vida até ao fim dos meus dias. Não havia volta a dar. Estivesse ou não preparada, agora era a valer. Tinha entrado irremediavelmente no mundo dos adultos e tinha arrastado aquele ser minúsculo atrás.

A sensação de vertigem tem-se repetido muitas vezes ao longo destes quase 13 anos. A vontade de mandar parar o carrossel e descer. Porque não me sinto capaz de acompanhar o ritmo. Estar à altura da responsabilidade. Conseguir levar este barco a bom porto, sem deixar entrar demasiada água. Porque o desafio é constante e às vezes perco momentaneamente o Norte.

Quando começou a falar aos sete meses e nunca mais se calou. E, aos dois anos, quando anunciou que “acreditava no Senhor”. Quando aos três explicou que não tinha dito que estava surdo para “não ser diferente dos outros meninos”. Quando eu andava às voltas com um bebé colérico e me gritou com raiva que, já que não tinha tempo para ele, ia aprender a ler sozinho. E aprendeu. Quando o vi assumir o lugar ingrato de guarda-redes aos 6 anos, mal se aguentava nos patins. E, aos oito, quando uma médica nas urgências percebeu que era vítima de bullying na escola. Quando me agradeceu por o ter obrigado a andar no trompete, no final do primeiro ensaio na mini-banda, porque “sentia uma emoção dentro do peito”. Quando chorou a noite toda nos meus braços, com quase 11 anos, ao descobrir que o pai tinha saído de casa. E, pouco depois, quando me pediu para me “agarrar à vida” por ele, pelo irmão. Quando no outro dia me abraçou e me disse que era tão bom ver-me feliz e apaixonada.

Desde que entrou para o secundário, o meu menino crescido começou a crescer ainda mais depressa. Demasiado depressa. Já lhe disse para ir mais devagar, que eu não estou a conseguir acompanhar a pedalada, mas ele não me liga nenhuma. Suspira. Levanta a voz. Grunhe. Fala para dentro. Questiona. Resmunga. Fala pelos cotovelos, da escola, dos amigos, dos professores, de livros, de filmes, de música, de séries, de culinária, da namorada. Da namorada, uma e outra vez.

A vida gira à volta da loirinha. Das conversas que têm. Dos poemas que lhe manda e ela estranhamente não percebe (apesar de escolher os mais simples de Shakespeare na versão original). Do que fazem nos recreios. Do que escrevem no Facebook. Da nova foto de perfil dos apaixonados a darem um beijo na boca. Da prenda que temos de lhe ir comprar para o Dia dos Namorados. De que temos de passar no banco para ele levantar dinheiro. De que está nervoso para saber se ela gosta…

Nestes últimos tempos, voltei a sentir a já conhecida sensação de vertigem. Parece-me que estamos novamente numa daquelas descidas vertiginosas. Sinto o estômago colado às costas. Não tenho muito tempo para pensar. As novidades sucedem-se. O carrossel não pára.
 
[ Não sou a única, é preciso que se diga. O Vasco, no outro dia, meteu-se na nossa cama e fartou-se de chorar. “É namorada para lá, namorada para cá… ele já não gosta de mim! Tenho a certeza de que já não sou importante na vida dele. Ela é…” ]

3 comentários:

  1. Tens um Diogo absolutamente fenomenal e ele tem uma mãe à altura. Tenho a certeza que ele será um grande homem contigo como referência.

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  2. O carrocel, que aparentemente não controlas, visto daqui, parece-me fabuloso.

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  3. O princípio é sempre o mesmo: com medo, mas a fugir para a frente. :)

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