quarta-feira, 9 de abril de 2014

Bondade

(a que decididamente não estou habituada)

 
Quando fui à entrevista para este emprego, avisei logo que lamentavelmente já tinha passagens de avião compradas para passar as férias do Carnaval em Portugal. Combinámos que eu compensaria essa semana fazendo horas extraordinárias.

E assim foi… um colóquio interessantíssimo, uma formação secante sobre o programa informático para editar o jornal e uma tradução de um artigo sobre o qual não percebi patavina sobre fármacos e ratos com trissomia, e tinha compensado as minhas férias.

No final do mês, mandei um email à contabilista a pedir-lhe para confirmar se estava mesmo tudo em ordem.

Dias depois, ia morrendo de susto quando vi o meu saldo bancário.

Mandei um novo email à contabilista, um bocadinho a medo, a perguntar se ela não teria descontado a minha semana de férias por engano. Ligou-me logo a desculpar-se. Explicou que se tinha esquecido porque eu não apontei nada na folha de ponto, como é habitual. No meio de quase uma centena de pessoas, passou-lhe. Pronto, dúvida esclarecida. Desculpei-me e perguntei se seria possível pagarem-me essa semana no mês seguinte. Que não, que estava fora de questão. Que sabiam que eu estava sozinha na Bélgica com duas crianças, sem receber pensão de alimentos. Que ia fazer uma transferência de imediato. E que me podia adiantar mais dinheiro, se eu estivesse a precisar.

Fiquei comovida, a sério. Acho que ao longo dos anos nos habituámos a ser tão maltratados pela entidade patronal que, quando nos tratam como se fossemos família, só nos apetece chorar.

6 comentários:

  1. É mesmo! Duvidamos da "sorte" e tudo...

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  2. A bondade é das coisas mais bonitas do mundo, a par do mar, das gargalhadas dos nossos filhos e do nascer do sol :)

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  3. Nós, que temos ou tínhamos raízes no jardim à beira-mar plantado... Saímos de portas e descobrimos que, afinal, as ervas são daninhas e por cá só se pensa o mal e se dificulta... e, afinal, por outros jardins acredita-se nas pessoas e facilita-se a vida. É tão humano, não é?

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  4. Detesto esta dicotomia (cristã) de bondade versus maldade...

    É que, ao nível social, não se trata de bondade, mas de "civismo". Podia dar múltiplos exemplos de Inglaterra, onde existe um espírito cívico que cá nunca houve ou de perdeu.

    E, ao nível das relações de trabalho, trata-se de "respeito pelo indivíduo" (que era um dos princípios da IBM, há muitas luas passadas) ou, noutros termos, a compreensão de que um trabalhador que tem problemas de subsistência, ou de saúde (ou outros) trabalha menos e pior do que um que os não tenha. Portanto, e só por exemplo, aumentar o tempo de trabalho não aumenta a produtividade - antes a diminui.

    Identicamente, um pai recusar-se a pagar despesas médicas de um filho não é "má vontade" ou "maldade". É crime!

    Ou de como o correcto uso das palavras é muito importante...

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  5. Tens razão, pai. É civismo... mas neste caso o lapso foi meu, portanto houve boa vontade por parte da Apem em ajudar-me a reparar o erro.

    Quanto ao crime, acabará por se resolver em instâncias próprias. :(

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