terça-feira, 1 de abril de 2014

Limpezas da Primavera

(onde se faz jus ao provérbio da minha avó:

“A ajuda do menino é pouca, mas quem não aproveita é louca”)


 


O site de educação Montessori apresentou há uns tempos uma lista de tarefas domésticas que as crianças podiam desempenhar consoante a idade, que suscitou celeuma nas redes sociais.

Apesar de defender a partilha equitativa das tarefas domésticas por todos os membros da família – homens ou mulheres, adultos ou crianças – acho aquela lista um bocado exagerada. Nunca me passaria pela cabeça pedir a um bebé de 2 anos para carregar lenha ou a uma criança de 4 anos para desinfectar os puxadores das portas. Tal como nunca deixaria um filho de 8 anos trocar uma lâmpada ou um de 12 fazer pão. Sou a favor da ajuda infantil, não da exploração infantil. E há questões mínimas de segurança que têm de ser acauteladas.

Posto isto, aqui em casa todos trabalham na medida das suas possibilidades. Recuso-me a criar filhos preguiçosos e malcriados, que pensam que tudo lhes é devido por uma espécie de escrava a quem chamam mãe. Se a ideia é fazê-los ganharem asas para voar, é suposto saberem tratar de si mesmos e de uma casa no dia em que decidirem deixar o ninho.

Cada um tem as suas tarefas diárias adaptadas à idade, que deve realizar o melhor que puder. Mais importante do que a perfeição é tentar fazer. Eu depois passo discretamente por trás e dou um jeito, mas são os rapazes que arrumam e limpam o quarto. Fazem as camas e dobram os pijamas. Vêem se não há brinquedos, nem roupa suja espalhada. Põem e levantam a mesa. E tratam de todos os animais, com excepção do passeio matinal e nocturno do D. Fuas.

Depois há aquelas tarefas que os rapazes até gostavam de fazer e que eu ainda não deixo… O Vasco adorava passear o cão sozinho, só que não tem força suficiente e arriscava-se a ir parar à aldeia mais próxima. Às vezes também pede para lavar a loiça, mas a destreza manual não é o seu forte e eu tenho muito amor aos meus pratos. Quanto ao Diogo, a grande luta são as suas incursões na minha cozinha. O sonho do meu filho crescido é ser promovido a cozinheiro oficial do reino, mas eu não acho lá muita piada às invenções culinárias e à pilha de loiça que depois tenho de lavar. Claro que há soluções de compromisso: o Vasco pode lavar os copos de plástico e o Diogo preparar os almoços para levar para a escola a contento.

Este fim-de-semana finalmente esteve bom tempo e aproveitámos para fazer as "limpezas da Primavera". Os longos meses de obras, que mergulharam a aldeia numa espécie de estaleiro gigantesco, deixaram a casa num estado lamentável que exigia medidas drásticas. Vestimos roupa velha, metemos a música a bombar e lançámos mãos à obra. No Sábado, os rapazes limparam o quarto deles e as gaiolas da bicharada pequena. Eu terminei de restaurar um móvel velho. No Domingo, tratámos do andar de baixo. O Diogo, que já está bem maior do que eu, atacou as janelas todas, por dentro e por fora. O Vasco limpou as cadeiras e os móveis pequenos. Eu dediquei-me às paredes e chão. Passámos umas boas horas nisto. Pelo meio, houve tempo para as aulas de equitação, um passeio e uma visita a um antiquário. Tínhamos previsto terminar o fim-de-semana das limpezas na esplanada do gîte aqui em frente, a comer um belo gelado caseiro… mas a patroa decidiu ir passear e fechou sem dar cavaco a ninguém. A recompensa prometida ficou adiada, mas não esquecida, afinal há que motivar a mão-de-obra juvenil.

2 comentários:

  1. Mas quem é que desinfecta as maçanetas das portas??

    Quem me dera que já estivesse bom tempo aqui para fazer as limpezas de Primavera. Já nem falo em passeios e gelados, chuif...

    ResponderEliminar
  2. LOL! Esqueci-me das maçanetas das portas, Gralha! :)

    ResponderEliminar