sexta-feira, 27 de junho de 2014

Raios partam os miúdos, pá!

(onde se mostra que viver num cochicho ou num palácio

 não muda a nossa essência)


Nos últimos tempos que passámos na casinha de paredes azuis em Malempré, eu revirava os olhos porque já não aguentava o barulho dos miúdos. Acho que tinha chegado ao meu limite de convivência a quatro (mais bicharada) num espaço tão exíguo. O meu amor dizia-me para ter calma, que estávamos quase a mudar de casa, que aquela era muito pequenina, que estávamos sempre todos uns em cima dos outros, que a culpa não era deles. Dizia-me que em Vielsalm é que era, que tudo ia mudar, uma casa nova, um palácio com quatro andares, um quintal a perder de vista…

Ele falava, falava, falava e eu nunca o interrompia. Mas nááá… Algo me dizia para não acreditar muito naquele cenário idílico: o meu amor a trabalhar em silêncio no computador na sala, o Diogo refugiado a ler no seu quarto no sótão, o Vasco a correr lá fora em busca de aventuras, D. Fuas a apanhar banhos de sol (com o coelho a saltitar também por ali) e eu a ler um livro estiraçada no banco do quintal. Parecia-me… Como explicar? Parecia-me muito “Uma casa na pradaria”. E, como se sabe, nós é mais “Família Adams”.

Um mês depois das mudanças, o que tenho eu a dizer sobre este assunto? Pois… O meu amor continua a trabalhar no computador com tampões nos ouvidos, escondido na casa de jantar. O Diogo está sempre a descer as escadas como se fosse um ogre enraivecido para vir chatear o Vasco. Se fica meia-hora trancado na sua torre de marfim já é muito. Passam o dia no sofá da sala à bulha. O Vasco quando se decide finalmente a ir lá para fora brincar, é para atirar a bola para o quintal dos vizinhos ou fazer um banzé desgraçado a lançá-la contra a parede (vulgo, jogar ténis). D. Fuas divide os seus dias entre percorrer a cerca do quintal para encontrar um ponto de fuga e abrir a porta da casinha dos outros bichos para os caçar. O coelho a única vez que saltitou no quintal meteu-se num buraco e foi o cabo dos trabalhos para o tirar de lá, porque está gordo que nem um porco. Eu… eu acho que a única vez em que me sentei no banco do quintal foi quando ia a correr atrás do estupor do cão que ia a fugir e tropecei. 

Fora isto, está tudo bem. Somos muito felizes na nova casa.

2 comentários:

  1. Acho que ainda estão na fase "ensaio geral", que é a teoria oposta à da "lua-de-mel" no início das relações. A Casa na Pradaria segue dentro de instantes :)

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