terça-feira, 30 de junho de 2015

Simplex à la belga

(ou uma outra maneira de descomplicar as coisas)



Este ano não recebi o impresso para fazer a minha declaração de impostos, como nos anos anteriores. Pensei que tivesse havido alguma confusão, visto termos mudado de casa. Na Bélgica, o IRS pode ser entregue em papel ou pela internet, desde que se tenha o código de acesso e um “leitor de cartões” (uma maquineta que lê o chip do cartão de identidade que contém todas as nossas informações).

Evidentemente, como boa portuguesa que sou, decidi-me a ir às Finanças aqui do burgo hoje… data limite para entregar o IRS. Não contente com isso, apareci por lá por volta das 10h30… uma hora antes da reunião de pais na escola do Vasco.

A sala de espera, que costuma estar sempre vazia, estava à pinha. Era o número 25. Como ainda estava no 14, aproveitei para ir à biblioteca entregar os livros do Vasco. Quando voltámos, pouco tinha avançado. Decidi ir a casa do amigo do Diogo buscar o boletim que tinha recebido quando a coisa pequena e eu ainda estávamos no sono dos justos. Dei uma olhada rápida nos resultados dos exames nacionais e nas notas finais, dei-lhe um beijinho de parabéns (e um merecido calduço pelo 13 a Ciências) e apressei-me a regressar às Finanças. Só faltava um número. Mas os minutos passavam e nada. Fui obrigada a desistir para não chegar atrasada à reunião do Vasco. À saída, tirei uma nova senha.

Recebi o boletim do Vasco, que a medo perguntou se tinha passado para o 4º ano. As professoras largaram as duas a rir. A coisa pequena não tem noção das notas absolutamente fantásticas que tem. Ouvi rasgados elogios, sai de lá a correr de coração cheio. À porta, perguntei pelos impressos da inscrição. “Já está! Era aquele talão que entregou no outro dia a dizer que o queria reinscrever”, responderam-me.

Nas Finanças, o meu número já tinha passado. As poucas pessoas que restavam na sala deixaram-me passar, quando o Vasco anunciou em alto e bom som que afinal até tinha recebido um bom boletim. A senhora que me atendeu começou por pedir o cartão de identidade, introduziu-o na maquineta e confirmou os dados. O Vasco certificou de imediato que tinha um irmão mais velho. Que lhe batia. Muito. Aproveitou também para explicar que estava a ler o “Schtroumpf Financier”, bastante adequado à ocasião. Só fechou a matraca quando o mandei calar no meu português mais zangado. A pobre senhora estava morta de riso, mas tentava manter a compostura. Perguntou se tinha trazido as atestações fiscais que podia apresentar. Respondi que não, que só vinha buscar os impressos ou o código de acesso, tanto fazia. “Não, minha senhora, que disparate… a gente faz isto aqui num instantinho. Ninguém gosta de preencher a declaração de impostos. E cheira-me que também não deve ter muito sossego lá por casa… Depois, quando puder, passe por cá para deixar as atestações que eu corrijo-lhe a declaração.” Em cinco minutos estava despachada, declaração do estorno incluída.

A isto chama-se simplex, não? Ou talvez apenas vontade de descomplicar, não sei…

4 comentários:

  1. Tu arranja-me p´lamor de deus uma casa aí que eu mudo-me já! O que gostava de viver num país assim, sei lá... civilizado!

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  2. O tradutor é por definição uma criatura móvel, certo? E as casas nesta zona até são bastante baratas... :)

    (Fica por resolver o problema do marido, pronto...)

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  3. Xinapá... é tal e qual como cá! Só que ao contrário...

    Tu vais às Finanças e levas rosnadelas mesmo sem teres feito nada.... e tens que saber mais de direito fiscal e patrimonial dos que os funcionários, para não seres engrupida!

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  4. LOL!!! Segundo me lembro, era mais ou menos assim, era... :)

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