segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Era suposto ser um Natal lowcost

(mas entretanto a malta deixou-se entusiasmar)



O tempo dos Natais faustosos já lá vai. Esta crise mundial conseguiu pôr cobro ao consumismo desenfreado tipicamente natalício. O mais importante, nos dias de hoje, não são as prendas, mas as pessoas. Os momentos passados em família. E a oportunidade de nos alambazarmos à volta de uma boa mesa sem nos sentirmos culpados, vá…

Por força das circunstâncias, a nossa família está longe. Não que nesta época sinta mais falta das pessoas que amo do que noutra qualquer. As saudades são uma constante o ano inteiro. Mas, tendo em conta que os miúdos vão passar este Natal connosco, “a festa de família” – a única coisa que resta aos verdadeiros ateus nesta quadra – tornou-se um problema premente. Decidimos, então, fazer um Natal alternativo. Explicámos aos miúdos que, este ano, a nossa prenda seria uma “experiência”: vamos passar dois dias no Futuroscope, em Poitiers (França). Entre viagem, estadia, alimentação e as entradas do parque, o orçamento não comportava mais nenhuma oferta. Embora não estivesse a contar com uma adesão imediata à ideia, a verdade é que os rapazes ficaram todos contentes.

Entretanto, veio o dia de Saint-Nicolas. Na Bélgica, o “Natal das crianças” celebra-se a 6 de Dezembro. Mesmo quando já são mais crescidos, os miúdos continuam a receber as prendas neste dia, juntamente com um prato cheio de doces, frutos secos e tangerinas. A consoada de Natal, propriamente dita, é uma festa dos adultos e da família. Acho piada à tradição do prato de doces, à mesa do pequeno-almoço, onde deixo sempre também algumas prendinhas. Também me agrada o facto de as prendas não estarem embrulhadas, parece-me bastante mais ecológico. Nunca compro nada muito caro, é só mesmo para eles não se sentirem mal quando os colegas na escola mostrarem as prendas que receberam. No ano passado, decidi fazer também um prato para o meu amor. E, sinceramente, não sei qual dos homens da casa ficou mais feliz. Este ano, como não podia deixar de ser, voltei a repetir a surpresa. Como senti que o Diogo tinha ficado um nadinha enciumado com a tonelada de prendas e a atenção que a coisa pequena recebeu nos anos, caprichei nos pratos, por assim dizer. Aproveitei para o mimar especialmente a ele, sem que o irmão percebesse. O filho pequeno ainda está naquela idade em que fica entusiasmado com uma BD em segunda mão, um chocolate grande e uns brinqueditos baratos.

Entretanto, montei a árvore de Natal. Cá em casa, a tradição é estar tudo decorado no dia de anos do Vasco. Ter aquela trabalheira toda por meia dúzia de dias é coisa que não me convence… se é para fazer, que seja para durar um mês inteirinho. Este ano, decidi mudar completamente os enfeites. Acho que o espírito natalício baixou em mim. Estava mesmo a apetecer-me ter tudo vermelho e branco. E um pinheiro verdadeiro, daqueles tipicamente nórdicos, como os que se vendem por aqui. Deixei-me levar pela onda das decorações, mas achei melhor não embarcar em grandes disparates e manter a nossa árvore dos anos anteriores. Tanto caminho foi percorrido desde a primeira vez que montei uma árvore de Natal na Bélgica! Já não me revejo nada na nostalgia que senti noutros tempos. Enfim…

Depois de montar a árvore de Natal, achei que faltava ali algo… Árvore que é árvore, tem uns quantos embrulhos em baixo para ficar com um ar mais composto. E, bem vistas as coisas, os miúdos têm de desembrulhar algum presente à meia-noite, no hotel. Comecei, então, a comprar as prendas. Coisas à Rita, bem entendido. Livros e DVDs em segunda mão, uma ou outra peça de roupa, algum merchandising do novo Star Wars, jogos de sociedade, caixas de experiências e, principalmente, pequenas patetices cómicas para lhes arrancar uns sorrisos na noite de Natal.

Os rapazes agarraram na deixa e decidiram que este Natal também iam oferecer prendas, como gente grande. Fiquei comovida com as prendas que o Vasco quis comprar com o seu próprio dinheiro. Entretanto, uma espécie de espírito natalício baixou também sobre o meu Belga. Passa horas na Net em sites misteriosos a escolher prendas altamente tecnológicas para os miúdos. Coisas que eu nem sequer sabia que existiam. Tentei explicar-lhe que a ida ao Futuroscope era a nossa prenda, que os embrulhos debaixo da árvore eram as nossas prendas… até que desisti, porque percebi que o problema não estava na incapacidade em conceber  que somos uma entidade conjunta. O meu amor, pela primeira vez, tem crianças a quem dar prendas na noite de Natal. E está feliz da vida. No nosso primeiro Natal, ainda estava a viver em Itália e, no segundo, os miúdos não estavam connosco. Portanto, o meu amor decidiu que este ano era a loucura total. Aliás, esta sua súbita vontade de encarnar o pai Natal estendeu-se também a mim… nos últimos dias têm entrado cá em casa caixas de um tamanho espantosamente grande. Como eu não tenho a força de vontade dos meus homens, as minhas prendas foram todas cuidadosamente escondidas. Sim… eu ainda espreito os embrulhos à socapa, tenho de admitir com alguma vergonha.

Resumindo e concluindo, o Natal que eu tinha idealizado, o Natal que supostamente seria poupadinho e mais centrado na vivência do que nas coisas terrenas, descambou por completo. Já desistimos de levar o Twingo na viagem até Poitiers. O jipe do meu amor vai ter mesmo de voltar a sair da garagem. Não temos família por perto e desconfio que também não vamos ter uma mesa típica de Natal… mas tenho a certeza de que teremos uma consoada com aquela magia especial da nossa infância. Eu já estou cheia de nervoso miudinho como não sentia há muitos, muitos, muitos anos.


[ a árvore mais bonita do mundo e o descalabro ]

  [ o nosso Saint-Nicolas ]


PS: Mãe, as tuas prendas já chegaram e também já estão debaixo da árvore... vês?

3 comentários:

  1. Nesta matéria estou longe deste seu encantamento: muitos se esforçam por me tornar uma fã do Natal mas, para mim, o melhor dia é o 26 de Dezembro: já passou o dia de Natal e falta um ano para o próximo! Mas os seus filhotes vão adorar, tenho a certeza...

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    1. Admito que se tivesse de pensar em comprar prendas por obrigação, em fazer comida e receber gente em casa ou em andar a correr as capelinhas todas... acho que também morria. Já não concebo natais desses, não consigo. O ano passado foi o último do género "familiar" e não gostei muito, confesso. Ando entusiasmada com um natal novo, Mariana, que inventámos sob medida. :)

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    2. E vai ser uma outra grande memória para os seus rapazes, tenho a certeza! Beijinhos

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