sábado, 30 de janeiro de 2016

Toxicidade

(onde se mostra que a informação que colhemos aqui a ali, como leigos, acaba por ser confirmada)



O meu sogro foi fazer exames de rotina no gastroenterologista e, apesar de vender saúde, saiu de lá bastante incomodado. A consulta durou uma hora e meia. Enfim, foi mais uma conversa entre colegas do que uma consulta propriamente dita. É que as notícias são assustadoras. Uma coisa é lermos um ou outro artigo, nada de muito científico, talvez a pender mesmo para o alarmista, outra coisa é ouvirmos um especialista falar de factos, números, estatísticas. Se, há uns tempos atrás, o flagelo da alimentação nos países do primeiro mundo era a obesidade crescente da população, hoje em dia é a toxicidade comprovada dos alimentos que ingerimos. E isto é angustiante, porque não há muito que possamos fazer.
Segundo este gastroenterologista, a ideia de que a casca da fruta contém muitos nutrientes tem de ser completamente posta de lado. Hoje em dia, as árvores são pulverizadas com todo o tipo de pesticidas nocivos mal dão flor e durante todo o processo de amadurecimento da fruta. Para não ser prejudicial à saúde, quando comemos uma simples maçã, devíamos lavá-la bem e, depois, descascá-la, tirando cerca de um centímetro a toda a volta. Mesmo as embalagens onde são acondicionadas nos supermercados contêm, por vezes, conservantes. Quem diz uma maçã, diz uma pêra e assim sucessivamente. O mesmo se passa com as uvas… logo, com o vinho que ingerimos. As toxinas que as uvas contêm, devido aos pesticidas com que a vinha é tratada, mantêm-se intactas durante todo o processo de fabrico do vinho. Aquela máxima de que um (dois, três…) copo de vinho tinto às refeições faz bem tem de ser eliminada, pois já está comprovada a sua influência no aumento de casos de cancro. Ou seja, não só devíamos passar a comer fruta biológica, como também a consumir vinho biológico. Exclusivamente.
No que diz respeito à carne, são de facto de banir as charcutarias e carnes processadas devido à sua toxicidade que comprovadamente provoca o cancro colon-rectal, do pâncreas e da próstata. Uma embalagem de fiambre há uns anos atrás durava três ou quatro dias aberta no frigorífico. Hoje, dura mais de uma semana sem se estragar porque está carregada de nitratos. As carnes vermelhas são igualmente cancerígenas, devido ao processo de alimentação dos próprios animais e aos produtos com que a carne é posteriormente tratada para manter a cor característica da carne vermelha (nomeadamente o ferro hematínico). Ao que parece, as aves eliminam mais facilmente do organismo as toxinas do que os mamíferos. Portanto, o ideal seria comer carnes brancas de animais criados ao ar livre, em quintas biológicas.
O que mais me chocou, no entanto, foram os malefícios do peixe, alimento que sempre foi promovido como sendo muito mais saudável do que a carne. Acontece que, neste momento, a situação inverteu-se por completo. É extremamente difícil rastrear a proveniência do peixe. Os nossos oceanos e mares estão completamente contaminados, fazendo com que o peixe contenha altas concentrações de metais pesados que se vão propagando na cadeia alimentar. E aqui…não há bio que nos valha, infelizmente. Nem a aquacultura, contrariamente ao que poderíamos pensar. Os peixes criados em cativeiro, especificamente para consumo, são consideravelmente mais sensíveis e propensos a apanhar todo o tipo de doenças. Para compensar essa fragilidade, são-lhes muitas vezes administrados antibióticos profilacticamente. Isto não foi o gastroenterologista que explicou, foi o oceanógrafo cá de casa. O melhor a fazer é dar preferência aos peixes mais pequenos, pois os maiores alimentam-se do resto da cadeia alimentar, contendo por isso um nível de toxicidade bastante mais elevado.
As opiniões do gastroenterologista do meu sogro valem o que valem, mas eu fiquei a pensar nisto, porque não diferem muito do que ando a ler ultimamente. Podemos evitar a obesidade dos nossos filhos, mas não conseguimos eliminar a toxicidade dos alimentos que lhes damos. Não podemos prevenir tudo, é certo.  E eu sinto-me mal comigo mesma se não fizer o máximo que está ao meu alcance para dar a alimentação mais saudável que conseguir aos meus filhos, que têm uma vida pela frente. Segundo parece, a única coisa que seguramente faz diferença é variar ao máximo a nossa alimentação, de modo a minimizar os possíveis malefícios de um dado alimento, seja lá ele qual for. E passar a consumir preferencialmente produtos biológicos, que são substancialmente mais caros. Ainda não sei muito bem onde irei cortar para poder oferecer este tipo de alimentação aos rapazes, mas está fora de questão não o fazer.

2 comentários:

  1. Ai. Esta questão deprime-me taaanto. Mas a alternativa de só comprar alimentos bio não é viável na nossa família. Não entra no nosso orçamento mensal de maneira nenhuma. De momento, vou fazendo muitas coisas em casa (pão, bolos, iogurtes) com matéria prima bio e comer verdura da horta, que mais parece uma selva porque não temos tempo para tratar dela como deve ser mas que apesar disso nos dá muitas alegrias. Agora é tempo de comer muito alho francês, espinafres, alhos frescos e couve-flor...

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    1. Em nossa casa infelizmente também não conseguimos comer tudo bio, Helena. Longe disso. Para conseguir começar a comprar maioritariamente aves, ovos, fruta e legumes, não posso comprar só produtos integrais como gostaria. Baby steps...

      Não querendo ser ave de mau agoiro (porque também andámos a informar-nos a propósito das hortas), é importantíssimo ver a qualidade da terra do nosso quintal. A nossa não parece ser grande coisa, o que diminui substancialmente a eficácia de comer "produtos da nossa terra".

      Isto é mesmo uma chatice, uma pessoa nem sabe bem o que fazer... :(

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