quinta-feira, 1 de setembro de 2016

5.º Ano!



(mas felizmente continua na Primária)


Parece mentira, mas é verdade… a coisa pequena está no 5.º ano!!! Hoje, aqueles nove anos de gente pareceram-me mais gingões do que o habitual. Entrou com desenvoltura na escola e disse-me adeus com displicência, não fazendo caso dos quase 15 minutos que andei às voltas até conseguir estacionar o carro. Mas praticamente não passei do portão. Não posso dizer que tenha ficado triste, mas confesso que fiquei algo surpreendida. Filho pequeno sempre foi muito melado. Consegui recuperar a tempo de lhe dar um beijo rápido. Como se nada fosse. Nem um abraço, nem uma festinha. A vantagem de ser mãe de segunda leva é que uma pessoa já sabe quando chega a hora de se fazer discreta. E eu hoje percebi que chegou a hora de me fazer discreta. O Vasco cresceu. Pediu para começar a ir sozinho a pé para a escola. Fiz-lhe uma contraproposta: passar a vir sozinho. Excepto neste primeiro dia de aulas. O meu amor – que ainda este Verão gabava as alegrias de ir buscar o Vasco à escola e de vir a falar de assuntos altamente importantes o caminho todo, para deleite da namorada do amigo e terror absoluto do amigo – não estava preparado para ficar sem o ponto alto do seu dia. É o que dá ser marinheiro de primeira viagem. Ainda não sabe quando se fazer discreto. É preciso dar-lhe tempo.

O Vasco cresceu, mas felizmente poderá continuar a ser criança por mais dois anos. O ensino primário, na Bélgica, dura seis longos anos. Seis anos mais acompanhado, mais mimado, mais protegido. Seis anos numa escola pequenina, que tem apenas uma turma por ano. Seis anos longe das máquinas distribuidoras e com travessas cheias de fruta e legumes da época, onde se pode servir sempre que quiser. E ele quer muitas vezes. Seis anos com um professor em exclusivo (mais o professor auxiliar), que dá Francês, Matemática, Religião e Iniciação às Ciências, História e Geografia. Seis anos com parque infantil, trotinetes, bolas e jogos espalhados pelo recreio. Seis anos a aprender a ser “mais crescido”, porque os meninos pequeninos andam por ali e é preciso ter muito cuidado. Seis anos sem telemóveis e com brinquedos na mochila. Seis anos só com Inglês e Educação Física (mais a Natação). Seis anos a sair às 15h50. Seis anos a deixar o material todo na escola e a carregar apenas a pasta com os trabalhos de casa. Seis anos a brincar, apenas isso.

Tive muitas dúvidas quando inscrevi o Vasco em Saint-Joseph, há três anos atrás. Se não fosse o meu amor, possivelmente teria ido para uma escola comunitária, mais familiar. E laica. Não me arrependo da escolha. É verdade que começam o dia a rezar. Mas a seguir fazem meditação para acalmar o espírito. Gosto desta combinação. Também gosto que toda a gente saiba quem é o Vasco. Não é saber o nome, é saber que perde as luvas e os casacos e os gorros. Não é saber que está no 5.º ano, é saber que anda sempre com um livro atrás. Não é saber que não gosta de disputas, é saber que tenta sempre acabar com as guerras. Mesmo que para isso tenha de apanhar, quando se mete no meio. Não é saber que por vezes tem de faltar, é saber que é seguido em endocrinologia no CHU. E ortodontia. Não é saber que há dias em que tem de sair a correr, é saber que vai para o violino. E que também faz dança clássica. Mas que não quer que ninguém saiba. Não é saber que é estrangeiro, é saber que o português é a sua língua materna. E na escola do Vasco toda a gente sabe isto. É uma sorte que agradeço todos os dias. Hoje, quando me vim embora – mais discreta do que nunca – senti-me aliviada por o Vasco ter o privilégio de andar nesta escola. Por ter mais dois anos de Primária pela frente para continuar a ser criança. Simplesmente criança.

2 comentários:

  1. Fui professora no chamado 2º Ciclo, 5º e 6º Anos, durante quase toda a minha vida profissional. Quando leio o seu post relembro os tormentos dos meus alunos vindos do 4º Ano, a dificuldade em compreender tanto adulto diferente, os horários e salas a mudar, a avaliação com testes programados que não se podem esquecer...Será que fizemos tudo mal face a essa organização escolar na Bélgica? Que seria benéfico as crianças terem mais um patamar antes de enfrentarem o mundo semelhante ao dos adultos? Como aluna também foi essa a minha vivência, há tantos anos atrás e mesmo assim sobrevivemos! Vamos ao que agora é importante: que seja um bom ano para o Vasco, um filho cada vez mais parecido com a mãe "pequenina"! Beijinhos, Rita!

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    1. Essa também foi a minha experiência pessoal, Mariana. E tenho a dizer que adorei ir para o 5º ano! Não me parece de todo que as coisas estejam mal feitas a esse nível em Portugal. O grande salto, aqui, dá-se no 7º ano, quando entram para o Secundário (que tal como a Primária dura 6 anos). Nessa altura, os miúdos também são obrigados a crescer depressa, enquanto em Portugal a transição é muito mais suave.
      Da minha experiência enquanto mãe, este sistema funciona melhor com os filhos que a vida me deu. Será deles? Será pelo facto de serem rapazes? Será desta geração mais infantil e protegida? Sinceramente, não faço ideia.
      No caso do Vasco parece-me óbvio que tem tudo a ganhar em poder ser menino mais tempo, porque ainda só tem 9 anos.

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