quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Quem disse que burro velho não aprende línguas?

(onde se mostra que com um bocadinho de esforço isto vai lá)


 
D. Fuas Roupinho é, como se sabe, uma criatura meio selvagem. Estranho cruzamento entre um texugo e um cão, que dorme de patas no ar e língua de fora. Persegue inimigos mesmo em sonhos, rosnando e choramingando baixinho. Vive eternamente à procura do ponto de fuga, bicho indómito que é. O instinto de caça está-lhe no sangue e pouco se pode fazer contra isso.

Ao fim de quase cinco anos de feroz convivência, capitulámos. Decidimos começar a soltá-lo, durante os nossos passeios ao Domingo pelos bosques. Por fim, aceitámos que não vale a pena tentar que ele ande calmamente ao nosso lado. Ou que corra alegremente à nossa volta, como todos os outros cães com os quais nos cruzamos. Coração ao alto (o nosso), e lá vai ele...

Quando solto em plena natureza, D. Fuas larga a correr como se não houvesse amanhã. Como se toda a caça do mundo estivesse ali escondida, entre as árvores, à espera de ser apanhada. Por isso, desaparece num ápice. Depois, volta. Por vezes, demora muito tempo. Mas, quando finalmente aparece, todo ele é felicidade.

Acho que se pode dizer que a aprendizagem foi mútua. Nós tivemos que aprender a confiar no instinto dele. De ir e voltar. Sobretudo, voltar. Ele teve de aprender a não ir longe demais, a dosear a correria desenfreada. A regressar, quando ouve o nosso chamamento preocupado ao longe. Até agora, tem corrido bem… Isto é, ele tem voltado sempre. E ainda nunca trouxe um bambi assustado na boca.




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