segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Intimidade

(porque a verdade é que este blog nunca existiria

 se ainda vivêssemos em Portugal)


 

O facto de viver na Bélgica e de escrever um blog em português dá-me alguma liberdade. Pelo menos, eu sinto que dá. Admito que possa ser uma ilusão. As pessoas com quem me cruzo diariamente, a nível pessoal ou profissional, não me podem ler. Aliás, nem sequer sabem que tenho um blog. Os poucos – pouquíssimos – que sabem, não fazem ideia do nome. O mesmo se passa com as pessoas que povoam a vida quotidiana dos meus filhos. Todos os seus amigos. Deste modo, sinto que a nossa intimidade está resguardada. As aventuras e desventuras. Os diálogos. Os passeios. O dia-a-dia. Os sonhos. Os disparates da coisa pequena. O filho grande a adolescer. O meu amor. Eu. Eu que cresci tanto enquanto pessoa, desde que comecei a trilhar este caminho. As nossas histórias ficam apenas entre nós e a família. Nós e os amigos. Nós e os perfeitos desconhecidos que lêem o Amigo Imaginário por esse mundo fora.

Hesitei muito antes de expor fotografias da nossa família, quando criei este blog. No início, os meus filhos apareciam sempre ao longe ou de perfil. Penso que por medo. Mas, bem vistas as coisas, ninguém nos conhece mesmo. A probabilidade de algum leitor nos reconhecer no meio da rua, no trabalho, na escola, no médico, é praticamente nula. Pelo menos, eu sinto que é. O Amigo Imaginário é lido nos países mais estranhos, principalmente em Portugal, mas felizmente quase não tem visualizações na Bélgica. O que me deixa um bocadinho mais descansada quanto à segurança que o anonimato oferece.

Apesar de tudo, procuro ter alguns cuidados básicos. Acho que não sou completamente irresponsável. Nunca ponho imagens dos meus filhos despidos. Tenho fotografias lindas dos rapazes na praia, este Verão. Se as ponho no blog? Não, parece-me óbvio. Também nunca ponho fotografias nem faço posts em tempo real. A mostrar ou a dizer onde estamos, naquele preciso instante. Ou o que vamos fazer a seguir. Tudo o que escrevo é a posteriori. E, quando conto algo que me parece demasiado íntimo, peço sempre autorização aos envolvidos… do maior ao mais pequeno. Aliás, o homem da casa e eu temos um trato. O meu amor é a pessoa mais anti-internet que conheço e eu respeito isso. Não há quaisquer imagens no Amigo Imaginário onde possa ser reconhecido. Em contrapartida, ele não lê o que eu escrevo. Às vezes, goza comigo. Pergunta como raio posso ter um blog com mais de 50 mil visualizações que é demasiado íntimo para ele ler. Respondo que é uma daquelas pequenas contradições que fazem de mim uma criatura especial…


6 comentários:

  1. Acho que a forma como expões a intimidade é cuidadosa e de bom tom. Isso é o fundamental. E não tenho muita paciência para as paranóias das fotografias, seja como for.

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    1. Obrigada, Gralha. É bom saber, acredita. :)

      Também não tenho muita paciência para a paranóia generalizada à volta das imagens das criancinhas, mas confesso que me faz uma confusão enorme ver fotografias de miúdos despidos. Acho uma exposição exagerada do corpo de outrem e de mau tom.

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  2. Estes cuidados que tu referes tenho-os também. Aliás, no meu blog nem vês fotos dos meus filhos. No Facebook pouco ou nada... onde coloco mais fotos deles é no IG, porque nem toda a gente por lá anda, mas confesso que reduzi também a esse nível.

    E a isto chama-se bom senso ;)

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  3. Ó mulher... eu nem sei o que é o tal IG, por isso devem estar mais protegidos por lá! :)

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