sábado, 31 de outubro de 2015

Por outro lado, é um doce de miúdo

(onde se mostra que o filho pequeno também consegue ser fofinho)


 

Fomos ao supermercado. O Vasco olhava fixamente para um miúdo pequenino à nossa frente, na fila da caixa. De sobrolho franzido, fez questão de marcar posição. O miúdo olhava de esguelha para ele, muito colado à mãe. Mal se foram embora, a coisa pequena contou-me a história.

Vasco: Reparaste naquele menino, mãe?
Eu: É da tua escola?
Vasco: Sim. Hoje, apanhei-o no recreio dos grandes e mandei-o embora.
Eu: E ele?
Vasco: Ignorou-me. Deixei-o brincar mais um bocadinho e, depois, voltei a mandá-lo para o recreio dos pequeninos. Ele fingiu que não ouviu e não se foi embora.
Eu: E tu?
Vasco: Chamei uma amiga e disse-lhe: “Estou a ver que isto vai exigir medidas drásticas!”. E tentámos tirá-lo dali à força. Mas sabes o que ele fez?
Eu: O quê?
Vasco: Cuspiu-me na cara.
Eu: Como?!
Vasco: Cuspiu-me!
Eu: Que nojo! E tu, o que fizeste?
Vasco: Ora… limpei com a manga do casaco, disse-lhe que isso não se fazia e fui pô-lo no recreio dos pequeninos.
Eu: Não chamaste ninguém para fazer queixa do miúdo?
Vasco: Ohhh… não valia a pena fazer uma cena por causa disto! Foi só uma cuspidela, mãe! As crianças pequenas não sabem o que fazem. Não foi por mal, ele ainda é pequenino, sabes? Está na maternelle. Temos de ter muita calma com eles. Sou querido, não sou?

 

[ Na Bélgica, quase todas as escolas têm pré-primária e primária juntas… com miúdos entre os 2 e os 12 anos. Sempre me impressionou a mistura de idades no recreio da escola do Vasco, no final da tarde. Durante o tempo de aulas, há recreios pré-definidos para cada grupo. Mas, como não há divisórias, às vezes lá há um que consegue escapar. Confesso que pensei inúmeras vezes, com um misto de egoísmo mal disfarçado, que felizmente os meus rapazes já eram crescidos. E suspirei de alívio por não querer ter mais filhos, neste país. Seria absolutamente incapaz de deixar um bebé andar à solta por ali, no meio dos jogos de futebol, dos berlindes ou das lutas dos mais crescidos. Até me podem falar das vantagens de ter grupos etários mistos e o diabo a quatro, não me convencem. Mas não há dúvida que o contacto com os pequeninos é extremamente benéfico para os mais velhos… ]

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