quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

O filho único

(onde se mostra que é melhor ajustar as expectativas à nossa realidade)

 
Os nossos mandarins andam há longos meses a tentar ser pais. O problema é que as competências parentais são basicamente nulas. No entanto, tentam compensar o que lhes falta com persistência e motivação a rodos.
Mal a fêmea começou a pôr ovos no comedouro, comprei um ninho. Transferimos cuidadosamente os ovos, mas ela deve ter achado melhor não arriscar e… comeu-os. Semanas depois, já tinham o ninho cheio de ovos outra vez. Os dois mandarins revezavam-se a chocá-los, embora a fêmea passasse bastante mais tempo a servir de chocadeira. Passado um mês, desistiram. Não havia meio de nascer o que quer que fosse. Andávamos nós a pensar o que fazer com o diabo dos ovos, quando eles decidiram por nós e… voltaram a comê-los.
Uns tempos depois, já o ninho estava novamente com ovos. Desta vez, nasceram dois mandarins que continuaram a dividir o ninho com o irmãos-ovos. O Diogo conseguiu assistir emocionado ao nascimento. Comprámos uma alpista especial para passarinhos bebés e uns fios artificiais para encher o ninho. Os desgraçados dos bichos eram horrorosos, mas lá iam crescendo. Até que a mãe decidiu mandar um deles para fora do ninho, matando-o. Além de ter comido os ovos que restavam. Dias depois, cansou-se de ser chocadeira e abandonou o único passarinho que restava no ninho. O mini-alien morreu gordinho, despenado e completamente enregelado nas mãos do meu amor. Fartei-me de chorar, feita parva. E decidi tirar o ninho da gaiola, antes que os mandarins morressem com uma crise de fígado de tanto ovo enfardarem. Infelizmente, a bicha voltou a pôr ovos no comedouro e tive de capitular. Mais uma vez, a passagem dos ovos para o ninho resultou num banquete.
Durante uns tempos, tivemos descanso. Quer dizer… a palavra exacta não deve ser bem esta. Quando não estão a chocar, os mandarins passam o dia a andar freneticamente de baloiço e a fazer um barulho medonho. Cheguei a pensar que os bichos tinham desistido definitivamente de ser pais com a chegada do Inverno. Até que voltou a aparecer um ovo no ninho. Um único ovo minúsculo. Contrariamente ao que é habitual, a fêmea decidiu começar de imediato a chocá-lo, sem pôr mais ovos. Os dias passavam e o ovo lá continuava. O bicho nasceu durante a noite. Em pleno inverno, com temperaturas de -17º. Numa sala que não é aquecida durante a semana, porque só a usamos à hora de jantar, quando o calorzinho da cozinha já se propagou. Desta vez, o macho passa tanto tempo a chocar como a fêmea. O mini-alien rosado já tem penas nas costas. Ainda não abre os olhos. As asas começaram a crescer. É bom que cresçam bastante, que está gordo que nem um peru. Passa o dia de bico aberto, a piar como se estivesse a asfixiar. Suponho que não deve ser fácil ter sempre um dos pais repimpado em cima dele. Faz hoje dez dias. Suponho que já posso dar os meus parabéns aos malfadados pais. Nisto da parentalidade (e suponho que na vida também) tudo se consegue por tentativa e erro. Hum… e por ajustar as nossas expectativas, claro. Os mandarins lá acabaram por compreender que o melhor era limitarem-se ao filho único e desistirem da ideia da prole numerosa.



 
 

4 comentários:

  1. Também tive que me conformar com a filha única...mas foi por causa de uma pré-eclâmpsia! Adoro a casinha do novo bebé da casa...Parabéns!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Ah... mas aposto que esse pássaro único foi tratado com muito miminho, Mariana! ;)

      Eliminar
  2. Acho que sim...e ainda continua! Segundo ela, fui feita para ser mummy...Mas convém nunca esquecer que os filhotes nos apareceram sempre sem livros de instruções, há muita tentativa que saiu com erro, é isto que se chama viver...não é? Uma melhor semana, Rita! Por aqui vai haver muito rescaldo de eleições...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Claro... nisto de educar filhos é um passo à frente e dois atrás, sempre! :p

      Eliminar