segunda-feira, 20 de junho de 2016

Pressão social


(porque o isolamento também tem o seu lado positivo)



Uma das vantagens de viver 2500 km a Norte é não ter de lidar com opiniões alheias. Demorei algum tempo a aperceber-me desta minha nova liberdade… provavelmente porque nunca fui uma pessoa muito permeável a julgamentos exteriores. Contudo, embora não ligasse por aí além ao que os outros diziam, era difícil escapar aos comentários da família e amigos. A contrapartida de desabafarmos com alguém é termos de ouvir as suas opiniões sobre os nossos problemas. Agora, não tenho ninguém com quem falar, mas descobri que é extremamente libertador não ter de lutar contra essa pressão social.
A questão é que é deveras complicado defender uma determinada posição quando não somos “pessoas de crenças”, ou seja, quando vivemos sem grandes certezas. Tendo sempre a posicionar-me na gama cromática dos cinzentos, não sigo uma filosofia específica de vida. Não sou vegetariana, mas não como carnes vermelhas. Sou ateia, mas os meus filhos andam em colégios católicos. Não defendo a homeopatia, mas evito a medicamentação excessivamente química. Não tenho partido político, mas defendo ideias de esquerda. Não sou adepta do consumismo, mas só compro calças da Esprit. Não sou bem isto, nem sou exactamente aquilo. Vou-me adaptando às diferentes situações, o que faz com que, por vezes, seja acusada de ser inconstante ou volátil nas minhas opiniões.
Esta minha capacidade (diria mesmo, necessidade) de adaptação é especialmente criticada quando se trata dos meus filhos. À semelhança de tudo o resto na vida, também não sigo uma corrente pedagógica específica. É à la carte. Vou buscar uma ideia aqui e outra ali, para forjar a minha própria filosofia educativa… que funciona nesta família, neste preciso momento. À medida que os rapazes crescem, à medida que a vida vai mudando, vamo-nos adaptando. Não concebo a educação como algo estático. Há conceitos básicos que defenderei sempre, que são intrínsecos à minha forma de estar na vida: o respeito pelo outro, o multiculturalismo, a importância do conhecimento, a capacidade de mudança, a sede de descobrir mundo, a liberdade, a tolerância, a amizade, o desenrascanço... Mas depois há todo um mundo lá fora que nos obriga a rever as nossas crenças e a reposicionarmo-nos. E o crescimento de dois rapazes é um excelente motivo para baralhar e voltar a dar. As vezes que forem precisas.
Quem me conhece diz que mudei muito, mas eu não concordo. Acho que cresci, que evoluí como pessoa, e logicamente isso reflecte-se na minha forma de encarar a parentalidade. Além disso, sou uma mãe completamente diferente para cada um dos meus filhos. O Vasco sempre foi um filho especial, o que me obrigou a rever uma série de convicções pessoais. Muitas das premissas que funcionavam com o Diogo, não resultam com o Vasco. Sinto que preciso de estar constantemente a inventar novas estratégias para lidar com a minha coisa pequena. O problema é que a família e amigos nem sempre acompanham pacificamente esta minha mudança de atitude. A acusação de que o Vasco é o meu filho preferido é recorrente. Acho-a profundamente injusta. Aliás, basta ler este blog para ver que o filho crescido ocupa parte bastante considerável das minhas preocupações. E das minhas alegrias de mãe.

Tudo isto para dizer que hoje fui comprar o verniz que o Vasco anda a pedir há tempos. Fi-lo sem pensar muito – principalmente sem pensar muito nos outros – com a liberdade de espírito que me caracteriza. Mas isso ficará para uma outra conversa, que esta já vai longa…

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