sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Foi em Janeiro que tudo começou

(onde se mostra que a matemática dos dias nem sempre é exacta)


Foi em Janeiro que tudo começou. Há um ano atrás, portanto. Mudei-me para cá no final de Agosto, mas os meses seguintes não contaram, porque eu ainda estava em modo de sobrevivência. Foi uma época muito dura, feita de incertezas, choro, medo. Uma dor surda. E saudades, numa moinha constante. Três meses foi o tempo que demorei a pôr esta nova vida a andar para a frente.

Quando entrei em 2013, senti o impacto do que tinha feito, pela primeira vez. Longe dos meus filhos, entre amigos e vizinhos a assistir aos fogos-de-artifício improvisados de Malempré. A olhar para o céu, no meio da neve. Pensei: “Pronto, não há dúvida… conseguiste! Sabe-se lá como, conseguiste desenrascar uma nova vida. Agora, tens de a viver.” Senti assim uma espécie de vertigem, quando percebi que o mais difícil estava feito. Uma euforia, seguida de um ligeiro ataque de pânico. E agora, que desculpa é que eu tinha para continuar a não viver? Tinha passado meses concentrada no objectivo, sem olhar à minha volta. A viver com e para os meus filhos apenas. E percebi que isso não chegava. Sobreviver apenas, já não era suficiente. Tinha de começar a viver. Tinha de começar a viver uma vida. A minha vida.

Portanto, foi em Janeiro que tudo começou. O ano de 2013 foi vivido a sério. Não foi apenas mais um ano que passou, foi o ano que mudou as nossas vidas e, principalmente, a nossa forma de estar na vida. Foi um ano que nos mudou a todos, inexoravelmente.

Mudei de país. Aprendi a estar sozinha, a valer-me sozinha, a tomar decisões e assumir responsabilidades. Aluguei a minha primeira casa. Fiz amigos e estreitei laços com outra família. Aprendi a viver numa aldeia, num huis clos, que nos recebeu de braços abertos. Ajudei os meus filhos a começarem a falar uma nova língua, a adaptarem-se a uma nova realidade. Recomecei a trabalhar fora de casa, a dar aulas. Geri prioridades, horários, actividades, necessidades várias. Fui melhor mãe, mais feliz, mais presente e disponível. Visitei nove países diferentes, quase sempre de carro. Apaixonei-me. Decidi viver esse amor, para a qual não estava minimamente preparada. Escolhi uma escola secundária para o meu filho mais velho, após meses de indecisão. Comprei um carro sozinha. Traduzi livros e um festival de cinema. Voltei a montar a cavalo, juntamente com os meus filhos. Dei um longo passeio de muitos quilómetros com o meu amor. Vi um filho entrar na adolescência com um espanto enternecido. Aprendi a viver com (muito) menos quando fiquei com um horário reduzido este ano, na nova escola. Ganhei uma batalha judicial pela guarda dos meus filhos, mas não tive a paz esperada. Percebi que vou trazer sempre no coração uma saudade do país, da família e dos amigos, do sol que ficou para trás. Fiz uma promessa de amor selada com cuspo, sem papéis assinados, testemunhas ou ilusões de amor eterno. Comecei um blog onde tento passar a escrito todas estas experiências.

Os meus desejos para 2014? Saúde, para os meus e para mim. Trabalho, muito. Duas crianças felizes. O meu amor junto de mim. Paz, finalmente paz. Acho que esta fotografia resume isso tudo…




[ Este blog tem quase três meses e tantas visitas! Quer dizer, não faço ideia dos "valores médios" destas coisas. Mas, para mim, que comecei isto sem qualquer expectativa, só para a família e amigos que estão lá longe, parece-me imenso. E comove-me ver que as nossas aventuras e desventuras tocam alguém. O mundo é muito grande. É possível ser feliz em qualquer lado, desde que se queira. E nós queremos, muito. Desejo-vos um ano novo repleto de coragem para concretizarem os vossos sonhos. ]

9 comentários:

  1. Desejo-te o dobro de tudo aquilo que pedi para mim para o ano de 2014.
    Tenho saudades tuas, Ritocas.
    Beijo enorme para vocês.

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  2. Podes crer, são histórias que tocam de verdade. E desconfio que tem a ver com o modo como escreves. Felicidades ;)

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  3. Obrigada, meninas! Também tenho muitas saudades vossas, dos almoços a falar da vida... Um excelente 2014, cheiiiinho de coisas doces.

    @ Obrigada, Ricardo. Gostei muito de vos ver a todos no dia de Natal pelo skype. O Mateus está lindo! Felicidades para ti e para a Tininha. :)

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  4. Uau! Que ano fenomenal. És uma inspiração, mesmo mesmo.

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  5. O meu nome é Johnny M. e aprovo esta mensagem.

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  6. Sem palavras para a tua força. Apetece-me pegar no telefone para te ligar :-)

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  7. Não achas que isto já começa a ter forma e conteúdo que justifica começar a procurar uma editora (que tenha sobrado da voragem devastadora...)?

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  8. @ Obrigada, Gralha. Nem imaginas como me sabe bem ler isso... eu que te sigo há tanto tempo. Um beijinho grande.

    @ Olha, o Artur!!! Junta-te à malta de letras que é tão sonhadora como tu. Sabes que gosto de escrever, seja para reescrever as palavras de outros em diferentes línguas, para as legendar ou, simplesmente, para contar as nossas aventuras à família, amigos e aos que aqui vêm parar por acaso. Gosto de me sentar com uma chavena de café a escrever, quando a casa já está em silêncio e o D. Fuas ronca aos meus pés. E isso chega-me.

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