terça-feira, 26 de maio de 2015

Fartar, vilanagem

(Onde se corre as capelinhas todas e ainda fica tanto por ver...)

 
 
 
No fim-de-semana passado foi um fartar, vilanagem. Todos os anos, as diferentes câmaras da Valónia fazem um “Fim-de-semana portas abertas” durante a Primavera. O objectivo é dar a conhecer a região aos turistas, mas igualmente aos próprios habitantes do concelho. Em Vielsalm, havia cerca de sessenta actividades gratuitas possíveis e nós quisemos aproveitar ao máximo. Não parámos durante dois dias, de manhã à noite, a fazer literalmente de turistas em casa.

Começámos por visitar o castelo de Farnières, logo no Sábado de manhã, cujos jardins têm um arboretum de rara beleza.

 
 



Após andarmos uns largos quilómetros no meio dos bosques, chegámos ao novo percurso de cordas nas árvores. Felizmente, nenhum dos miúdos quis experimentar, porque aquilo era mesmo muitoooo lá em cima.
 

A seguir, fomos conhecer um senhor que constrói hotéis para insectos. O Vasco e eu já tínhamos reparado nestas pequenas estruturas de madeira que estão espalhadas um pouco por toda a parte no concelho e estávamos curiosos. Cada brincadeira daquelas custa uma pequena fortuna, pelo que decidimos tentar construir nós mesmos um hotel para abrigar as abelhas que temos no quintal.
 




 Acabámos o dia no Centro Europeu do Cavalo, o ponto alto deste fim-de-semana. Acho que nenhum de nós estava preparado para o que nos esperava. Pensávamos que íamos ver demonstrações de cavalos ou coisa que o valha. O que já não seria nada mau, tendo em conta paixão que a tribo nutre por estes animais. Mas este não é exactamente um centro equestre onde se dão simples aulas de equitação. Trata-se do maior centro europeu de estudo e reprodução de diferentes raças de cavalos, bem como de desenvolvimento das diversas profissões do mundo equestre.

A visita começou com uma apresentação das diferentes valências do centro. Seguiu-se uma demonstração de um cavalo de trabalho das Ardenas que, obedecendo apenas aos comandos da voz, transportava troncos enormes. Depois, assistimos à apresentação do trabalho de um ferreiro, igualmente interessante. Tivemos ainda oportunidade de assistir ao treino de um cavalo no tapete para estudar diferentes parâmetros. A tecnologia de ponta para melhorar a performance e a qualidade de vida destes animais nos dias de hoje é absolutamente fascinante.

No final, fomos visitar o centro de reprodução. Quando nos disseram a rir que o cavalo de trabalho que tinha feito todas as demonstrações da tarde ia finalmente ter a sua “recompensa”, eu vi logo a minha vida a andar para trás. Para ajudar à festa, no grupo de visitantes estava uma velhota dos seus setenta anos que não tinha vergonha nenhuma de fazer as perguntas mais mirabolantes possíveis. Eu não sabia bem como explicar ao Vasco o que se ia seguir. O Diogo ria-se à parva, o meu amor arregalava os olhos cada vez que a velhota abria a boca e eu… eu tentava explicar rapidamente os factos da vida à coisa pequena, no intuito de o preparar rapidamente para a versão hardcore da reprodução equina. Como o próprio veterinário explicou, aquilo entrava claramente no âmbito da pornografia para cavalos. Resumindo, assistimos à preparação do frasco para estimulação e recolha do esperma do animal (sendo que a velhota aproveitou para fazer várias perguntas sobre preservativos equestres), à preparação do “manequim” (que a velhota não achou lá muito estimulante, mas que pareceu agradar de imediato ao “cliente” em questão), contemplámos a cena pornográfica propriamente dita (que deixou a velhota espantadíssima pela evidente satisfação equina) e, por fim, à recolha do esperma que acabou por ser deitado fora, porque não ia ser utilizado (provocando a pertinente pergunta se “aquilo” era biodegradável). A coisa pequena não estava a perceber lá muito bem o que se passava, mas é de reconhecer que as minhas explicações improvisadas e atabalhoadas não foram as melhores. Quando, no dia a seguir, nos falou do “corante branco” que tinha ficado dentro do frasco, percebi que se impunha uma conversa séria sobre sexualidade. A verdade é que o Vasco nunca pareceu muito interessado neste assunto, portanto fui adiando uma primeira conversa. Infelizmente, as crianças da cidade não compreendem os factos da vida ao contemplarem os animaizinhos em plena acção…
 











No dia seguinte, levantámo-nos bem cedo para ver se conseguíamos visitar o máximo de sítios possível. Como o Diogo tem andado com dores num pé nos últimos tempos, decidimos deixá-lo descansar. No Domingo, começámos por visitar uma torre bastante bem conservada, que há meses nos chamava a atenção. Afinal, trata-se de uma geladaria do século XIX.
 




Seguiu-se uma visita a uma quinta que vende produtos biológicos, onde eu nunca tinha ousado entrar porque pensava que tudo seria excessivamente caro… não podia estar mais enganada. Por pouco, não saíamos de lá com uma cabrinha debaixo do braço (viva e de boa saúde, bem entendido). No recinto da quinta, havia uma exposição de vários pequenos produtores e artesãos que vendem os seus artigos na lojinha da quinta. Foi muito interessante falar com dois jovens que “cultivam” trutas, um belga meio hippie que criou uma cadeia sustentável de cultivo e importação de café e uma artesã espanhola que só trabalha com lã biológica. À saída, recebi uma catapulta de mensagens do meu filho crescido: “Onde estão todos?”/ “Acordei e não vi ninguém”/ “O que posso comer?”. Decidimos, então, fazer uma paragem em casa para almoçar a truta fumada, o pão biológico e os queijos de cabra que tínhamos acabado de comprar.




À tarde, visitámos o Musée de la coticule, uma espécie de pedra de amolar típica desta região formada por xisto com mais de 480 milhões de anos, reputada pela sua eficácia e longevidade. A indústria da extracção da coticule teve início no século XVI e museu, constituído em parte por um verdadeiro atelier, parece datar dessa época. Mas acabou por ser engraçado visitar um museu que é um museu em si mesmo, como uma espécie de palimpsesto. Estávamos nós a pensar em como é muito mais atraente para os miúdos desta geração visitar museus modernos e interactivos, quando as máquinas todas do atelier começaram de repente a trabalhar sozinhas, como que por magia. E aí, sim, a visita ficou imbatível e o Vasco riu à gargalhada.
 


 
 


No final do dia, já exaustos, fomos conhecer uma loja nova que abriu aqui perto dedicada exclusivamente à indústria do mel. O proprietário andava por lá a mostrar as colmeias e ficou embevecido com os conhecimentos enciclopédicos sobre abelhas que nós não fazíamos ideia que o filho pequeno tinha. Resultado: tivemos direito a pegar nas abelhas, a provar mel morninho acabado de tirar da colmeia, mexer na cera e experimentar todo o tipo de produtos feitos com mel que a mulher do proprietário se lembrou de inventar especialmente para aquele dia… merengues de mel, chupa-chupas de mel e gelado de mel.











 Ficou tanta coisa por ver! Ficámos com a sensação de que passámos o fim-de-semana a correr e fizemos uma ínfima parte das actividades disponíveis. O que vale é que para o ano há mais… :D

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