(onde se dá outro passinho
em direcção a um estilo de vida mais saudável)
Não
sei se alguém começará a fazer os seus próprios produtos da noite para o dia,
por atacado. No meu caso, foi um processo gradual. Depois de termos adoptado
uma alimentação mais saudável, pareceu-me o passo seguinte mais lógico. Não
tinha sentido oferecer uma alimentação natural à tribo e, depois, deixá-los
encharcarem-se em produtos químicos. Tudo aquilo me começou a fazer uma
confusão tremenda: os químicos presentes na roupa, nos detergentes com que
lavamos a roupa, nos produtos que usamos na nossa higiene pessoal e na limpeza
da casa… Se evitamos ingerir químicos, por que razão devíamos continuar a absorvê-los
como se nada fosse? Se tenho o cuidado de ler os rótulos dos produtos
alimentares que comemos, não deveria fazer o mesmo com todos os outros produtos
que usamos? O problema é que é muito difícil perceber quais os componentes
exactos deste tipo de produto… até porque há vários nomes para um mesmo princípio
activo.
Tomemos
o exemplo do lauril sulfato de sódio, um detergente e surfactante altamente
desengordurante (e económico), que se diz ser potencialmente cancerígeno.
Embora não haja qualquer evidência científica que apoie essa teoria, o lauril
está omnipresente nas nossas casas sob diferentes identidades: lauril
éter sulfato de sódio, lauril
éter sulfonato de sódio, sodium lauryl sulfate, sodium lauryl
ether sulfate, sodium laureth sulfate, sodium dodecyl polyoxyethylene sulfate,
sodium lauryl ethoxysulfate, sodium polyoxyethylene klauryl sulfate,
monododecyl ester sodium salt sulfuric acid, sodium dodecyl sulfate, sodium
lauryl sulfate, sodium salt sulfuric acid, sulfuric acid monododecyl ester
sodium salt, sulfuric acid, sodium salt, akyposal sds, aquarex me e aquarex
methyl (www.ecycle.com). Sem querer ser adepta da teoria da
conspiração, pergunto-me se haverá assim tanta necessidade de esconder um
ingrediente inócuo. E se é tão indispensável na composição de diferentes
produtos de higiene e lavagem (essencialmente porque faz espuma) será que a
indústria está disposta a admitir o perigo e a substituí-lo? Basta pensar no
tempo que foi preciso para finalmente admitirem que os parabenos são
cancerígenos… e, ainda assim, continuam presentes em tantas marcas. No mínimo,
sabe-se que o lauril é irritante e nocivo para a pele… e que estamos permanentemente
em contacto com ele, porque está presente no detergente da roupa e da louça, na
pasta de dentes, no champô, no gel duche, etc. Ou seja, um bocadinho aqui, um
bocadinho ali… o resultado será seguramente pouco saudável.
Como
sou leiga na matéria, fiz uma investigação aprofundada antes de me lançar nesta
aventura. Li alguns livros, espreitei muitos sites e passei horas a ver vídeos no youtube. Depois, fiz uma lista
dos principais ingredientes e do material que ia precisar para começar a fazer
os meus próprios produtos. Sendo tradutora, não me fiei no “nome oficial” dos
ingredientes e fui à procura das designações técnicas (ajuda ter um cientista
em casa). Até porque consultei sites
de tantas línguas diferentes que acabei por ficar um bocado baralhada! A seguir,
fiz o investimento de comprar os ingredientes todos de uma só vez. Descobri que
há imensa coisa que se vende a granel na farmácia, bastante mais barata do que
nas lojas de produtos biológicos ou nas ervanárias… com a vantagem de poder começar
por comprar quantidades menores para experimentar e de poder fiar-me na tal
denominação técnica, o que me dava alguma segurança. Os óleos essenciais foram os
únicos componentes que fui comprando consoante as necessidades. Por fim, à
medida que os produtos iam acabando lá em casa, comecei a substituí-los por
produtos naturais feitos por mim. Algumas experiências resultaram logo à
primeira (como o detergente para lavar a roupa), outras exigiram vários ajustes
(o detergente para lavar a louça, o maior desafio até agora). Também houve
produtos que foram melhorados por sugestão de especialistas (a pasta de dentes,
por exemplo). Houve ainda produtos que foram evoluindo para melhor se adaptarem
ao nosso uso pessoal (o creme hidratante sofreu bastantes modificações).
Neste
momento, as nossas “fórmulas” já estão fixas, por assim dizer. Há cerca de dois
meses que não compro quaisquer produtos para a casa e de higiene pessoal, à
excepção do champô (mas não pensem que me dei por vencida). Confesso que adoro
passar por esses corredores no supermercado sem parar. A auto-suficiência dá-me
uma satisfação enorme. Sim, devo convir que faço isto porque me preocupo com a
saúde da tribo, por uma questão ecológica – por vezes, até mesmo económica –
mas também porque me diverte. Não acredito que se consiga mudar radicalmente de
paradigma se isso não for encarado como um hobby.
Os homens da casa compreenderam e aceitaram muito bem a mudança, mas não tenho
ilusões. Se tivessem de ser eles a fazer isto tudo, depressa trocariam os
produtos naturais pelos de compra. Felizmente, redescobri o prazer que sentia
com as caixas de experiências químicas da minha infância. O meu amor às vezes
vem espreitar o que estou a fazer e desata a rir. Chama-me “a minha
alquimista”. E eu adoro! Na volta, falhei uma grande carreira num domínio que
nunca me passou pela cabeça…
Contrariamente
à culinária, fazer os seus próprios produtos naturais oferece pouca margem de manobra.
Não há grande espaço para o improviso. Não se pode fazer as coisas a olho, nem substituir
um ingrediente por outro só porque era o que havia lá em casa. Há quantidades
que têm de ser respeitadas, há tempos de repouso que são mesmo necessários, há
combinações que não podem ser feitas ao acaso ou por uma ordem arbitrária. Posto
isto, sejamos sinceros: por melhores que sejam, os produtos naturais caseiros nunca farão
a mesma espuma… porque lhes faltam detergentes com propriedades espumantes,
como o lauril. Isto não quer dizer que os produtos naturais não limpem de forma
eficaz, nós é que estamos demasiado habituados a associar a limpeza à espuma.
Por outro lado, é verdade que a espuma também facilita o processo de limpeza,
porque espalha melhor. Mas isto resolve-se facilmente, usando um pouco mais de
produto natural do que faríamos se fosse de compra. A meu ver, o único produto
onde se sente mesmo falta deste efeito espumante é no champô. Custa muito
espalhar um “champô natural” nos cabelos compridos… e aumentar a quantidade
também fica complicado, porque faz um frio desgraçado nesta terra! Enquanto não
encontro uma solução que nos satisfaça, andamos a usar um champô biológico em
barra, que desencantei numa loja de produtos naturais. É um nadinha caro, mas
vale a pena. No entanto, consegui substituir o champô em pó que o Diogo e eu costumávamos
usar entre as lavagens, porque temos o cabelo oleoso. Neste caso, foi mesmo por
uma questão de ecologia: fazia-me impressão a quantidade absurda de latas de spray que iam para a reciclagem. O meu
produto natural tem ainda a vantagem de ser colorido… às vezes, o Diogo
aparecia-me aqui em baixo com restos de pó branco no cimo do toutiço!
Quais
são, então, os produtos de compra que já conseguimos substituir por soluções/produtos
naturais fabricados por mim? No que toca aos produtos de limpeza da casa, neste
momento, já estamos a viver em perfeita auto-suficiência: detergente e
amaciador da roupa, detergente da loiça, limpa-tudo, limpa-vidros e produto
para lavar o chão. Quanto aos produtos de higiene pessoal, já conseguimos
substituir: gel-duche, sabonete, champô seco, pasta de dentes, creme hidratante
para o rosto e corpo, batom do cieiro, desodorizante e “bombas de sais” para o
banho. Com excepção do detergente da loiça que não chega aos calcanhares de um
Fairy, estou muitíssimo mais satisfeita com os meus produtos naturais. Cada um
de nós tem os seus produtos de eleição, obviamente. O meu amor adora os
sabonetes; o Diogo já pediu para fazer frascos pequeninos com pasta de dentes
para usar quando estiver em Portugal; o Vasco diverte-se imenso com as “bombas”
cor-de-rosa no banho; eu rendi-me ao desodorizante… mesmo! É incomparavelmente
melhor do que todos os que já alguma vez experimentei, pois deixa transpirar a
pele eliminando o mau odor… Ah, ah, ah! Isto agora até parecia um slogan
publicitário! 😊
Este
post ficou bastante mais longo do que
era previsto. Embora saiba que já estão habituados à extensão dos meus textos,
vou deixar as receitas e as explicações para outro post. Provavelmente, ninguém se interessará muito por isto. O que
não falta na Net são receitas de produtos naturais caseiros, mas pronto… Um dia,
pode ser que os rapazes queiram as receitas da mãe, quando já forem
independentes e eu andar a fazer voluntariado numa aldeola perdida em África.
Eu interesso-me e muito! Venham de lá essas receitas, que ainda vão a tempo dos presentes de Natal e tudo ;)
ResponderEliminarSorry, já não deves ir a tempo de fazer os sabonetes, porque têm de repousar 4/5 semanas. Mas as "bombas" dão um prenda bem gira... de fazer e de receber! Depois, conta como correu, ok? (excepto se explodires a casa...ehhhh... nesse caso, guarda para ti, sim?)
EliminarÉ verdade que há páginas e páginas sobre este assunto na Internet mas também é verdade que é muito bom chegar aqui e encontrar um post com toda a informação reunida (a papa toda feita). Cá em casa usamos sabonetes e detergente da roupa feitos pelo meu marido. E ele bem tenta que eu use o detergente da loiça feito por ele mas eu de momento misturo-o com detergente de compra.
ResponderEliminarMas interessa-me muito o desodorizante e a pasta de dentes em concreto e tudo o resto em geral. Espero ansiosamente o próximo post ;)
O prometido é devido, Helena! :) Depois, quero saber o resultado!
EliminarAdmito que é complicado atinar com a fórmula do detergente da loiça. Experimentaram juntar duas colheres de sabão preto e usar sabonete de Marselha biológico? Faz toda a diferença.
Desta vez estou out...Aplaudo essa mudança nos hábitos mais usuais numa casa, na importância de passar esses valores para a geração que precisa de ter um mundo menos "doente"...mas eu sou do tempo em que, em criança, nos faltavam esses bens hoje dados por adquiridos e a luzir nas prateleiras...E não é confortável voltar a esses dias , a banhos com panelas que eram deitadas para a banheira ou para uma espécie de balde suspenso no tecto e que se abria com um fio de metal (lá no Alentejo)! Ainda sinto os produtos que uso como uma melhoria no meu dia a dia, eu que fui sempre obcecada pela água e limpeza! Beijinhos e boas explicações a quem se vai lançar nesta viragem!
ResponderEliminarÉ impossível combater em todas a frentes, Mariana! Eu, por exemplo, não faço desporto... que é fundamental para manter um estilo de vida saudável, bem sei. Digo a mim mesma que é complicado encontrar algo que não me dê cabo dos ombros lesados, que não tenho tempo, que já basta subir e descer os 4 andares desta casa... A verdade é que também sinto que dou para outro peditório, por assim dizer. Tenho a certeza de que a Mariana fará outras coisas pelo planeta.
EliminarBeijinho!
Sinceramente, esta mudança de hábitos desperta-me a atenção especialmente pela parte da ecologia, por serem produtos mais amigos do ambiente.
ResponderEliminarNo entanto, ainda não reuni forças para fazer essa mudança e tenho um senhor lá em casa que é fã da espuma, quanto mais melhor!
Isso foi a primeira coisa que o meu sogro disse sobre a pasta de dentes. Agora há uma série de marcas que começaram a fazer dentífricos com bolinhas de plástico para serem abrasivos... é um atentado ecológico, caraças! :(
EliminarComeça por experimentar um ou outro produto, que não tenha espuma para se irem habituando. Parece que dá uma trabalheira, mas custa muito menos que fazer um bolo. Podes sempre dizer ao homem da casa que a espuma dos detergentes, quando é largada na água, destrói por completo a camada de gordura das penas dos pássaros... toda a gente gosta de gaivotas!