terça-feira, 14 de março de 2017

Depois do inverno

(onde a tribo decide confiar mais uma vez na mãe-natureza

 para se alimentar)



Todos os anos – e já lá vão cinco – dou por mim a pensar que os invernos belgas parecem eternos. Não gosto dos longos meses escuros e frios, que custam tanto a passar. Detesto a chuva omnipresente. Tenho horror da neve e do gelo, que transformam uma simples ida ao supermercado numa epopeia. Sei que o facto de vivermos nas Ardenas eleva tudo isto ao expoente máximo. Há quem se comova com a natureza inóspita que nos rodeia. Há quem vibre com as montanhas que possibilitam descidas vertiginosas de trenó, o ringue de patinagem no gelo e as estâncias de esqui que ficam apenas a 15 minutos de nossa casa. Decididamente, não é o meu caso.

Mas tenho de ser honesta. Existe a lei da compensação. Se não fossem estes meses de tortura, não conseguiria apreciar o início da Primavera da mesma maneira. Os primeiros raios de sol. O calorzinho bom. As flores que invadem os jardins e fachadas das casas. Uma felicidade que faz cosquinhas. Uma espécie de euforia generalizada. O desejo imenso de aproveitar a vida ao ar livre. Acho que ninguém consegue imaginar a alegria que se sente por aqui quando o Inverno se vai finalmente embora. É quase uma alegria incrédula, como se não tivéssemos bem a certeza da passagem inexorável das estações. Por algum motivo, em todas as aldeolas da região se celebra o “Grande Fogo”, que enterra o Inverno e celebra o renascimento da terra.

Este fim-de-semana, o filho pequeno assistiu a mais um Grand Feu com amigos e o filho grande dedicou-se a tratar da estufa. Pensei que a horta estivesse completamente destruída, depois de dias a fio com temperaturas nocturnas que chegaram aos -20º C. A entrada ficou obstruída com uma montanha de neve que teimava em não derreter. E nós desistimos de lá ir regá-la. Como dizem os brasileiros, entregámos para Deus. Felizmente, o deus dos ateus foi imensamente generoso com as plantações da tribo. Salvaram-me as couves, os brócolos, o alho francês, o aipo e as ervas aromáticas. Salvaram-se inclusivamente umas cenourinhas bebés… que eu desenterrei a pensar que eram ervas daninhas. É para verem o que eu percebo da poda!

No Domingo, fomos à feira de Bomal comprar rebentos de novas plantações. Bem sei que ficava mais barato comprar sementes, mas nenhum de nós tem paciência para esperar tanto. De qualquer modo, o bom tempo dura tão pouco neste país, que o melhor mesmo é dar uma ajudinha à mãe-natureza. Apesar de tudo, o Diogo decidiu tentar plantar as sementes de abóbora que sequei no Verão. Vamos lá ver… Tenho mais fé nos rebentos de tomate, morangos, alfaces diversas, erva-doce e cebolinho que plantámos nas “incubadoras”. Ficaram a faltar os alhos, cebolas, batatas, curgetes e pimentos, que prefiro comprar biológicos no supermercado. Os três primeiros, basta deixar grelar e plantar. Os outros, recuperam-se as sementes e planta-se. Simples! Se tudo correr bem, este Verão seremos auto-suficientes. Ou quase, quase.






 [ filho crescido desapareceu a dada altura e voltou cheio de comida ]
 [ filho pequeno aproveitou para tentar entrar discretamente rio adentro ]

 


[ o Peanuts aprendeu a correr em liberdade no jardim e a voltar, quando o chamo ]

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