segunda-feira, 16 de março de 2015

Parece que são como gatos…

(onde se apresenta o Bitoque e o Bifana)

 

Desde que a Belle morreu que o Vasco andava a pedir outro animal. Eu concordei, mas expliquei-lhe que não se podia simplesmente substituir um bicho por outro. Era importante aprender a fazer o luto. E que isso levava o seu tempo.

Como se sabe, a coisa pequena tem uma relação muito própria com o tempo. Passa sempre demasiado depressa. Portanto, lá fomos nós ao sítio do costume, mais cedo do que o previsto. A ideia era comprar outro bicho pequenino, para aproveitar a coisas que tinham ficado da Belle (caixa, comida, roda, etc.). Avisei-o de que escusava de se pôr com ideias mirabolantes. Tipo répteis viscosos que comem ratos. Ou chinchilas saltitonas, a sua mais recente paixão. Decidi jogar pelo seguro e deixar o meu amor em casa. Bastava-me levar um com queda para o disparate. Claro que nunca pensei deparar-me com um vendedor ultra-eficiente…

Eu: Olha ali aquele hamster anão tão fofinho, Vasco…
Coisa pequena: É minúsculo! Gosto mais dos gerbilos.
Vendedor: Os gerbilos são animais muito engraçados.
Coisa pequena: São parecidos com as chinchilas, não são?
Eu: Hum
Vendedor: Pois… mas não são tão sensíveis.
Coisa pequena: Posso ter um gerbilo, mãe? Posso?
Eu: E quanto tempo vivem, em média?
Vendedor: Cinco anos.
Eu: Hum
Coisa pequena: Posso, mãe? Posso?
Vendedor: Olhe que não dão trabalho nenhum. Nem deitam cheiro. Comem muito pouco, quase não bebem água…
Eu: Hum
Coisa pequena: Posso? Posso?
Eu: Mas são roedores como os hamsters? É que tivemos uma que dava cabo de gaiola atrás de gaiola… E que fazia um barulho desgraçado, quando se punha a roer durante a noite.
Vendedor: Não, nada disso. O gerbilo é um animal do deserto. Vai adaptar-se aos vossos horários num instante. Não fazem barulho nenhum à noite.
Eu: Hum
Coisa pequena: Então, posso? Posso?
Eu: E é um animal amistoso? Pode-se pegar nele?
Vendedor: Sim, sim… Isto mais parece um gato.
Eu: Hum
Coisa pequena: Posso? Posso? Posso?
Eu: Está bem, escolhe lá um.
Vendedor: Não se vai arrepender, minha senhora. É um animal muito engraçado.
Coisa pequena: Obrigada! És a melhor mãe do mundo! Quero o preto.
Vendedor: Pois… mas é melhor levar mais um. São animais que vivem em comunidade, sabe? Morrem de solidão…
Eu: Hein?! É melhor escolheres outro bicho, Vasco...
Coisa pequena: Mas tu disseste que sim, mãe! Quero o preto! O preto e o castanho! Levamos só dois, está bem?
Eu: Hum... Pronto, está bem.
Vendedor (já com os dois gerbilos enfiados na caixa de cartão): E gaiola, tem?
Eu: Tenho a caixa do hamster. Não serve?
Vendedor: Pois… é melhor, não. É que os gerbilos precisam de saltar. São tipo esquilos. É preciso mais do que um andar. Estas aqui, são perfeitas… E estão em promoção.
Coisa pequena: Levamos também a gaiola, não é, mãe? O senhor diz que é melhor...
Eu: Seja…
Vendedor: E comida, já tem comida?
Eu: Tenho a comida que sobrou do hamster. Não serve?
Vendedor: Servir, serve… mas é melhor misturar com comida própria para gerbilos. Esta aqui é muito boa…
Eu: Mas eles comem uma comida especial?!
Coisa pequena: É melhor levar um saco de comida, mãe... O senhor diz que é preciso.
Eu: Seja… Pronto, está tudo. Agora vamos embora.
Vendedor: Só falta a areia…
Eu: Mas qual areia?! Eu uso pallets e ainda lá  tenho um saco cheio!
Vendedor. Sim, claro. Pode pôr pellets no fundo da gaiola. Mas os gerbilos precisam de areia para limpar o pêlo. Têm de ter sempre um tupperware cheio com areia limpa. Vou só ali buscar um saco de areia muito em conta...

 
De maneiras que é isto… Saímos de lá com uma gaiola de dois andares, comida especial e um saco de areia minúsculo a um preço proibitivo. Mais a merda dos gerbilos, feitos histéricos dentro da caixa de cartão. E um prospecto informativo, que se eu tivesse começado logo por ler me teria refreado o “sim” inicial.

O que dizer dos gerbilos? Que no caminho de regresso de 15 minutos conseguiram roer as duas caixas de cartão onde vinham, obrigando-me a conduzir com uma mão no volante e outra no buraco cada vez maior, arrancando gargalhadas à coisa pequena. Que uma vez chegados a casa, os soltámos em cima da cama do Vasco e que nos vimos em sérias dificuldades para os apanhar. Que os gerbilos são uma espécie de bicho hiperactivo, que não se deixa agarrar nem por nada. Que quando os agarramos à força têm uma espécie de convulsões que aterrorizam qualquer um. Que o nível de "domesticabilidade" está muito abaixo de zero. Que roem tudo à sua volta e passam a noite a escavar túneis. Que mordem que se fartam. Resumindo, diz que são gatos... mas estou seriamente desconfiada que me venderam gato por lebre.






 

2 comentários:

  1. Mais valia teres comprado a chinchila... ahahahahahahah.... :P

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  2. LOL! Não me parece... acho que morria de ataque cardíaco no quarto do Vasco! :)

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