terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Adolescer esquizóide e ciumento e atarefado

(porque ninguém nos diz que ter um adolescente cansa)


Filho crescido parece ter-se perdido num limbo qualquer, nos tempos que correm. Algures entre um resquício de infância e as primícias do mundo adulto. Tanto o apanho esparramado no quarto do irmão a fazer construções de Lego, como monopoliza a televisão à noite para ver os debates das presidenciais francesas. Tanto brinca às lutas com o irmão, como cobiça o meu Facebook. Ora lhe ralho porque ia vazando um olho do Vasco com a espada, ora lhe ralho porque está pendurado em cima do meu ombro a ler o que os meus amigos têm a dizer ao mundo. Parece que são muito mais interessantes do que os dele, demasiado infantis. Não quis entrar em polémicas, mas no outro dia vi um tutorial muito curioso que um amigo dele postou. Parece que ensinava a enrolar cigarros. Daqueles que fazem rir. Descobri que se aprende umas coisas engraçadas no Facebook desta malta… e eu que só depois de muita insistência lhes aceito amizade! Em calhando, o adolescente até tem razão. É melhor trocarmos de identidade nas redes sociais.

O problema é que o adolescer esquizóide dá-lhe para a ciumeira. Reivindica uma atenção exclusiva. De manhã à noite. A toda a hora. Fala ininterruptamente e exige ser ouvido no exacto instante em que começa a falar. Exige ser compreendido. É preciso regular o empatiómetro com precisão milimétrica. Temos de rir de imediato com o que o faz rir. E o melhor é ficarmos igualmente chocados com o que o deixa estarrecido. Aqui, não há margem para os cinzentos, nem para as hesitações. Não há espaço para o mas... Daí que seja incompreensível ter ido na quarta-feira à tarde ao cinema com o pequeno. “Mas passei o fim-de-semana a traduzir e não lhe dei atenção”, não serve de desculpa. Porque ele não foi connosco. “Mas era um filme infantil… sobre ballet”, também não chega para nos isentar. Tal como é inconcebível ter comprado um frango assado na feira. “Mas o menino pediu um frango assado, não gomas!”, é um argumento básico. Parece que os 10 euros que dei pelo frango foram um roubo. Um excesso. Um mimo injustificável. Ainda por cima, no dia anterior já tínhamos ido ao cinema... A porcaria da ave até me caiu mal com tanto ralhete.

No entanto, o que me faz mais confusão é a total incapacidade adolescente de estar sozinho com os seus pensamentos. Porque o Diogo está sempre em permanente fazer. Mesmo quando aparentemente não está a fazer nada. Se lhe digo para esperar um bocadinho, mal viro costas, já está atarefado com alguma coisa. Se demoramos mais uns minutos a sair do que o previsto, aproveita para tocar piano. O mais curto trajecto de carro é utilizado para estudar. Se o jantar atrasa um pouco, põe-se logo a ver uma série no iCoiso. Adormece a ouvir os podcasts do professor de Matemática, na esperança de que o subconsciente fixe milagrosamente algum conhecimento. E mesmo quando aparentemente está só a ler, fá-lo de lápis na mão para sublinhar o mais importante. Porque até a ficção lhe serve para aprender algo. Não há almoços grátis. É uma canseira. Ser mãe de um adolescente é extenuante.


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