terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Um morto na sala

(onde a metáfora se torna real)


Há uns tempos, fiquei a dever um favor a um colega de trabalho. Tinha prometido acompanhá-lo a uma feira internacional, onde a nossa associação teria um stand. Como a feira ficava para trás do sol-posto, ficou combinado que eu iria apenas no último dia para lhe dar uma folga. A combinação foi feita com meses de antecedência e, lamentavelmente, acabou por calhar no dia exacto em que os rapazes chegavam de Portugal, depois das férias. Pedi imensa desculpa, expliquei o motivo e disse que não poderia acompanhá-lo. O meu colega compreendeu, mas sei que ficou chateado. Eu também teria ficado, se tivesse de aguentar aquela estucha sozinha, quatro dias seguidos, fim-de-semana incluído. Disse-lhe com sinceridade que lhe ficava a dever um favor, que poderia cobrar quando quisesse. Que contasse comigo para o que fosse preciso. Que o próximo fecho da revista ficava por minha conta. Que podia inclusivamente chamar-me, se precisasse de ajuda para esconder o corpo que tinha ficado no meio da sala, na sequência de um homicídio. Ele lá acabou por rir. Respondeu-me a brincar que era pessoa para cobrar mesmo esse tipo de favor.


A sogra deste meu colega foi encontrada morta há uns dias, em circunstâncias misteriosas. No chão da sala. Ele e a namorada foram chamados ao local. E tiveram de limpar aquilo tudo. Felizmente, a Polícia tratou do corpo.

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