quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Só para terem uma noção

(onde o processo de congelamento ultrapassa as expectativas 
e as recompensas são surpreendentemente sofridas)


Quando estava a chegar ao trabalho, a Dadá ficou sem líquido limpa-vidros. Tendo em conta que, há pouco tempo, desmantelaram um atentado terrorista umas ruas acima, evito grandes passeatas em Verviers. Decidi improvisar. Até porque era impossível voltar para casa sem limpa-vidros. As estradas belgas estão cobertas por uma mistela nojenta de neve e sal. Quando passa um camião, é um ver se te avias. Antes de iniciar o trajecto de regresso, despejei uma garrafa de 250 ml de água no depósito. A ideia era só mesmo chegar a casa em segurança. Normalmente compro bidões de 5 litros de líquido limpa-vidros e ainda havia um resto na garagem. No Inverno, tem de ser anti-congelante. Bom, nesta terra, tudo tem de ter anti-congelante adicionado no inverno: limpa-vidros, líquido de refrigeração do motor, gás da caldeira, etc. Fiz-me ao caminho. Uns minutos mais tarde, apanhei o primeiro camião numa rotunda. Pressionei a manete do limpa-vidros. Nada. Voltei a pressionar. Nada. O líquido já tinha congelado. E assim se manteve airosamente, mesmo quando o carro já estava quente, meia hora depois. É para terem noção do frio que faz. Gela tudo em minutos.

As temperaturas rodam os -8ºC. À noite, diz que já chegou aos -20ºC. Está um sol radioso. E um frio literalmente siberiano. Na meteorologia falam de “temperatura real” e “temperatura sentida”. Esta semana ainda não consegui sentir nada. Também já devo ter congelado. Os miúdos nunca mais se esqueceram da artilharia pesada em casa. Acho que o frio – real ou sentido, sei lá! – faz desaparecer a vergonha. O Vasco tem ido todos os dias para a escola com a combinação de ski e botas de neve. Já tive de comprar outro par, porque chegam sempre ensopadas. Hoje levou o trenó. Parece que é uma recompensa por se terem portado bem nos últimos dias, na sala de aula. Vão andar de trenó à tarde. Mas, primeiro, têm de andar uns 20 minutos a pé até ao cimo do monte. Com o trambolho atrás. Não quero parecer maldizente, mas já vi castigos severos mais bonzinhos. Raio que os parta, pá!

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