domingo, 29 de janeiro de 2017

Túnel espácio-temporal

(onde vinte quilómetros parecem o dobro)



No outro dia, fui buscar o filho crescido ao trabalho. Era bastante tarde. Estava um frio glaciar. Nevava sem parar. Àquela hora da noite, os limpa-neves já não passam. Ninguém passa. A estrada tinha desaparecido sob grossas camadas de neve. A visibilidade era nula. E com os máximos ainda era pior. Avançávamos sem saber exactamente onde estávamos, não havia um único ponto de referência. Com a neve a bater de forma psicadélica no vidro da frente, como se estivéssemos a entrar a alta velocidade num estranho túnel espácio-temporal. Onde somos sugados. A verdade é que o tempo parece que pára. Senti que estavam reunidas todas as condições para a dislexia conquistar terreno. Sorrateiramente. Entro sempre um bocadinho em pânico, quando sinto que está prestes a acontecer. É como se, de repente, acordasse dentro de um filme desconhecido. E o Diogo que falava entusiasticamente, sem parar. Descrevendo com minúcia o dia de labuta. Os pratos que preparou. Os pratos que serviu. Os pratos que recolheu. Os pratos que lavou. Os clientes. Os colegas. O que fizeram e o que disseram. Um hipnótico som ininterrupto que se vai distanciando, distanciando, distanciando… 

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