(onde
percebemos que somos literalmente unos com a força filhos)
Ontem
foi a estreia do novo filme do Star Wars.
Para não variar, em plena época de exames do Diogo. Depois de um dia gelado, em
que a neve não deu tréguas. À tardinha, os miúdos estudavam. Eu estava enredada
numa tradução (e numa mantinha). Confesso que fiquei feliz da vida quando, já
mesmo em cima da hora, percebemos que os bilhetes de cinema tinha desaparecido
para parte incerta. Foi a prenda de anos que o Diogo ofereceu ao irmão.
Comprou-os há muitos meses atrás e foram connosco para Dublim, juntamente com as
outras prendas todas. E cheira-me que devem ter ficado por lá, perdidos no meio
dos papéis de embrulho que equilibrei com mestria no diminuto cesto do lixo do
quarto de hotel. Infelizmente, filho crescido lembrou-se a tempo que podíamos
mostrar os bilhetes digitais no iCoiso. E lá fomos nós para Liège. Eles numa
excitação parva. E eu com espírito de sacrifício monumental.
Assim
que se sentou na sala de cinema lotada, coisa pequena pôs os óculos 3D,
atascou-se ao saco gigante de pipocas, chegou-se bem à frente e nunca mais ninguém
a ouviu. Quer dizer, eu ouvi-o chorar imensas vezes ao longo daquelas longaaas horas. Filho crescido estava
demasiado nervoso para comer e só conseguiu sorver litros de Coca-Cola que sabe
estar proibido de beber. Mas, desta vez, não me pediu autorização, nem
dinheiro. Atascou-se a mim, com agradecimentos melosos e uma cumplicidade
emocionada que eu mostrei claramente
que estava longe de sentir. Nada o demoveu. Nem mesmo o facto de lhe ter suplicado
que se afastasse, porque o cheiro das hormonas adolescentes nervosas começou a
dar-me cabo do sistema olfativo. O Diogo estava num daqueles seus momentos de mãezice
aguda, misturados com uma alegria parva.
Quando
os anúncios começaram, com dois ursos pardos muito apaixonados a velejar rumo
ao infinito para vender não sei que produto, comentou logo que eram tal e qual
o meu amor e eu. E repetiu pela enésima vez que eramos tãooo felizes. Grunhi que não. Que falasse por ele. Filho grande, imbuído
da certeza do amor materno a toda a prova, respondeu-me a rir que sabia
perfeitamente que eu estava a dizer aquilo “só para o estilo”, para me fazer de
difícil. Insisti que não. Ele abraçou-me e suspirou: “Ó mãe, sei perfeitamente
que estás feliz por estar aqui comigo a viver ISTO.” Pronto, tive de desistir.
Percebi que o Diogo estava mesmo convencido que a emoção era partilhada. Aos 11
anos, é impossível pensar que a mãe pode não gostar de Star Wars. Aos 16, é impossível pensar que a mãe pode não ficar
feliz por partilhar a felicidade filial em relação ao Star Wars. É evidente que a pedagogia infantil reviu a coisa em
baixa. Não são só os bebés que pensam que são uma extensão da mãe. Segundo
consta, os adolescentes também pensam que eles e a mãe são um ser uno, no que à
felicidade diz respeito.
Sem comentários:
Enviar um comentário