segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Somos ou não somos uns jeitosos?

(era uma vez uma cama de solteiro que, afinal, era de casal...

que acabou por se transformar em duas camas)



(no quarto do Diogo até construímos uma mesinha de cabeceira no canto
com a madeira que sobrou...)


(para quem tem miúdos pequenos, aconselho mesmo aquela espécie de saco-cama incorporado nos lençóis. Para fazer a cama, basta puxar o fecho-éclair.)

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Nós e o Ikea

(onde se tenta transformar um erro em dois, com enorme sucesso)



Tive durante muitos anos uma casa Ikea. Demasiados anos. Anos demasiado tristes. Não por amor à marca, mas porque não havia mesmo dinheiro para mais. Infelizmente, em Portugal, o mercado dos móveis em segunda mão é uma utopia. Já para não falar da completa inexistência da doação de móveis usados… estou em crer que por ofensa à vaidade do tuga, não por suposta falta de generosidade. “Pobrezinhos, mas honrados” é uma instituição nacional. Mais vale comprar novo do que recuperar o antigo. Mesmo que o novo seja standartizado, feio, de qualidade duvidosa. E que se lixe a ecologia.

Quando mudei de vida, decidi que nunca mais voltaria a ter uma casa Ikea. É que quando mudei de vida, mudei também de paradigma. Mudei de pele. Definitivamente. E sem olhar para trás. Porém, a realidade obrigou-me a fazer ligeiros ajustes nesta minha decisão. Na pequenina casa de Malempré, onde a nossa aventura começou e fomos tão felizes, o quarto dos miúdos ficava no sótão. As escadas estreitas e o pé-direito reduzido impediam a passagem de móveis. Ainda assim, acho que consegui desencantar muito mobiliário usado, que aos poucos fui recuperando. Excepto as secretárias dos rapazes, que tive mesmo de comprar desmontadas no Ikea. E as cadeiras que faziam pendant. Até mudarmos para Vielsalm.

A nova casa parecia um palacete, quando nos mudámos. Passámos de duas divisões para sete. De dois andares para quatro. Mais uma garagem, uma cave fantasmagórica e um quintal com várias casinhas de jardim. Mais importante, passámos de três para quatro habitantes. Mudou tudo. Mudámos nós, também. A nossa casa demorou muito tempo a ficar pronta. Demorou um ano, para ser mais exacta. Bom… ainda falta o último projecto do meu amor, que tem andado afincadamente a recuperar a velha estufa do quintal. Diz que é para fazer uma horta e um abrigo para as galinhas. E voltou a falar na necessidade de termos uma cabra que, segundo parece, é o corta-relva mais natural que existe à face da Terra. Como se os doze animais que habitam esta casa não fossem suficientes…

Claro que a ocupação de todo este espaço implicou várias idas ao Ikea. Não para comprar móveis, mas para comprar “coisas”: coisas para arrumar, coisas para pendurar, coisas para organizar, coisas para limpar, coisas para fazer outras coisas. Toda a gente sabe que as “coisas” do Ikea são extremamente úteis e baratas. Individualmente, como é óbvio. Porque quando passamos à caixa, euro a euro, chega-se rapidamente às centenas. É uma desgraça. Mas o meu amor descobriu tardiamente que é um fã das “coisas” do Ikea. Até nos conhecer, o Ikea era apenas um quadrado azul no horizonte que balizava a aproximação à pista do aeroporto de Bierset, em Liège. Quando o levámos lá pela primeira vez, andou a espreitar tudo como um miúdo na fábrica do pai Natal. Felizmente também não ficou encantado com os móveis. Excepção feita para aqueles pequenos móveis de pinho baratinhos, por serem facilmente personalizáveis: as mesinhas de cabeceiras ou as cómodas que eu gosto de pintar. Mas, lá está… apaixonou-se pela utilidade das “coisas” do Ikea.

Este Verão, celebrámos o primeiro ano na nossa nova casa. Com mais ou menos obras, com mais ou menos móveis recuperados ou feitos de raiz, com mais ou menos “coisas” do Ikea, demos finalmente os trabalhos de remodelação por concluídos. Remodelação de interiores, bem entendido, que já percebi que o quintal será eternamente um work in progress. Mas – há sempre um “mas”, como diria o Sérgio Godinho – o meu amor desencantou uma última coisa a fazer. A enésima última coisa.

Durante as férias dos rapazes em Portugal, em Agosto, aproveitamos sempre para fazer algumas mudanças nos quartos. A iniciativa é do meu amor, que o meu coração fica ainda mais pequenino de saudades quando vejo aqueles quartos vazios. Depois, passa… à medida que vou desesperando ao tentar ajudá-lo a pôr ordem no caos reinante. Desta vez, não foi diferente. Quando por fim terminámos o quarto da coisa pequena, sentámo-nos ambos em cima da cama a admirar o resultado. A cama abaulou um bocadinho. Um bocado, vá… E o meu amor decretou que aquela cama tinha de ser substituída impreterivelmente. Não pude deixar de concordar. O Vasco é o único que ainda tem a velha cama que comprei para desenrascar nos primeiros tempos, há três anos atrás, numa pousada que ia fechar. Prometi que ia dar uma vista de olhos pelas lojas de móveis em segunda mão da região. Que não, senhor. Que nem pensar. Que o menino tinha de ter uma cama nova. Uma cama é como um par de sapatos, tinha de ser nova. Argumentei que a nossa cama e a do Diogo também são usadas. Respondeu muito depressa que o Diogo ia na terceira cama usada e que nós já tínhamos sido alvo dos comentários jocosos da vizinha por causa do barulho que a nossa cama faz. Certo, mas o Vasco é pequenino… Que estava fora de questão. É pequenino mas vai crescer. E precisa de uma cama nova. Agora. Ainda tentei ver se ele não quereria construir uma nova, especialmente para o Vasco. Nem pensar! Tínhamos menos de uma semana. Perguntei onde raio íamos desencantar uma cama nova? No Ikea, pois claro. De certeza que eu podia abrir uma pequena excepção à regra. E, já agora, aproveitávamos para comprar mais umas “coisas”…

Eis-nos, então, na caixa do Ikea com um mamarracho dividido por três caixas gigantes, mais as tais “coisas”. Pela primeira vez, o preço surpreendeu pela positiva. Parece que a cama estava com 20% de promoção. Mais trinta euros de desconto do cartão Ikea Family. Aquilo pareceu-me demasiado, mas o meu amor sacou logo do cartão todo satisfeito. Chegados a casa, alancámos com o mamarracho até ao terceiro andar e atacámos de imediato a construção do puzzle. Martela daqui, aparafusa dali. Mais as discussões do costume. “Estás a ver a imagem ao contrário”  “É deste lado, não é desse”  “Puseste o parafuso errado. Não é o 025873 é o 025877.”  Apesar de tudo, os trabalhos avançavam a bom ritmo… quando algo me saltou à vista. Estávamos há horas a construir uma cama de casal. Uma rápida pesquisa no site do Ikea explicou o equívoco do preço. De facto, as camas de casal do mesmo modelo da que tínhamos escolhido para o Vasco estavam com uma super promoção. O que não resolvia o nosso problema. “Desmonta-se a cama toda e vai-se lá trocar?”  “Porra, nem pensar!”  “Ficamos nós com esta cama, o Diogo fica com a nossa e o Vasco com a do Diogo?”  “Estás doida?! Tens a certeza de que queres dar ideias a um adolescente de 14 anos?!”  “Não, não… esquece!”  “E se o Vasco ficasse com esta cama?!”  “Tínhamos de comprar um colchão de casal, roupa de cama e mais um édredon.”  “Bolas, fica mais barato comprar uma cama nova… Vamos comprar outra e espetamos com esta no lixo!"  “Mas já gastámos o dinheiro nesta...”  “E se transformássemos a cama de casal em duas camas de solteiro? Uma para o Vasco, outra para o Diogo.”  “Ok, vamos a isso! Vou buscar a serra…”

E, pronto, a modos que é isto. A cama de casal foi cortada ao meio. Dois gavetões para um lado, dois gavetões para outro. Fartámo-nos de fazer desenhos para ver o que se podia improvisar. Comprámos o material que faltava. Andamos há três dias à volta da construção das malfadadas invenções, a rogar pragas ao Ikea que tinha a porcaria da cama de casal arrumada no sítio das de solteiro. A rogar pragas a nós, que não verificámos o código de barras e que não demos logo pelo erro. Os trabalhos avançam lentamente. Deixámos de discutir, estamos demasiado cansados. Já tivemos de voltar ao Ikea porque, entretanto, percebemos que os colchões de solteiro que tínhamos não cabiam nestas novas camas. Não faz mal, andávamos há séculos para os trocar. Ainda eram da leva de coisas compradas na pousada que ia fechar. Escusado será dizer que o meu amor aproveitou para trazer mais umas “coisas”…

domingo, 23 de agosto de 2015

Olha que coisa mais linda…

(e assim se iniciou a “lista das coisas a fazer antes dos 40”)


 

Desde os tempos de A volta ao mundo em oitenta dias (os desenhos animados de Willy Fog que eu adorava, não a obra de Jules Verne que só li anos mais tarde), sou apaixonada por balões de ar quente. Coincidências da vida, o meu amor também tem uma verdadeira adoração por estes engenhos. Embora jogue noutro campeonato… não só já sobrevoou as pirâmides de Gizé num balão, como pôs no ar um aeróstato construído por ele. O mais engraçado é que foi graças ao Memorial do Convento de Saramago, que lhe ofereci há uns anos, que ficou a conhecer o jesuíta Bartolomeu de Gusmão. O meu amor ficou doido com a história da “Passarola”, o primeiro balão de ar quente de que há registo. Em francês, o balão de ar quente é conhecido por “montgolfière”, em homenagem aos irmãos Montgolfier, tidos como seus inventores. Os franceses sempre foram um bocadinho usurpadores…

A vantagem de vivermos em frente ao posto de turismo, é que estamos sempre a par das festividades locais. Não há como escapar aos grandes cartazes colados nas vitrines. Foi assim que ficámos a saber do Festival de balões de ar quente de Hotton, este fim-de-semana. Ainda por cima, as Hottolfiades 2015 decorriam numa aldeola não muito longe daqui. Ontem, depois de um dia a trabalhar no quintal, demos lá um saltinho no final da tarde. Não sabíamos bem ao que íamos, mas foi uma experiência inesquecível. Ficámos cheios de pena que os rapazes não estivessem connosco. De certeza que teriam adorado ver tudo de perto, uma oportunidade rara. Assistimos à preparação dos balões, do princípio ao fim. Não fazia ideia de que dava tanto trabalho e envolvia uma logística tão grande. No final, sem atropelos nenhuns, foram lançados cerca de 50 balões de ar quente. Parecia magia.











 













quarta-feira, 19 de agosto de 2015

O mistério

(ser ou não ser, eis a questão)


 

Sempre que passamos uns dias fora, deixo os animais com a minha vizinha do lado. Por “deixo” subentende-se uma remuneração à escala belga, evidentemente. O problema é que eu tenho duas vizinhas do lado. Digamos que sou a vizinha do meio. Nem sequer posso dizer que me entendo melhor com a vizinha que me fica com os bichos. Temos tido as nossas pegas, porque não é uma pessoa fácil. Enfim, não tem uma vida fácil. Mas comecei por lhe pedir a ela, quando nos mudámos para cá há um ano atrás, e foi ficando. Até porque ela também tem vários animais e trata muitíssimo bem deles. Nestas coisas, sempre é uma segurança adicional. Contudo, nos últimos tempos, comecei a pensar se a outra vizinha não se sentiria ofendida por nunca lhe ter pedido que ficasse com a bicharada. Tipo, se não acharia que não eu tinha confiança nela. E vai daí, decidi perguntar-lhe se estava interessada em tomar conta dos animais quando estivéssemos de férias em Julho. Ok, vou ser totalmente sincera… Também me deu algum jeito fazer-lhe uma oferta mais vantajosa pelo total das duas semanas (contra o pagamento diário que já tenho instituído com a outra vizinha). Ela aceitou, toda contente.

“Nem é preciso pagares-me, que disparate!”  “Ora essa! Era o que mais faltava!”  “Não, senhora! Temos de ser uns para os outros!”  “Pois sim, mas trabalho é trabalho. E tomar conta de 12 animais dá muitooo trabalho!”  “Mas é só dar comida ao cão e abrir-lhe a porta duas vezes ao dia para o deixar correr no quintal…”  “Também é preciso alimentar os outros 11. E dar-lhes atenção. E mudar a água do aquário das tartarugas. E pôr o coelho na gaiola exterior, quando estiver bom tempo.”  “Isso não dá trabalho nenhum! Não me vais pagar por isso!”  “Ai, vou, vou! Ou aceitas ser paga ou não há trabalho para ninguém!”  “Pronto, pronto… depois, falamos nisso, está bem?”  “Nem pensar! Fica já combinado.”

Quando chegámos de férias, a primeira coisa que fiz (quando finalmente me consegui libertar do D. Fuas) foi espreitar a bicharada. Parecia estar tudo em ordem. Mais ou menos em ordem. O aquário das tartarugas não estava lá muito limpo. As gaiolas também precisavam de uma limpeza urgente. Os legumes, que tinha deixado no frigorífico para os roedores, continuavam lá. Percebi que tinham comido exclusivamente cereais e feno durante quinze dias. Mas também não vinha mal ao mundo. O Mignon até parecia maior. Estavam todos vivos e de boa saúde, era o mais importante.

Quando limpei a gaiola da porquinha da India e do hamster, achei o Mignon sujo. Mais crescido, mas bastante sujinho. Pensei que, assim que pusesse pellets e serradura nova, ele trataria de fazer a sua higiene pessoal. Contrariamente à ideia feita, os roedores são animais muito limpos. Também achei que estava um bocadinho estranho… não trepou logo para a minha mão, como de costume. Limitou-se a cheirar-me e a deixar-se pegar. Mas, bom, após a minha ausência prolongada não me podia queixar. Até porque o Mignon foi mesmo o único animal a mostrar sinais de estranheza. As tartarugas, por exemplo, ficaram todas felizes com a escovadela das carapaças debaixo da torneira. É certo que os répteis não são conhecidos por sentirem saudades dos donos…

No fim-de-semana passado, soltei a bicharada à luz do dia. Foi a hora do mimo e da brincadeira. Constança já voltou a dar guinchinhos quando ouve os meus passos. Os gerbilos vieram para a minha mão, coisa que nunca tinham feito. Acho que sentiram falta do contacto humano. E o Mignon também já não estava tão estranho, embora continuasse sujo. Com manchas castanhas claras no pêlo. Tentei limpá-las, mas não desapareciam. Chamei o meu amor, o nosso “quase-veterinário” de serviço. Seria possível aparecerem manchas no pêlo dos hamsters já depois de adultos? Não, impossível. E seria possível os hamsters anões crescerem mais um bocadinho depois de adultos? Também não. De repente, surgiu a suspeita… aquele seria mesmo o Mignon?! O meu amor admitiu logo que também lhe tinha passado o mesmo pela cabeça, quando o tinha visto depois das férias. Não me tinha dito nada para não parecer paranoico. Como raio é que aquele hamster podia não ser o Mignon?! Excepto se algo tivesse sucedido ao Mignon e alguém o tivesse substituído, na esperança de que ninguém desse pela troca. Mas parecia-nos absurdo. Talvez fosse só impressão nossa... Fui à procura de fotografias antigas do Mignon, perdidas no computador. E, se dúvidas houvesse, teriam desaparecido naquele instante. As imagens não enganam. Eu acho que não enganam. Aquele Mignon, ao vivo, ao lado das fotografias do outro Mignon, provavelmente morto, não deixavam margem para grandes discussões: aquele hamster anão não era o nosso. É ligeiramente maior e, principalmente, tem o pêlo com manchas castanhas muito claras.

Há dias que não vejo a vizinha que ficou com os bichos. E, para ser sincera, ainda bem. Não sei o que fazer. Não sei o que dizer. Confronto-a ou não? E se ela me garante que não fez nada e que aquele é mesmo o Mignon? Parece-me absolutamente incrível que alguém seja capaz de esconder a morte de um animal, substituindo-o por outro quase idêntico. Como se um animal de estimação pudesse simplesmente ser substituído. Como se nós não fôssemos dar pela diferença. Como se não tivéssemos direito de saber o que aconteceu ao nosso Mignon. O verdadeiro Mignon. Morte acidental ou por doença, eu nunca deixaria de pagar à vizinha pelo trabalho que teve a tomar conta dos nossos animais todos. Nem ficaria chateada com ela, apenas triste. Assim, sinto uma desconfiança atroz. Sinto que deixei a chave de minha casa e todos os meus animais que adoro a alguém que não merecia essa confiança. Espero que tão cedo a vizinha não me apareça pela frente. Pelo menos até eu saber como reagir. Não quero criar má vizinhança com discussões inúteis, mas acho que não consigo deixar passar o mistério da troca dos Mignons como se nada fosse…

 
[ o verdadeiro Mignon ]
 
 
 [ o falso Mignon ]

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Intimidade

(porque a verdade é que este blog nunca existiria

 se ainda vivêssemos em Portugal)


 

O facto de viver na Bélgica e de escrever um blog em português dá-me alguma liberdade. Pelo menos, eu sinto que dá. Admito que possa ser uma ilusão. As pessoas com quem me cruzo diariamente, a nível pessoal ou profissional, não me podem ler. Aliás, nem sequer sabem que tenho um blog. Os poucos – pouquíssimos – que sabem, não fazem ideia do nome. O mesmo se passa com as pessoas que povoam a vida quotidiana dos meus filhos. Todos os seus amigos. Deste modo, sinto que a nossa intimidade está resguardada. As aventuras e desventuras. Os diálogos. Os passeios. O dia-a-dia. Os sonhos. Os disparates da coisa pequena. O filho grande a adolescer. O meu amor. Eu. Eu que cresci tanto enquanto pessoa, desde que comecei a trilhar este caminho. As nossas histórias ficam apenas entre nós e a família. Nós e os amigos. Nós e os perfeitos desconhecidos que lêem o Amigo Imaginário por esse mundo fora.

Hesitei muito antes de expor fotografias da nossa família, quando criei este blog. No início, os meus filhos apareciam sempre ao longe ou de perfil. Penso que por medo. Mas, bem vistas as coisas, ninguém nos conhece mesmo. A probabilidade de algum leitor nos reconhecer no meio da rua, no trabalho, na escola, no médico, é praticamente nula. Pelo menos, eu sinto que é. O Amigo Imaginário é lido nos países mais estranhos, principalmente em Portugal, mas felizmente quase não tem visualizações na Bélgica. O que me deixa um bocadinho mais descansada quanto à segurança que o anonimato oferece.

Apesar de tudo, procuro ter alguns cuidados básicos. Acho que não sou completamente irresponsável. Nunca ponho imagens dos meus filhos despidos. Tenho fotografias lindas dos rapazes na praia, este Verão. Se as ponho no blog? Não, parece-me óbvio. Também nunca ponho fotografias nem faço posts em tempo real. A mostrar ou a dizer onde estamos, naquele preciso instante. Ou o que vamos fazer a seguir. Tudo o que escrevo é a posteriori. E, quando conto algo que me parece demasiado íntimo, peço sempre autorização aos envolvidos… do maior ao mais pequeno. Aliás, o homem da casa e eu temos um trato. O meu amor é a pessoa mais anti-internet que conheço e eu respeito isso. Não há quaisquer imagens no Amigo Imaginário onde possa ser reconhecido. Em contrapartida, ele não lê o que eu escrevo. Às vezes, goza comigo. Pergunta como raio posso ter um blog com mais de 50 mil visualizações que é demasiado íntimo para ele ler. Respondo que é uma daquelas pequenas contradições que fazem de mim uma criatura especial…


sábado, 15 de agosto de 2015

Somente o necessário. O extraordinário é demais.

(é procurar o vídeo do Mogli e do Baloo no YouTube, que vale a pena)








 

 
Este rapaz passou 600 km a ler, qualquer lugar lhe servia. O outro também, embora felizmente nunca lhe tenha passado pela cabeça ler no meio da estrada... E isto, para mim, é a prova cabal de que o provébio “em casa de ferreiro, espeto de pau” não é verdadeiro. No que à leitura diz respeito, o que é preciso é passar o bichinho e dar o exemplo. Apenas e só. O resto vem por acréscimo.
 
 
[ Além dos livros do Tio Patinhas que se vêem nas fotos, o Vasco levou mais dois de “estilo gore”, como ele diz. O Diogo só levou policiais. Don’t ask]


quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Ele diz que não é romântico

(mas gosto tanto de ser amada assim)


 

Ele diz que não é romântico. Que detesta ramos de flores. Mas quem precisa de um ramo de flores, por mais bonito que seja, quando pode ter um canteiro todo florido? No início de Maio, ele começou a preparar-me uma surpresa. Reparou o velho muro do quintal com o Diogo. Acrescentou mais pedras. Fez as finalizações com bocadinhos de ardósia que desencantou sabe Deus onde. Lavrou a terra e acrescentou fertilizante. E plantou sementes. Muitas sementes de flores do campo, as minhas preferidas. Durante meses, vi-o tirar ervas daninhas e regar. Esperar. Eu desesperei, tenho pouca fé no que não vejo. Ele insistia que era preciso esperar. Que em Agosto, quando os rapazes não estivessem connosco, o meu canteiro teria flores. Mal regressámos de férias, fomos espreitar. O meu canteiro começava a florir. Um tapete de flores campestres de todas as cores para alegrar o meu coração, que este mês se faz mais pequenino de saudades.

Ele diz que não é romântico. Que detesta música romântica. Mas quem precisa de música romântica quando pode ouvir o canto dos passarinhos? Na Primavera, comprei umas casas de pássaros coloridas para enfeitar o quintal. Ele ficou todo contente e desapareceu logo com elas. Acrescentou-lhes uns poleiros de madeira. Mais uns parafusos, onde pendurou bolas de cereais. E pô-las estrategicamente no muro em frente à casa de jantar. Todas as manhãs, quando desço para tomar o pequeno-almoço, a porta do quintal já está aberta. Para eu ouvir os passarinhos madrugadores cantarem para alegrar o meu coração, que este mês se faz mais pequenino de saudades.

Ele diz que não é romântico. Que não tem o meu jeito para embelezar a nossa casa. Mas porquê decorar quando o importante é cuidar? Todos os anos, ele passa dias inteiros fechado nos quartos dos rapazes a preparar o regresso. Arreda móveis, limpa paredes, lava janelas. Arruma legos e jogos e livros. Guarda os sapatos que já não servem. Os brinquedos que caíram no esquecimento. Mete em destaque os preferidos. Constrói prateleiras novas especialmente para eles ou repara algo partido. Há sempre alguma novidade, que ele gosta de me mostrar quando finalmente dá o trabalho por encerrado. Ontem, apareceu-me aqui em baixo todo sorridente, com as mãos atrás das costas. “Adivinha o que eu encontrei?” Era um desenho inacabado do Vasco para nós, que nunca chegou a ser entregue. Uma surpresa para alegrar o meu coração, que este mês se faz mais pequenino de saudades.

Ele diz que não é romântico. E eu respondo que detesto homens românticos. É mentira. É um bocadinho mentira. Porque gosto que ele seja assim… e eu acho que ele é romântico. Sem lugares-comuns, sem atitudes estudadas, batidas, artificiais. Só porque sim. Quem precisa de clichés quando é tão melhor ser amada assim? Romantismo são pequenas atenções que surpreendem, cuidam, denotam amor. Romantismo é conhecer tão bem o outro que lhe antecipamos os estados de alma. E preparamos a rede.



quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Uma imagem vale mais que mil palavras

(felicidade em estado puro pelos olhos do meu amor)

 
 

 
 
  [ riad Puchka, em Marraquexe ]


[ museu de Marraquexe ]

  [ mesquita de Koutoubia ]

  [ entrada do souk ]


  [ jardim Majorelle de Yves Saint Laurent e Pierre Bergé ]



[ a praça Jemaa-al-Fna a diferentes horas do dia ]
 
  [ a foto da praxe com um encantador de serpentes ]

[ a experimentar comidas estranhas ]

[ a caminho do próximo destino ]
 
  [ haja alegria para enfrentar 5 horas de camioneta! ]

 
 
[ Maison d'hôtes de la cité portugaise, em El-Jadida ]


 [ nas muralhas da cidadela portuguesa ]




  [ praia de El-Jadida ]


  [ cisterna portuguesa ]

[ adoro esta fotografia dos três da vida airada! ]

  [ "Seis horas fechado num comboio com esta gente toda?!" ]

  [ Palais El Yazid, em Fez ]
 

[ vista do terraço do hotel sobre Fez ]
 







 [ madrassas, mesquitas, museus, mausoléu, etc. com 46º graus era difícil fixar nomes... ]
 
 
  [ não foi fácil encontrar uma vista bonita sobre Tânger... ]
 

 [ à entrada do "petit souk"  ]


 
  [ a moderna praia de Tânger, onde prédios convivem com camelos ]

  [ estes três palhaços estavam em toda a parte... ]
 
  [ ainda aparvalhados com o controle apertado para apanhar o ferry ]



  
[ a tentar salvar o dia dantesco, em Algeciras ]
 
[ Acho que conseguimos! ]