quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Ele diz que não é romântico

(mas gosto tanto de ser amada assim)


 

Ele diz que não é romântico. Que detesta ramos de flores. Mas quem precisa de um ramo de flores, por mais bonito que seja, quando pode ter um canteiro todo florido? No início de Maio, ele começou a preparar-me uma surpresa. Reparou o velho muro do quintal com o Diogo. Acrescentou mais pedras. Fez as finalizações com bocadinhos de ardósia que desencantou sabe Deus onde. Lavrou a terra e acrescentou fertilizante. E plantou sementes. Muitas sementes de flores do campo, as minhas preferidas. Durante meses, vi-o tirar ervas daninhas e regar. Esperar. Eu desesperei, tenho pouca fé no que não vejo. Ele insistia que era preciso esperar. Que em Agosto, quando os rapazes não estivessem connosco, o meu canteiro teria flores. Mal regressámos de férias, fomos espreitar. O meu canteiro começava a florir. Um tapete de flores campestres de todas as cores para alegrar o meu coração, que este mês se faz mais pequenino de saudades.

Ele diz que não é romântico. Que detesta música romântica. Mas quem precisa de música romântica quando pode ouvir o canto dos passarinhos? Na Primavera, comprei umas casas de pássaros coloridas para enfeitar o quintal. Ele ficou todo contente e desapareceu logo com elas. Acrescentou-lhes uns poleiros de madeira. Mais uns parafusos, onde pendurou bolas de cereais. E pô-las estrategicamente no muro em frente à casa de jantar. Todas as manhãs, quando desço para tomar o pequeno-almoço, a porta do quintal já está aberta. Para eu ouvir os passarinhos madrugadores cantarem para alegrar o meu coração, que este mês se faz mais pequenino de saudades.

Ele diz que não é romântico. Que não tem o meu jeito para embelezar a nossa casa. Mas porquê decorar quando o importante é cuidar? Todos os anos, ele passa dias inteiros fechado nos quartos dos rapazes a preparar o regresso. Arreda móveis, limpa paredes, lava janelas. Arruma legos e jogos e livros. Guarda os sapatos que já não servem. Os brinquedos que caíram no esquecimento. Mete em destaque os preferidos. Constrói prateleiras novas especialmente para eles ou repara algo partido. Há sempre alguma novidade, que ele gosta de me mostrar quando finalmente dá o trabalho por encerrado. Ontem, apareceu-me aqui em baixo todo sorridente, com as mãos atrás das costas. “Adivinha o que eu encontrei?” Era um desenho inacabado do Vasco para nós, que nunca chegou a ser entregue. Uma surpresa para alegrar o meu coração, que este mês se faz mais pequenino de saudades.

Ele diz que não é romântico. E eu respondo que detesto homens românticos. É mentira. É um bocadinho mentira. Porque gosto que ele seja assim… e eu acho que ele é romântico. Sem lugares-comuns, sem atitudes estudadas, batidas, artificiais. Só porque sim. Quem precisa de clichés quando é tão melhor ser amada assim? Romantismo são pequenas atenções que surpreendem, cuidam, denotam amor. Romantismo é conhecer tão bem o outro que lhe antecipamos os estados de alma. E preparamos a rede.



2 comentários:

  1. O meu também diz que não é romântico... mas passados 14 anos "ainda me dá música"...

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  2. LOL... Na volta, os melhores românticos são os que disfarçam! :)

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