(onde se vê um filho pequeno a léguas da sua zona de conforto)
Coisa
pequena anda dividida. A professora de ballet está de baixa prolongada e foi
substituída por um professor de outra academia. O facto de, pela primeira vez,
ter aulas com um homem foi muitíssimo bem acolhida. Há quatro anos que o Vasco
anda imerso num universo exclusivamente feminino sem direito a contraditório. O
problema é que este professor é um apaixonado por dança contemporânea. E a
nossa coisa pequena detesta dança moderna. No 4.º ano era suposto complementar
a formação clássica com aulas de dança jazz obrigatórias, mas conseguiu escapar
com a desculpa de que mora longe e está
no último ano de solfejo e tem as
aulas de violino e o conjunto de
cordas… Não sei bem como, lá arranjou maneira de dar a volta à professora. Ela
ainda tentou convencê-lo a ir para o sapateado que tem uns horários mais
flexíveis, mas o Vasco fez um ar de vómito tão realista que a senhora não
insistiu. E assim andava coisa pequena, feliz da vida com o seu estatuto de
excepção de apenas 2 horas de dança clássica semanais.
Até
que apareceu o Monsieur Dumont a estragar literalmente o esquema todo. Acabou-se
a música clássica. As coreografias, agora, são modernas. Filho pequeno tem
aguentado estoicamente, pois anda encantado com o professor. E porque deixou de
fazer o treino intenso no solo, que o deixava estafado. Parece que estas aulas
têm a vantagem de serem um pouco mais ligeiras. Mas o drama deu-se quando o
professor se lembrou de fazer uma pequenina demonstração para os pais, no final
do 1.º período. Só para mostrar o que andaram a fazer, em Dezembro. Avisou que os
últimos passos só tinham sido ensaiados no início daquela aula e que o
objectivo não era apresentar uma coreografia perfeita. Mas nós, que estamos
proibidos de assistir e apenas vemos o espectáculo bienal, ficámos
contentíssimos. Dez minutos antes do fim da aula, já estávamos todos à porta.
Para piorar as coisas, diz que fiquei demasiado perto e que me pus a filmar. Coisa
pequena estava zangada comigo. E muito pouco à-vontade. Mas eu ia lá perder uma
oportunidade destas…
(... e ainda bem, porque o Vasco está farto de me pedir para ver o vídeo. Não é para defender a coisa pequena - apesar de adorar este meu filho, não sou cega ao ponto de achar que é o próximo Nureyev - mas ele é dos poucos que estava a seguir o tempo. O irmão fartou-se de gozar e diz que não consegue ouvir o professor a dizer repetidamente "lentement"... Eu estava lá e ouvi. No entanto, para quem conhece bem o Vasco, a piada deste vídeo é precisamente a vergonha que é tãoooooo rara nele!)