(porque há que celebrar o facto
de poder começar a comprar botas da Decathlon à minha coisa pequena)
Na
última vez que cá esteve, o tio Rui comentou muito admirado: “Ó rapaz,
mas tu sabes tocar violino e não sabes atar os sapatos?!” Pois… não. Nenhum dos
meus filhos foi lesto nesta matéria. O Diogo também já tocava trompete há três
anos, quando finalmente aprendeu a atar os sapatos. Tinha 10 anos. Talvez a
culpa seja minha. Desde que a pediatra dos rapazes me perguntou se conhecia
alguém com 18 anos desdentado, que decidi aplicar essa máxima a tudo o que
dissesse respeito aos meus filhos. De facto, por que diabo haveria eu de estar
preocupada por um bebé de 9 meses ainda não ter dentes? Algum dia haveriam de
nascer. Pela mesma lógica de ideias, deixei de me preocupar com tudo aquilo que
a sociedade usa para crucificar em praça pública as mães… sempre as mães. “Ainda
não consegue mastigar uma bolacha Maria com 8 meses?! O meu sobrinho comia
entremeadas aos 7!” “Ainda não anda com 16 meses?! O meu começou a fazer
corrida de obstáculos aos 12!” “Não
consegue desenhar uma figura humana com 3 anos?! O filho da minha vizinha fazia
reproduções do Picasso aos 2!” “Não saber apertar os atacadores com 10 anos?! O meu primo faz tricot desde os 6!” E,
assim, sucessivamente…
No
caso dos atacadores, há apenas um problema. Um problema de monta, é certo. A
partir de um certo número, os sapatos têm todos atacadores. Quer dizer, até se
encontra calçado 35 com velcro, mas não na Decathlon. Ou em marcas mais
económicas. A verdade é que dói na alma gastar uma fortuna em sapatos que não
fazem uma estação inteira nos pés do Vasco. Calçado é a única coisa que eu não
compro em segunda mão. Até mesmo porque petite
chose tem uns pés de princesa e é muito sensível. Assim sendo, para a rentrée comprei-lhe uns sapatos de pele
com velcro que me custaram quase 50 euros e uns ténis da Decathlon para os dias
de Educação Física. Lamento, mas nesses dias tem mesmo de pedir a alguém que
lhe ate os ténis. No outro dia fui buscá-lo à escola e ouvi um menino pequenino
dizer-lhe que tinha os ténis desapertados. O Vasco não deu parte fraca. Com um
ar superior, respondeu que estava na moda. Acho que o menino não ficou muito
convencido… No carro, lá me explicou que este ano a coisa estava complicada. É
dos mais crescidos na escola, já não pode andar constantemente a pedir que lhe
atem os sapatos. Disse-lhe que andar com os atacadores desapertados
também não era solução. Que em breve vinha aí a chuva e a neve… “Talvez esteja mesmo
na altura de aprenderes a atar os sapatos!”, lancei-lhe. Ouvi um longo suspiro.
Ontem,
o Vasco chegou ao pé de mim com um sorriso de orgulho. E uns laços mal-amanhados
nos ténis. É que hoje é dia de Educação Física. Nada como uma motivação extra
para se alcançar grandes feitos. A um mês de fazer 10 anos. Toca violino desde
os 2 anos e meio.
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