(onde se apresenta os protagonistas
desta aventura)
Eu
sou uma espécie de amálgama entre uma prestadora de serviços e uma gestora de
tarefas. Tenho uma licenciatura em economia doméstica, mestrado em gestão de
conflitos e doutoramento em life coaching.
Quando nada disto resulta, mando dois berros. Sou a pessoa que alimenta as
feras, trata da roupa (no caso do Vasco é, sobretudo, cosê-la), limpa a
barraca, conduz o imaginário-móbil, ajuda a fazer trabalhos de casa, distribui ralhetes
e castigos e beijinhos (nem sempre em proporções equitativas). Nos tempos
livres, sou professora de línguas e tradutora. Tem dias em que chego a falar
quatro línguas e acho que vou dar em doida. Portanto, a minha maior proeza é
conseguir manter a sanidade mental. Pronto, alguma sanidade mental. Vá… a
necessária para isto andar para frente sem descarrilar.
O
Diogo tem 12 anos e já calça o 43. É claramente arraçado de ogre. Consegue comer
este mundo e o outro, antes mesmo de eu me sentar à mesa. E, pouco
depois, diz que tem fome. É o crânio da família, tem mais ideias idiotas por nanosegundo
do que nós todos juntos. É conhecido como o escravo de serviço: passeia o Fuas
à tarde, limpa a gaiola dos bichos pequenos e solta-os no final do dia, limpa o
quarto ao sábado. Fora isso, diz que estuda que se desalma mas não há provas
concretas, toca muito pouco trompete, aplica-se desalmadamente no solfejo 5
minutos antes de a aula começar. Devora livros de ficção científica, enquanto troca
sms com os amigos em duas línguas diferentes, joga no iPod, vê um filme e
conversa comigo. Apesar disso, a sua maior façanha é conseguir roer as unhas
dos pés. E o conhecimento enciclopédico sobre Star Wars.
O
Vasco é o palhaço do circo. Tem bichos-carpinteiros nos pés e no corpo e na cabeça. Toca violino e está sempre a cantarolar. Come
formigas, lambe lesmas, rouba a ração do cão e devora estalactites que tira
debaixo dos carros no Inverno, mas vomita se o obrigar a comer uma folha de
alface. Nunca esteve doente na vida, cai normalmente duas vezes por noite da
cama abaixo e vem sempre da escola com as calças rasgadas. Lê BD em voz
alta como se estivesse na Idade Média. Escreve emails absolutamente deliciosos.
Domina três línguas na perfeição: português, francês e emigrantês. O seu maior feito é ter sido mandado para a rua na aula de solfejo
com apenas 6 anos. Está visto que tem um futuro brilhante pela frente.
D.
Fuas Roupinho é um cão de caça, que foi adoptado já adulto. E, basicamente,
está tudo dito. Não pode ser solto porque foge como se o espancássemos
diariamente. Consegue cheirar uma migalha de bolacha podre a quilómetros. Persegue
incansavelmente tudo quanto mexe. Faz chichi no chão quando lhe ralhamos (se
for um homem, basta olhar fixamente) e tenta morder os tornozelos dos miúdos
quando grito com eles. Um aliado, portanto. Tem uma função de aspirador que é
activada automaticamente quando o Vasco se senta à mesa. Ah… dorme de patas
para o ar, com a língua de fora.
O
Peanuts é um coelho completamente tarado. Era suposto ser anão, mas deve ser do
ponto de vista do Gulliver. Pede festas à bruta como se fosse um cão e adora
mimo. Descobri (depois de o adoptar, parva!) que costumava andar pela casa em
liberdade. Por isso, passa a vida a dar cabeçadas na porta para ver se a abre.
Já destruiu duas gaiolas com a brincadeira. E quando digo gaiolas, refiro-me a
jaulas com 1mx0.8m. Deve ser familiar distante do Tambor, porque bate
furiosamente com a pata no chão para nos acordar a todos de madrugada.
O
Dó Ré Mi é um porquinho da India que deve maldizer o dia em que veio parar a
esta selva. É uma criaturinha nervosa que não deixa nada a desejar a um cavalo de corridas em termos de velocidade. É tão feio que chega a ser bonito. Adora festas atrás das orelhas e exprime o seu contentamento como se fosse um porco na matança. Fizemos-lhe uma casinha de madeira este fim-de-semana e nunca mais ninguém o viu.
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