(já não sei se ria, se chore)
Eis
o resumo do dia de ontem:
Levei
o Vasco à escola às 8h30. Deixei as tartarugas dele a apanhar banhos de sol no
quintal. Passeei o cão.
Como
era quarta-feira, fui buscar o Vasco às 12h. Vinha com a mochila (mais)
rasgada. Fez mais um amigo.
Fui
com o Diogo à psicóloga às 13h. Dissemos tudo o que tínhamos a dizer um ao
outro e saímos de lá a rir. Temos um exercício para fazer, mas já não me lembro
bem qual é.
Segui
o trajecto do sol e fui pôr o aquário das tartarugas no parapeito da janela.
Fomos
ver um espectáculo de piano a quatro mãos às 15h, que substituía a aula de
solfejo do Vasco. Fiquei fascinada a olhar para os dedos da minha coisa pequena,
que se mexiam de forma involuntária para seguir o ritmo. O grande aconchegou-se
a mim.
Deixei
o Diogo no solfejo às 16h30 e trouxe o Vasco para casa. Mas antes fui
comprar-lhe um casaco de motoqueiro.
Fui
buscar o Diogo às 17h20 e seguimos a voar para o dentista. O Diogo ligou a
dizer que íamos chegar atrasados, mas eu descobri um novo atalho e chegámos a
horas.
Fomos
os três ao supermercado, à hora do fecho. O Vasco comeu gomas que apanhou no chão. O
Diogo só bebe leite de soja, desde que vimos um documentário sobre a indústria
alimentar nos EUA (mas se eu deixasse, continuaria a comer hambúrgueres).
Chegámos
a tempo de ir à mediateca itinerante encomendar o “Billy Elliot”. O Diogo
trouxe um CD dos Dire Straits e o Vasco um jogo do Star Wars para a Nintendo
DS.
Fiz
feijoada para o jantar. Houve uma enorme discussão à mesa por causa da divisão não
equitativa da farinheira. Procurei o resto da tarte de amoras que tinha feito
no dia anterior, mas não a encontrei. São umas marabuntas. Comemos uvas.
Lavei
a loiça e arrumei a cozinha, enquanto o meu amor acabava o ditado do Vasco.
Preparei
as coisas para o dia seguinte. O Vasco perdeu mais um casaco. E esta semana as
bolachas dos lanches sumiram-se mais depressa.
Supervisionei
discretamente um banho. Enchi o Vasco de beijos e deitei-o.
Desabei
no sofá. O Diogo alapou-se a mim. Mandei-o para a cama. Ele disse que a
psicóloga nos tinha mandado comunicar mais. Desatámos a rir.
O
Diogo foi finalmente tomar banho, mas fez tanto barulho que o Vasco não
conseguia adormecer.
Subi
para ralhar com eles. As coisas acalmaram. Desabei no sofá.
O
meu amor disse “Finalmente, sós”.
Os
zunzuns lá em cima recomeçaram. O meu amor subiu para ralhar com eles, mas
imitou os meus passos zangados nas escadas e isso fê-los rir.
Ligámos
a televisão, mas preferimos ficar a falar. Temos sempre tanto que falar e tão
pouco tempo. Comi caramelos. Vimos uma série, mas adormecemos os dois a meio.
Levantámo-nos
para ir passear o cão. O meu amor disse: “Fica, estás com febre. O médico disse
que tinhas de ficar de repouso.” Demos uma gargalhada, o dia foi tudo menos
repousante. Um dia igual a tantos, tantos outros.
Aproveitei
para ler os e-mails na tablet. “Os meninos têm pediatra? Com que frequência têm
consultas? Reparaste que o Vasco não cresceu este ano? Vê-se nas fotografias.”
Não sei se ria, se chore.
O
meu amor riu-se, quando chegou. Eu não. Mas também já não choro. Fui dormir,
que é sempre a melhor solução para todos os males.
[
O crescimento do Vasco abrandou há dois anos. Mas teve uma anemia pelo meio. Não preciso do excelente método
científico da fotografia para ver isso. Nem de um pediatra. Muito menos de uma
fita métrica. Bastam-me os meus olhos de mãe. Aqueles que me fizeram marcar uma
consulta num endocrinologista pediátrico há meses atrás. Por puro descargo de
consciência. A coisa pequena é a minha cópia conforme. E eu tenho 1.52m. Não há
milagres. Só acusações. Infundadas, pois claro. Porque eu tornei-me excelente no exercício quotidiano da parentalidade defensiva. ]
É pá, mas isso tem de cansar, bolas.
ResponderEliminarCansa, pois. Houve alturas em que era claramente esgotante. Mas, às tantas, entra no hábito e deixa de se ligar. Quem não deve, não teme. Por isso, é ignorar a insanidade alheia e seguir calmamente com a nossa vida.
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