sábado, 20 de setembro de 2014

Passeios de fim-de-semana – Bouillon, Bélgica

(onde se mostra que vale a pena conquistar um adolescente arisco)


Não é fácil arranjar programas de fim-de-semana que agradem a todos. Programas low-cost, bem entendido.

Pronto, eu reformulo… não é fácil arranjar programas de fim-de-semana low-cost que agradem ao adolescente cá da casa. Primeiro, porque os nossos programas são uma seca. Segundo, porque é uma seca percorrer grandes distâncias de automóvel. Terceiro, porque é uma seca ter de anular os seus próprios planos, muitíssimo mais interessantes. Quarto, porque nós somos uma seca e o envergonhamos frequentemente em público. Quinto, porque o Vasco é uma seca e não se cala um minuto. Sexto, porque tem de estudar. Este último argumento só é utilizado em casos de extrema necessidade, dado ser passível de prova cabal. E toda a gente sabe que uma tarde de estudo intenso é uma seca.

O grande desafio é conseguir arrancá-lo de casa sem rosnar. Morder, o Diogo não morde. Mas rosna. Ou seja, nunca se recusa a vir passear connosco, mas protesta imenso e faz questão de mostrar que vai contrariado. Cara fechada, braços cruzados, pés de chumbo. Fones enterrados nas orelhas e respostas monossilábicas. E isso irrita-nos de sobremaneira, porque ele acaba sempre por gostar dos passeios que fazemos. Invariavelmente, terminamos o dia com um abraço efusivo e um agradecimento sentido. Parece um bocadinho esquizofrénico, mas já percebemos que não há nada a fazer. Adolescência oblige.

Embora eu esteja plenamente consciente desta particularidade adolescentezóide, custa-me sempre um bocadinho esgrimir argumentos e tentar convencê-lo. Portanto, esforço-me por desencantar programas que o façam sair de casa já de sorriso estampado na carantonha borbulhosa. É muito mais agradável para todos, porque quando o Diogo está entusiasmado é um companheiro de aventuras divertidíssimo. Embora seja absolutamente esgotante para nós… Quando gosta de uma coisa, é tudo maravilhoso. Até a merda de cão que pisa. E não se cansa de o repetir até à exaustão para quem o quiser ouvir. E mesmo para quem não quiser. Ri-se a bandeiras despregadas. Dá abraços de urso. Tem uma fome de leão. Anda a uma velocidade louca. Fala sem parar do que vê, do que quer ver, do que ainda não viu, do que se calhar não vai ter tempo para ver. É extenuante, mas delicioso. Um adolescente feliz é como uma aberta de sol num dia de tempestade. Um arco-íris perfeito, muito bem desenhado de uma ponta à outra.

E, no fim-de-semana passado, atingimos o nosso objectivo com um passeio a Bouillon. O meu amor conseguiu misturar os ingredientes todos necessários com sabedoria de alquimista: um local não muito longe de nós, um castelo medieval no cimo das nuvens, uma personagem histórica envolta em mistério, um espectáculo de aves de rapina num cenário feérico. E um jantar no chinês para finalizar, claro. Diz-se que foi desta terra pequenina que partiu Godefroy de Bouillon, um dos líderes da Primeira Cruzada, que recusou o título de primeiro soberano do Reino Latino de Jerusalém para dedicar a sua vida a proteger o Santo Sepulcro. Tantos séculos depois, o castelo está impecavelmente conservado: muralhas, caves, masmorras, torreões, passagens secretas, túneis, câmaras e antecâmaras. Passámos horas a calcorrear o castelo, a ver a paisagem de cortar a respiração, a subir e a descer escadas. Principalmente, a vê-los correr por ali felizes. Porque esta é uma das características mais engraçadas da adolescência: perante o cenário perfeito, aquela cabeça mergulha de imediato em histórias de cavaleiros e desata a brincar como um miúdo.

Acho que as imagens falam por si…

























4 comentários:

  1. Acho que vou começar a tomar notas para quando tiver de lidar com os meus adolescentes, em jeito de cábula.
    (lembro-me tão bem de achar tudo uma seca, coitados dos meus pais)

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  2. Um dia destes, escrevo uma cábula para memória futura sobre como lidar com criaturas adolescentes em tua honra, Gralha! :)

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  3. O tempo só não passa por ti, gaja... Os miúdos estão irreconhecíveis!

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  4. Ó pá... ó pá, Mel... Já me fizeste ganhar o dia! A malta bem pode dizer que se está a lixar para a passagem do tempo, quando se começam a aproximar os 40 sabe sempre bem o elogio. :)

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