(porque
ontem descemos à cidade a dois)
O
Diogo e eu sempre tivemos um “dia mãe-filho”. Não me lembro bem como é que este
dia surgiu, mas sei que foi muito antes do nascimento do Vasco. São momentos privilegiados
a dois. Não é preciso fazermos nada de especial, basta estarmos juntos. Longe
da rotina habitual. Sem horários, nem obrigações. É um tempo para falarmos de
coisas sérias e de coisa nenhuma. Para rirmos. Para nos mimarmos. Para
cuidarmos desta nossa relação mãe-filho, que vai crescendo com o Diogo. Uma
relação que amadureceu muito com a entrada do filho crescido na adolescência.
Às vezes, sinto necessidade de fazer uma espécie de ponto de situação. Nem
sempre os ouvidos que o ouvem lhe conseguem prestar a atenção merecida… no meio
dos trabalhos que acumulo, da traquinice do irmão, das horas de estudo, das idas
e vindas das actividades e do jantar que está ao lume. Por isso, é bom parar
para o ouvir com ouvidos de gente. Para olhar para ele com olhos de ver. Há
quem faça risquinhos na parede para assinalar o crescimento das crianças, eu
faço regularmente o “dia mãe-filho”. A única diferença é que o encosto a mim e
faço um risquinho no coração.
Entretanto,
apareceu a coisa pequena. O conceito alargou-se. Passámos a ter o “dia
mãe-filho grande” e o “dia mãe-filho pequeno”. Depois, apareceu o meu amor, que
também exigiu ter momentos exclusivos. O Diogo chamou-lhe “le jour
beau-père-beau-fils” e assim ficou, apesar de normalmente não durar um dia
inteiro como os nossos. O meu amor não tem a minha paciência para andar a ver
as lojas que mais lhes agradam, nem a coragem de almoçar num fast-food. Quase sempre, o dia dele é
composto por passeios, experiências ou maluquices envoltas nalgum secretismo que
me ultrapassa.
Ontem
foi “dia mãe-filho grande”. Aproveitámos o Vasco ainda estar em aulas e o Diogo
já ter acabado a sessão de exames, para passarmos algum tempo juntos. Fomos até
Liège para ele fazer as compras de Natal. Gosto de aproveitar a viagem de carro
para conversar. Fica a dica, porque nem sempre é fácil falar com um adolescente:
dentro de um carro não dá para fugir ou arranjar pretextos para desviar a
conversa. Desta vez, não foi preciso. Esteve duas horas a falar sem parar,
enquanto ouvíamos Vivaldi. À ida, falou das aulas de órgão, a sua nova paixão;
à vinda, da programação 2016 da Opéra Royal de Wallonie. Em Liège, passámos a
tarde a ver lojas e demos uma voltinha pelo mercado de Natal. Todos os sítios
eram motivo para tagarelar: os jogos que gosta, os livros que anda a ler, as
séries preferidas, o estilo de roupa que agora lhe agrada. Os planos para o
futuro. Só não comprou mais prendas para o Vasco, porque eu não deixei. É tão
bom assistir ao crescimento desta relação de irmãos! De vez em quando,
agarrava-se a mim a dizer o quanto me adora. A agradecer-me pelo dia, que
estava a ser fantástico. E a lembrar-me que, no dia seguinte, tínhamos a antestreia
do novo filme do Star Wars. E eu ria, feita parva. Porque gosto mesmo destes
momentos a dois. Gosto de redescobrir este filho mutante. Porque tenho noção de
que estas declarações de amor têm os dias contados. E tenciono aproveitá-las ao
máximo.
Gostava de fazer o mesmo mas o máximo que consigo é, de vez em quando, ir levar só um deles à escola. Quando o fazemos, sabe-nos muito bem mesmo. O problema é que os dois padecem de mãezite extrema e nenhum está disposto a dispensar-me, só me deixam fugir para correr na floresta :)
ResponderEliminarÉ mais fácil quando eles já são crescidos e as actividades começam a ser diferentes. Mas olha que, por estranho de possa parecer, os ciúmes entre eles e a luta pelo território materno começaram há pouco tempo...
EliminarPS: Se eu lhes dissesse que ia correr para a floresta, mandavam-me internar de certezinha! ;)
Eu comecei a fazer isso depois do filho pequeno aparecer, porque sei o quanto é importante para ele, mas principalmente para mim. Infelizmente gostava de ter mais oportunidades de o fazer...
ResponderEliminarExacto, Naná... a questão é mesmo que isto também é importante para nós!
EliminarTu és uma mãe fantástica e estás a educar dois homens bons!
ResponderEliminarMesmo que a adolescência os apanhe em toda a sua esplendorosa parvoíce, as bases estão lá e o hábito do mimo, do amor, também!
God job, Ritinha, god job!
❤️
Ohhh... tão querida! Obrigada, Ana. :D
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