(porque, como disse Eduardo Lourenço,
“muda-se pouco na vida, mas a vida muda por nós”)
Seria
fácil mentir. Dizer que, aos 40 anos, decidi mudar de vida, porque a que tinha
não me preenchia por completo. Porque sou uma insatisfeita crónica. E abomino a
rotina. Ou porque queria algo mais. Porque sou corajosa e acredito que a sorte
protege os audazes. Porque era agora ou nunca. Só esta última frase é
verdadeira. Tudo o resto são desculpas bonitas para dar sentido a mais um
tropeção da vida. Estou tão farta de mudanças e recomeços. Sinceramente,
ambicionava um pouco de paz para os anos vindouros. Mas o universo voltou a
conspirar. Baralhou as cartas todas e distribuiu-as outra vez. No entanto,
decidi que seria uma conspiração a meu favor, não contra mim. Como não confiar?
Até agora, todas as reviravoltas têm-me sempre sido benéficas. A ter de dar uma
justificação a tudo isto, prefiro acreditar que foi para meu bem. Para nosso
bem.
Também
seria fácil ser modesta. Ou desonesta. No mínimo, acomodada. Dizer que ambicionava
uma existência tranquila. Casamento morno e seguro. Casalinho de filhos. Emprego
das 9 às 5. Férias anuais no Algarve. Tudo isto é mentira. Sempre pensei que a
minha vida seria “algo mais”. Não sei bem o quê, mas mais. Não que achasse que
ia mudar o mundo, fazer uma qualquer descoberta científica ou escrever uma obra
literária grandiosa. Não que tivesse a certeza de que estava destinada a
grandes feitos. Mas as coisas teriam obrigatoriamente de ter um sentido
qualquer que me transcendesse. Que fosse importante. Se calhar, é um pensamento (ambição?) muito comum, não sei. Mas desde que me conheço como
gente que penso que a vida não pode ser só isto. Uma vidinha. Sendo ateia,
acredito que é aqui e agora que tudo tem de acontecer. E tem de acontecer bem.
Benzinho só, não me basta.
O
início do mês passado soube que o meu centro de documentação tinha morte
anunciada. Digo “meu” com um orgulho desmedido, porque fui eu que o construí de
raiz. Nunca me senti tão bem tratada e valorizada a nível profissional. Mas cortes
orçamentais vão obrigar ao encerramento da secção de Verviers. Para mim, era
impensável trabalhar na sede, em Bruxelas. Tal como era impossível assistir
impávida ao derradeiro final. Organizei a minha saída com uma frieza que nunca
pensei possuir. Não entrei em pânico, não verti uma lágrima. Primeiro, garanti
a minha segurança financeira a longo prazo. Minha e dos meus. Estrangeira ou
não, as regalias sociais funcionaram. O subsídio de desemprego não será uma
fortuna, mas dará para vivermos (mais algumas traduções que surjam). Depois, negociei
tempo. Tempo para pensar. Tempo para me organizar. Em Setembro, quando ficar
oficialmente desempregada, já tenho um plano delineado que me fará saltar a
etapa do centro de emprego. Porque este país assim mo permite. Vim viver para a
Bélgica para mudar de vida. É agora ou nunca. Decidi que estava na altura de dar
sentido a tudo isto. Quem diz que o sonho não se pode tornar realidade?
Depressa
percebi que a mente é uma fonte inesgotável de surpresas. De recursos. A partir
do momento em que decidi que ia realizar o meu sonho, as coisas começaram a
tomar forma. A fluir. A encaixar. Pensei muito. (Talvez por isso tenha escrito tão
pouco, nos últimos tempos.) E cheguei à conclusão de que, afinal, tenho vários
sonhos para cumprir a curto prazo. Quatro sonhos, para ser mais exacta. E
tenciono realizá-los todos no próximo ano. Mais uns quantos desvaneios que ando
para aqui a adiar há demasiado tempo. Por que raio deixei que a realidade se
impusesse à minha vontade de ser “algo mais”? Posso não conseguir, mas serei
suficientemente honesta comigo mesma para me dar uma hipótese. Se falhar, pelo
menos terei o mérito de ter tentado. Diz-se que o caminho se faz caminhando. Neste
último mês, comecei a correr. Literalmente. E em sentido figurado também. Nunca
pensei dizer isto, mas estou a adorar. Pelos vistos, no meu caso, o caminho
faz-se correndo. Não é que sinta que já vou tarde. Penso que comecei
exactamente quando estava preparada para isso. O universo teve de dar o
primeiro empurrão, confesso. Mas agora estamos alinhados e vamos ligeirinhos.
Estou segura de que iremos longe.
Espero que mantenhas o embalo!
ResponderEliminarEu aqui estarei, a ler as tuas palavras (sempre tão bem escritas) enquanto penso «Catano, também queria ser assim, corajosa!»
:)
Isto não é bem coragem, é mais dançar ao sabor da música... :p
EliminarNão importa o que lhe chamas! Importa que fazes acontecer e pronto! :)
Eliminar♥ ♥ ♥
EliminarForça aí!
ResponderEliminarQuando isto estiver tudo a andar, aposto que vais querer fazer-nos uma visita com o Sebastião! :)
Eliminar