segunda-feira, 14 de julho de 2014

Férias de Verão sem mar

(mas onde se apanham conchas)


Recomecei hoje a trabalhar. Felizmente está um dia frio, cinzento e chuvoso. Como os quinze dias anteriores, diga-se em abono da verdade. Não se pode dizer que tenham sido umas férias de sonho, mas fartei-me de fazer coisas que se andavam a amontoar desde a mudança de casa. Coisas úteis, entenda-se. Coisas que, não sendo “tipicamente de férias”, me deixam uma sensação de dever cumprido. Tipo fazer a declaração de impostos. Quatro dias antes do prazo limite, antecipação nunca antes vista por estas bandas. Fazer cortinas para os nossos quartos. Percorrer lojas de velharias e feiras da ladra para desencantar verdadeiros achados. Passar dias inteiros a recuperar móveis, no meio do cheiro das tintas que eu adoro.

Estas férias foram marcadas pela clivagem crescente entre os meus filhos. O pequeno a brincar feliz no quintal com um sabre de luz, a fazer amigos, a aprender a jogar xadrez, a passar horas no quarto a brincar com os Legos, a dar passeios de mão dada connosco, a ver os animais. O grande trancado no quarto a ouvir música… hum… ruidosa. A devorar livros e séries. E quilos impressionantes de comida. A fugir de passeios familiares. A fazer programas com os amigos no Facebook. A ir pela primeira vez de férias sozinho para o estrangeiro. Foi estranho passar estes dias de férias em casa a vê-lo crescer mais um bocadinho diariamente, a tornar-se borbulhoso e resmungão. Respondão. Mas quando me faz um sorriso ternurento e me pede num tom melado: “Mãe, beijinho…”, percebo que o amor que nos une serve de alicerce sólido para este tumulto juvenil. E quando o apanho deitado na cama do Vasco a atazanar-lhe o juízo, compreendo aliviada que, por mais que cresçam, não conseguem viver um sem o outro. Os irmãos.

E, no meio de tudo isto, o tempo a dois. Roubado discretamente ao tempo passado a quatro. Um tempo de ternura e cumplicidade. De acordar com calma e muitos beijos. De conversas intermináveis noite dentro. Passeios de mão dada. Um tempo de gratidão por esta presença sólida e constante nas nossas vidas, que me impede de vacilar. Que me faz rir à gargalhada. E me ensina todos os dias mais alguma coisa. Que me diz tantas palavras bonitas. “Sou a tua concha”, sussurrou-me o meu amor uma manhã. “A concha que sofre o primeiro embate e o ampara para te proteger.” Sim, estas férias apanhei uma concha sem sequer ter visto o mar.

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