(porque afinal os patos voam, o melhor é caçar ovelhas)
Há
cães que nasceram para sofrer. Cães que sofrem os horrores da tentação da
carne. Literalmente da carne. Cães que vivem em desassossego por causa dos
gatos que ousam passear dengosos pelos seus novos domínios. Cães que sabem que
atrás da porta da casinha no quintal se escondem impunemente o coelho, o
porquinho-da-índia e o hamster. Cães que têm de se deparar com patos a nadar
tranquilamente no lago quando passeiam. Cães que, dia após dia, convivem o
melhor que podem com a tentação ambulante. Tentação com patas. Tentação com penas,
pêlo… e lã. Como se esta provação não fosse suficiente, há cães que assistem
impotentes ao desembarcar de um rebanho de ovelhas mesmo à frente do seu
território. E que as ouvem balir todo o santo dia. A gozar com ele. A
provocá-lo. A atiçá-lo.
Ninguém
compreende estes cães. A única solução é serem pacientes. Têm de esperar por um
momento de distracção humana para poderem fugir por um buraco discreto.
Cães que mal acreditam nos seus olhos, quando avistam o rebanho protegido por
uma simples cerca. Cães que percebem tarde demais que a dita cerca está
electrificada. Com uma voltagem ajustada para animais com mais 150 quilos do
que eles. Cães destemidos que, após um choque fortíssimo, insistem
corajosamente em correr atrás do rebanho. A ganir, com a língua de fora e a
perna maluca aos saltos. Cães que finalmente conseguem isolar e arrebanhar um
bicho oito vezes o seu tamanho. Que fazem o seu trabalho. E que – cúmulo dos
cúmulos – sabe-se lá porquê, ainda têm de suportar os gritos histéricos dos
donos e os insultos. Cães fortes, que não se deixam intimidar nem influenciar
por nada, nem por ninguém. Cães com personalidade. Carisma. Que preferem ser arrastados
novamente até à cerca maldita a largar a presa que tanto trabalho deu a apanhar.
Há cães que ficam colados à cerca a tremer com espasmos até um ser humano furioso,
mas apiedado, lhes deitar a mão. Há cães que depois de um esforço inimaginável
são forçados a largar a presa e a serem trazidos ao colo para casa. A
humilhação suprema.
Há
cães que nasceram para sofrer, condenados a passar ao lado de uma grande
carreira de caçadores. Cães incompreendidos. Cães infelizes.
Até parece que consigo ouvir os cat-lovers todos a ler este post e a sentenciar (novamente) que os cães são animais mesmo estúpidos. E não são. São só muito, muito, muito fixados na sua gana de trincar um bife. (são realmente um bocado totós, pronto)
ResponderEliminarTotós, nada! Continuo a ter muito mais respeito por um animal que quase se mata a perseguir presas verdadeiras, do que outro que fica horas a perseguir reflexos luminosos nas paredes... :)
ResponderEliminarAcho que conheci um exemplar dessa matilha...
ResponderEliminarE tenho a certeza de que o exemplar que conheceste ainda se recorda de ti com muitas saudades. Principalmente dos passeios matutinos e das maratonas a traduzir! :) Amigos como tu valem ouro, Pato.
ResponderEliminar