(porque
do turbilhão adolescente, às vezes, emerge um ser adulto)
Estava
a regar as plantas, quando o Diogo reparou num vaso novo e me perguntou de onde
é que aquilo tinha vindo. Expliquei que tinha trazido do trabalho. Que estavam
a renovar os gabinetes e que iam deitar a planta fora. E que tive pena, porque
até era bem bonita. Riu-se e comentou que eu aproveitava tudo. Mas é que era
mesmo tudo. Divertido, pôs-se a enumerar as coisas todas que eu já trouxe do
meu trabalho… Um dos móveis recuperados da sala. As nossas fichas triplas. O candeeiro da secretária do Vasco. Uma cadeira antiga. Concordei. Nem sequer
perdi tempo com grandes teorias sobre a arte do relooking ou do DIY, que fazem com que o reaproveitamento pareça
uma cena em voga cheia de estilo. Lembrei-o de que, quando aqui chegámos, não tínhamos
nada. Nada de nada. Em dois anos e meio, temos uma casa de quatro andares mobilada.
Ele continuava a rir. “Mobilada com coisas apanhadas no lixo.” Certo… mas um
lixo internacional, caraças. Desencantámos móveis na Bélgica, na Alemanha e na
Holanda. Fora tudo aquilo que nos foi generosamente oferecido pela família,
amigos, vizinhos e até gente estranha. Os móveis que descobrimos em feiras,
ferros-velhos e vendas de garagem. Um bric-à-brac
a quem oferecemos uma vida nova. Uma segunda oportunidade. Tal como nós,
acrescentei. Nós também estamos a viver uma segunda vida, que construímos do
zero. Esta casa foi feita aos poucos, à nossa imagem.
De
repente, o Diogo largou novamente a rir. Eu continuava absorta nas minhas
lembranças e não percebi. Ele apontou para a botija de água quente do Vasco com
que eu estava a regar as plantas. “Até a água fria da botija aproveitas, mãe!”
Sorri. E disse-lhe que achava que o mundo seria um lugar muito melhor se as
pessoas tentassem aproveitar o que as outras já não querem. A quantidade de
lixo que se evitava… Ele aproximou-se, desengonçado, e abraçou-me. Disse-me que
o mundo seria um lugar muito melhor se houvesse mais pessoas como eu. Fiquei de coração
cheio.
<3
ResponderEliminarE seria.
E ele tem toda a razão!
ResponderEliminarAliás, seria um desperdício de água... que é um bem extremamente essencial!
Tomara mesmo que muitos fossem como tu.
Os meus pais faziam isso, e na altura eu não achava graça nenhuma. Hoje em dia, vejo que eles é que estavam certíssimos!
:) sem mais comentários
ResponderEliminarAproveito para vos desejar um Feliz Natal e que o ano de 2015 seja repelto de Saúde, Paz e muitos momentos felizes.
Obrigada, Isabel. Boas festas!!! Tudo de bom para 2015!!! Beijinhos.
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