domingo, 28 de dezembro de 2014

Amanhã

(ou o desabafo)

 
Amanhã, chegam os meus filhos. Depois de uma semana de ameaças, de chantagens, de incerteza, de medo. Depois de uma semana de guerra, que nos deixou exaustos.
 
Aliás, se pensar bem, depois de uma semana igual a todas as outras no último ano. A nossa vida é isto. Nunca aqui o disse, mas a nossa vida também é isto. Vivemos sob fogo inimigo. Permanentemente. Somos controlados, espiados, ameaçados. Amedrontados. Recebemos telefonemas às horas mais estapafúrdias que nunca atendemos. Recebemos sms acusatórios e intimidantes aos quais nunca respondemos. E e-mails ofensivos que infelizmente não podem ficar sem resposta. Dizem incessantemente que sou louca, desequilibrada, descompensada. Mentirosa. Que vivo numa qualquer realidade paralela feita à imagem da minha pobre existência. Que sou má mãe. Que vou perder os meus filhos.
 
Dizem-me que vou perder os meus filhos para sempre.
 
Amanhã, chegam os meus filhos comprados, deslumbrados. Alienados. Que demoram sempre a regressar à normalidade. Que trazem os braços e as malas cheias de prendas. Muitas prendas. Prendas pagas a peso de ouro, disseram-me. Nada tenho para lhes dar que faça frente a isto.
 
Excepto talvez o nosso amor imenso. Incondicional. A família unida. Os amigos fiéis. Os passeios que gostamos sempre de fazer com eles. Para lhes dar mundo. Contra ventos e marés, vamos vivendo como podemos na esperança de que o amor e o mundo que temos para lhes oferecer seja suficiente.

3 comentários:

  1. Eles já estão crescidos. De certeza que têm cada vez mais consciência do que é fundamental, no que toca à família e ao amor. Boa reunião e que o próximo ano seja mais tranquilo.

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  2. Será como diz a gralha. Eles saberão, cada vez com mais certeza, do que é realmente importante! Beijinho

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  3. Esperemos, esperemos... a maturidade é uma coisa que demora muito mais do que sempre pensei a adquirir.

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