(onde se mostra
que na dificuldade nasce a cumplicidade)
Estes
têm sido dias de muito trabalho. Ainda não consegui alcançar um equilíbrio
entre as minhas diferentes ocupações. Melhor dizendo, entre o meu trabalho no centro
de documentação e as traduções. Desde que voltei à tradução e legendagem,
mantive apenas as aulas de Espanhol. Tudo o resto, tive de deixar para trás.
Não há tempo para tudo. Não há tempo de qualidade para tudo. E tive de fazer
opções. Fui fiel a mim mesma, optei pelo que mais prazer me dava. Pelo que sei
fazer melhor. Talvez não seja o mais seguro, nem o mais rentável. Não será
certamente o mais previsível. Passo a vida a organizar e reorganizar os meus
dias, em função do trabalho que aparece. A esticá-los. A rentabilizá-los. A
torná-los úteis, da única maneira que sei: tornando-os alegres. Sérgio Godinho cantava “a alegria é o que nos torna os dias úteis”. Não podia concordar mais.
Tenho
a obrigação de compensar os meus filhos pelo isolamento familiar que lhes
impus, quando emigrámos. Não basta ser uma boa mãe. Não basta ser uma mãe
presente. Tenho a obrigação de lhes mostrar que aqui, neste país, podemos
efectivamente viver melhor. Materialmente, a nossa vida deu um salto
qualitativo: tenho um emprego seguro e outro como independente, ganho mais
trabalhando bastante menos, tenho uma enorme flexibilidade de horários, fazemos
férias no estrangeiro várias vezes por ano, vivemos numa casa incomparavelmente
maior, com quintal, consegui comprar um carro novo, que daqui por seis meses
estará pago, dou uma excelente educação aos meus filhos.
Felizmente,
os nossos dias úteis não se esgotam nas vantagens económicas. Embora seja importante
que eles tenham consciência da sorte que temos (e que percebam que essa “sorte”
dá imenso trabalho), penso que é muitíssimo mais importante que aprendam a
disfrutar da viagem, por assim dizer. O caminho para chegar até aqui tem sido
longo, mas é uma aventura que temos vivido todos juntos. Não foram só os
rapazes que cresceram nos últimos anos. Desta vez, quando recomecei a trabalhar
como freelancer ninguém acusou o
embate, muito pelo contrário. Festejámos mais uma meta alcançada, enquanto
família. Sou uma empresa, oficialmente. Isso implica passarmos menos tempo
juntos? Claro que sim. Mas é largamente compensado pela margem de segurança
financeira, pelo crescimento profissional, pelo orgulho de darmos mais um passo
em frente. Um passo colectivo. Porque o Diogo às vezes vai buscar o irmão à
escola. Porque o Vasco tem de abdicar de “tempo de mãe”. Porque o meu amor faz
aquilo que poucos homens fazem… faz de mãe. Tornámo-nos mais flexíveis.
Alargámos os dias. Os dias úteis, porque felizes.
Este
último fim-de-semana foi passado a trabalhar. Mas, no sábado à tardinha,
enfiámo-nos a correr no carro e fomos todos ao cinema. Como acabou tarde,
prolongámos a loucura e fomos jantar fora. O improviso soube-nos pela vida. Os
miúdos ficaram felizes, os adultos revigorados. No Domingo, levei-os comigo
para o trabalho. A associação onde trabalho festejou antecipadamente o dia da
Trissomia 21. O Diogo passou a tarde a trabalhar como voluntário e foi
incansável. O Vasco conseguiu desafiar uma menina especialmente difícil para
brincar. Indiferente ao facto de ela ser quase adulta e deficiente. Senti
orgulho neles. Principalmente quando as minhas colegas nos elogiaram a notória cumplicidade.
De todos os elogios que nos podiam ter feito, este foi sem dúvida o melhor.
Somos cúmplices. Senti orgulho em nós. A empresa dos dias úteis.
E eu sinto um grande orgulho nos seus feitos...os do coração e os que mostram como foi certa a sua decisão de ir pela Europa acima e ser uma empresária de sucesso no ramo dos dias úteis! E a cumplicidade com os seus rapazes é tão evidente, não há que enganar! Beijinhos, Rita!
ResponderEliminarObrigada, Mariana. Beijinho grande.
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