(onde nos apaixonamos perdidamente por um bebé gorila
e passamos a seguir ansiosamente 33 outros gorilas)
Este Natal, ofereci ao Vasco o apadrinhamento vitalício de um bebé gorila da Dian Fossey Gorilla Fund International, a associação fundada por Dian Fossey para proteger os gorilas da montanha. A bem dizer da verdade, Kundurwanda já não é bem um bebé, pois fez três anos em Outubro, uma idade importante para os gorilas. As mães só engravidam a cada três ou quatro anos, quando as crias deixam de mamar e se tornam mais independentes. Kundurwanda está, então, prestes a entrar na idade da parvoeira, tal como a nossa coisa pequena.
Juntamente com o certificado de apadrinhamento e uma fotografia, o Vasco recebeu também o historial de Kundurwanda, que significa "Love Rwanda". O pequeno gorila da montanha vive no Parque Nacional dos Vulcões, no Ruanda, vigiado 24h/dia durante todo o ano. É o segundo filho de Ishema que, em 2006, integrou o grupo Pablo, tido como um dos maiores. Neste momento, o grupo conta com 33 gorilas. O líder é o famoso Cantsbee, um dos mais velhos gorilas “costas prateadas”. Foi a própria Dian Fossey que o baptizou, quando percebeu que o gorila que andava a observar era, na realidade, uma fêmea ao vê-la dar à luz… “It can’t be!”, terá ela exclamado. Cantsbee tem protagonizado algumas histórias engraçadas ao longo dos anos. Não só tem contribuído imenso para a proliferação da espécie, como toma conta dos membros mais novos do grupo com um cuidado inusitado. Consta que uma vez surpreendeu um dos guardas por estar especialmente maldisposto e violento para com os pequenos gorilas. Quando finalmente conseguiu afugentá-los a todos, levantou-se e afastou-se do local. Nessa altura, o guarda percebeu que ele tinha estado o tempo todo sentado ao lado de uma armadilha, para proteger as crias do grupo.
Quando o Vasco apadrinhou o Kundurwanda, o grupo estava a passar por uma fase bastante complicada. Cantsbee tinha desaparecido misteriosamente, uma manhã. Várias equipas tentaram seguir-lhe o rasto, nos dias seguintes, sem sucesso. Cantsbee parecia ter-se, pura e simplesmente, evaporado. Dada a sua vetusta idade, a organização pensou que teria ficado para trás, numa das últimas movimentações do grupo, acabando por morrer. Os dias seguintes foram atribulados, pois o grupo acusou o choque do desaparecimento do seu líder. Alguns jovens gorilas acabaram por se afastar, criando diversos sub-grupos. Gicurasi, filho de Cantsbee e presumível pai de Kundurwanda, parecia ter assumido a liderança do grupo de forma pacífica. O grupo manteve os seus cinco “costas prateadas”, diversos machos e fêmeas de diferentes idades, seis jovens e sete bebés. Consta que Kundurwanda é um dos mais activos, sendo muitas vezes visto em grandes momentos de brincadeira e cumplicidade com o irmão adolescente, Imfura.
Cá em casa, apaixonámo-nos de imediato por Kundurwanda. E passámos a seguir atentamente à distância a vida dos gorilas do grupo de Pablo. Também nos interessámos por aprender mais sobre esta espécie em vias de extinção. Ficámos a saber que partilham entre 98 e 99% do nosso ADN, sendo os nossos parentes mais próximos. Para além disso, todos os gorilhas partilham o nosso grupo sanguíneo B e têm uma impressão digital única. A esperança média de vida oscila entre 30 e os 50 anos, atingindo a maturidade sexual relativamente tarde, por volta dos 12 anos. O tempo de gestação é de 8 meses e meio. São animais herbívoros extremamente inteligentes, capazes de aprender linguagem gestual e de usar ferramentas na natureza, inclusivamente como armas.
Na semana passada, a Dian Fossey Gorilla Fund International enviou ao Vasco o relatório trimestral sobre o afilhado. Kundurwanda está bem e recomenda-se. Já começou a tornar-se mais independente, passa muito tempo com os membros mais jovens e parece estar pronto a abandonar a amamentação. Na fotografia que enviaram, podemos ver um garboso gorila, que encheu de orgulho o padrinho. “Está mesmo crescido!”, comentou o Vasco, embevecido. Ficou especialmente satisfeito por ler que Kundurwanda tem tudo para vir a tornar-se um futuro líder. Aliás, a grande novidade sobre os gorilas do grupo de Pablo diz respeito precisamente à liderança: Cantsbee regressou misteriosamente em Janeiro! Vindo sabe-se lá de onde, o velho gorila retomou as suas normais actividades no seio do grupo, como se nada fosse. Felizmente, Gicurasi parece aceitar bem a situação e mostrou-se disposto a partilhar a recém-conquistada liderança do grupo, que entretanto se voltou a unificar. Nós cá vamos seguindo as aventuras de Kundurwanda, por quem já nutrimos um carinho especial. Pela primeira vez na vida, dei por mim a desejar fervorosamente ganhar o Euromilhões, para podermos fazermos uma expedição com a Dian Fossey Gorilla Fund International para ver os gorilas da montanha. Até lá, vamos consultando a página oficial e aguardando ansiosamente as notícias que nos chegam trimestralmente. O Diogo diz que isto se tornou a nossa novela mexicana e eu não podia estar mais de acordo. Tentámos explicar ao Belga o fascínio que os portugueses sentem pelas telenovelas, mas acho que não fomos bem-sucedidos. Mas foi ele que se lembrou de alugar o velhinho “Gorilas na Bruma” para vermos em família. Prevejo um mar de lágrimas…
Kundurwanda
Sem comentários:
Enviar um comentário